"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sábado, 10 de maio de 2014

A 1ª Guerra Mundial: Os Estados Unidos na guerra [Parte VII]

Soldados na floresta, Vilmos Aba-Novák

A revolução na Rússia agradou a Alemanha. A notícia de que um de seus três principais oponentes havia deposto armas era a mais animadora que se ouvia em Berlim, desde 1914. A paz no leste permitiria que um enorme número de soldados alemães se deslocasse para o front ocidental. Lá, finalmente poderiam vencer a França, onde o entusiasmo inicial pela guerra vinha se esgotando.

Presidente Woodron Wilson pedindo ao Congresso para declarar guerra à Alemanha, fazendo com que os Estados Unidos entrassem na guerra. Artista desconhecido

Naqueles meses de tumulto na Rússia, outra incerteza dizia respeito à neutralidade dos Estados Unidos. Seu presidente, Woodrow Wilson, era imprevisível. Muito talentoso, Wilson era filho de um clérigo presbiteriano e de uma mãe devotada que, assim como suas duas filhas mais velhas, dedicava cuidados um tanto exagerados ao garoto. Cresceu nos estados do sul durante e após a Guerra Civil norte-americana, mas seu talento não foi detectado prontamente, devido a doenças que tivera durante a infância. Na Princeton University, deu sinais de originalidade (característica que os examinadores nem sempre reconhecem), mas nenhuma amostra de brilhantismo. Quase foi advogado em Atlanta, na Geórgia, retornando porém como professor a sua antiga universidade, onde assumiu em 1902 o cargo de reitor. Pregador leigo, quase seguindo os passos do pai, Woodrow demonstrava fluência, sinceridade, empatia e um leve nervosismo que, disfarçando a confiança suprema em suas opiniões, atraía os ouvintes. Como democrata, tornou-se governador de New Jersey em 1900. Menos de dois anos mais tarde, venceu a corrida presidencial dos Estados Unidos. Na política, havia subido como um foguete - foguete, como ele às vezes mencionava, guiado por Deus.


Trico para os soldados: High Bridge Park. George Luks

Em 1916, Wilson novamente disputou e venceu as eleições presidenciais. Tentou manter seu país neutro na guerra, mas não resistiu às frequentes provocações da Alemanha. Em abril de 1917, o Congresso concordou em declarar guerra contra os alemães. O exército norte-americano era pequeno e foi necessário treinar muitos recrutas. No começo de 1918, que acabaria sendo o último ano da guerra, apenas 175 mil soldados haviam chegado à França.

"A comida vai ganhar a guerra, não desperdiçe-a". Nova Orleans. Foto: Charles L. Franck

A Alemanha ainda podia vencer o conflito. Após os russos terem apelado por paz, o país transferiu soldados do front leste para o oeste, onde lançou uma ofensiva feroz que chegou a 70 quilômetros de Paris e então parou. Depois disso, suas chances de vitória foram se extinguindo lentamente. Talvez nenhum fator isolado tenha colaborado tanto para convencer os alemães de que a guerra estava perdida quanto um exército norte-americano que então totalizava 1,5 milhão de soldados. Tal tropa foi um fator decisivo para a derrota da Alemanha - não por aquilo que fez, mas por aquilo que poderia fazer.

Mulheres trabalhando em fábrica de material bélico, Midvale Steel, Nicetown, Pensilvânia, 1918. 
Fotógrafo desconhecido

Em setembro de 1918, os aliados da Alemanha decidiram que estavam fartos. A Bulgária assinou um armísticio separado, A monarquia austro-húngara estava em pedaços, e os iugoslavos, tchecos e húngaros formavam as próprias nações. No fim de outubro, os turcos firmaram uma trégua. Alguns dias mais tarde, o pedido de rendição do Império Austro-Húngaro foi aceito.

A Alemanha estava sozinha. Seus soldados ainda lutavam bravamente no front ocidental, mas nos primeiros dias de novembro de 1918 a vida civil na Alemanha se despeda;ava diante de tensões, privações e desesperança. No porto de Kiel, marinheiros alemães se amotinavam; na Bavária, ocorreu uma revolução socialista bem-sucedida; em Berlim, o imperador Wilhelm II abdicou. Em 11 de novembro – um dia de ignomínia para a Alemanha, porém desejado havia muito por outros países – um armistício foi assinado.

BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do século XX. São Paulo: Fundamento Educacional, 2011. p. 69-71.

NOTA: O texto "A 1ª Guerra Mundial: Os Estados Unidos na guerra [Parte VII]" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário