Apesar da aparente estagnação da
Europa medieval, o processo de evolução de sua sociedade não parou, criando-se
novas soluções para os problemas que a afligiam, embora em ritmo bastante
lento. Nos séculos XI e XII, por exemplo, a Europa conheceu um relativo
desenvolvimento econômico, graças ao aumento populacional ocorrido em suas
diferentes regiões. Embora a idéia de renovação contrariasse a mentalidade da época,
era necessário criar meios para alimentar, vestir e abrigar a população que
crescia.
Por volta do ano 1000, já fora
introduzido um sistema de atrelagem que permitiu um melhor aproveitamento da
tração animal, aumentando o rendimento do trabalho. Tal inovação, que
compreendia novos sistemas de arreios e a atrelagem de vários animais, em
linha, tornou possível também a utilização do cavalo, mais veloz do que o boi,
como animal de tração, para o transporte e nas atividades agrícolas.
Mês de fevereiro. Abel
Grimmer
Os progressos tecnológicos mais
importantes do período medieval foram o moinho d’água e o arado, difundidos a
partir do século XI. O moinho d’água já era conhecido na Ilíria desde o século
II a.C., mas escassamente utilizado. No Império Romano, por exemplo, a mó era
acionada por escravos ou animais. Também o arado de rodas já era empregado no século
I a.C., mas seu uso só foi aperfeiçoado durante a Idade Média, ao longo de um
lento processo.
Ao Ocidente medieval deve-se
ainda a difusão e o aperfeiçoamento de uma série de mecanismos, tais como o
parafuso, a roda, a catraca, a engrenagem e a polia. Por outro lado, a construção
de igrejas e castelos permitiu o desenvolvimento de alguns aparelhos, como
roldanas e certos tipos de guindastes rudimentares, que já eram conhecidos
desde a Antiguidade. A nobreza feudal, permanentemente voltada para atividades
guerreiras, favoreceu o desenvolvimento de novas técnicas na metalurgia, na balística
e outros setores ligados à produção de artefatos bélicos.
As populações medievais não incluíam
a tecnologia entre os valores de sua cultura. No entanto, as vantagens
oferecidas pelos engenhos mecânicos como poupadores de trabalho é mencionada em
alguns textos da época. No século XIII, um monge de Clairvaux chegou a escrever
um verdadeiro hino de louvor ao maquinismo. Acerca do moinho d’água do
mosteiro, dizia ele: “O rio não contradiz nem recusa nada do que se lhe pede. Levanta
ou abaixa, alternadamente, os enormes pilões, poupando ao homem uma grande
fadiga... Ele combina seus esforços com os nossos, e depois de haver suportado
o penoso calor do dia, espera apenas uma recompensa por seu labor: a permissão
de ir embora livre, depois de haver cuidadosamente cumprido tudo que lhe
pedimos...”
A madeira retirada dos bosques
era a principal matéria-prima utilizada na confecção dos artigos manufaturados
medievais. Além de sua importante função como combustível, servia para fazer
vigas de construção, tábuas para os telhados, mastros de navio, instrumentos
artesanais e agrícolas, calçados e toda espécie de utensílios. Os grandes
troncos eram muito raros e ansiosamente procurados. A madeira tornara-se tão
preciosa, que passou a ser encarada como símbolo dos bens terrestres,
constituindo um dos principais produtos de exportação do Ocidente para o mundo
muçulmano. Sua importância só se igualava à da pedra, que também era largamente
empregada, formando ambas o par de matérias-primas imprescindíveis às técnicas
de construção conhecidas na época.
Os arquitetos medievais
costumavam ser ao mesmo tempo carpinteiros e pedreiros, e os homens que erguiam
as construções eram qualificados como “trabalhadores em madeira e pedra”. A
partir do século XI, verificou-se uma progressiva substituição da madeira pela
pedra na edificação de igrejas, pontes e residências. Possuir uma casa de pedra
era sinal de riqueza e de poder; e, no final da Idade Média, o largo emprego da
pedra na arquitetura acompanhou a ascensão da burguesia.
O ferro, ao contrário da madeira
e da pedra, quase nunca era utilizado. Na verdade, tratava-se de material
bastante escasso, chegando mesmo a ser mencionado em documentos com o respeito
devido aos metais preciosos. A maior parte da produção medieval de ferro
destinava-se à fabricação de armamentos, o que era feito com o emprego de técnicas
helenísticas aperfeiçoadas pelos romanos. Entre outras armas, fabricavam-se
espadas de requintado acabamento, que passaram até a ser exportadas para o
Oriente. Em menor escala, eram produzidos alguns instrumentos agrícolas, tais
como foices, relhas de arado e pás.
HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São
Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 176-178. Volume II.
NOTA: O texto "Os progressos tecnológicos na Europa medieval" não representa, necessariamente, o
pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a
construção do conhecimento histórico.
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