Na história do Império Britânico,
a Colônia do Cabo desempenhou um papel semelhante ao da Argélia no processo de
expansão colonialista da França, caracterizado pela imposição do domínio
europeu a populações nativas violentamente hostis ao “homem branco”. Por outro
lado, da mesma forma que a França pretendia que suas colônias africanas
formassem um bloco contínuo da Argélia até o vale do Níger, o objetivo da
Inglaterra era formar um grande eixo desde o Egito até a Colônia do Cabo.
A Guerra dos Bôeres. Richard Caton Woodville
No fim do século XVIII, os
ingleses haviam penetrado no sul da África, onde já estavam instalados os bôeres,
colonos descendentes de holandeses que se tornaram inimigos dos ingleses a
partir de 1795, quando foram obrigados a lhes ceder a Colônia do Cabo. Os
conflitos que se sucederam entre os ingleses e os bôeres forçaram estes últimos
a emigrar para as regiões do interior, onde haviam fundado em 1830 as repúblicas
de Natal, do Transvaal e de Orange, depois de expulsarem as tribos bantu que
viviam na região. Esse deslocamento em massa dos colonos bôeres ocorreu no período
compreendido entre os anos de 1834
a 1839, e tornou-se conhecido como great trek (“grande imigração”).
Mulheres e crianças bôeres num campo de concentração britânico durante a Guerra dos Bôeres
Em 1843 , a Inglaterra anexou a
república de Natal às suas colônias e, em 1881, tentou fazer o mesmo com a do
Transvaal. Desta vez, porém, encontrou forte resistência por parte dos bôeres,
que se rebelaram e derrotaram as forças inglesas na batalha de Majuba Hill. Diante
disso, o governo britânico preferiu ceder e reconhecer a autonomia das repúblicas
bôeres.
As principais companhias
mineradoras da África do Sul – a Beers
e a Goldfields of South África – eram
dirigidas pelo inglês Cecil Rhodes, que governou a Colônia do Cabo como
primeiro-ministro de 1890 a
1895 e cujo grande projeto político era consolidar a dominação branca no sul da
África a partir de uma aliança com os bôeres. Tal projeto, porém, fracassou em
virtude da descoberta de ricas jazidas de ouro no Transvaal, que atraiu para a
região capitais estrangeiros e milhares de imigrantes – os chamados uitlanders -, que eram, em sua maior
parte, súditos britânicos.
Em pouco tempo o número desses
estrangeiros superou por longa margem o dos bôeres, e isso fez com que o
governo do Transvaal, chefiado por Paul Kruger, adotasse uma série de medidas
preventivas no sentido de limitar os direitos dos imigrantes e, sobretudo, de
resistir às crescentes pressões por parte de Cecil Rhodes e do governo da Colônia
do Cabo. Conseguindo apoio externo, principalmente da Alemanha, os bôeres
prepararam-se para a resistência, movimento ao qual se uniu a república de
Orange. Em uma tentativa desesperada, Cecil Rhodes tentou promover uma rebelião
dos uitlanders, mas não foi bem
sucedido, o que representou o fim de sua carreira política.
Depois de resolver o problema do
Sudão egípcio, o governo britânico, chefiado por Chamberlain, procurou negociar
com os bôeres. As tentativas realizadas nesse sentido pelo alto-comissário da
Colônia do Cabo – Lorde Alfred Milner – não tinham, entretanto, o resultado
desejado. Em 9 de outubro de 1899, Paul Kruger exigiu a retirada das tropas
inglesas das fronteiras bôeres, fato que equivalia a u a declaração de guerra. Teve
início então o conflito, que durou três anos e terminou com a derrota dos bôeres.
Esses assinaram com os ingleses o Tratado de Verceniging (31 de maio de 1902),
o qual lhes assegurava, entre outras coisas, a futura autonomia administrativa
para suas repúblicas, a abolição dos direitos políticos das tribos nativas a
eles submetidas e o uso do holandês como língua oficial. Dirigida por Lorde
Milner, a reconstrução da Colônia do Cabo – devastada durante a guerra – foi rapidamente
realizada e, a partir de 1907, concedeu-se a prometida autonomia dos bôeres. Em
1910 foi fundada a União Sul-Africana (formada pela Colônia do Cabo e as repúblicas
de Natal, Transvaal e Orange), com base em um acordo que favorecia os bôeres e
continha os fundamentos do apartheid,
política de segregação racial cujo princípio era a superioridade dos brancos.
HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São Paulo: Abril Cultural, 1975. p.
183-184. Volume 5.
NOTA: O texto "A guerra dos Bôeres" não representa, necessariamente, o
pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a
construção do conhecimento histórico.
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