"Arte rupestre da África é a herança comum de todos os
africanos, mas é mais do que isso. É patrimônio comum da humanidade.
"
Nelson Mandela
A pintura rupestre do continente africano constitui um valioso testemunho da mentalidade mágica dos povos pré-históricos. Suas representações transcendiam objetivos artísticos, cumprindo, primordialmente, um conjunto de funções mágicas de finalidade pragmática: a perpetuação da existência de caça abundante, o alcance do êxito nas guerras e a preservação da capacidade de reprodução da espécie humana. Seu estudo permitiu a reconstituição histórica da vida de povos caçadores, pastores e de civilizações que já haviam adotado a utilização da roda.
As sociedades africanas tradicionais assentavam-se sobre categorias de sexo, idade, relações de parentesco. As divisões baseadas no sexo abrangiam as tarefas e funções de grupo social, manifestando-se já no ritual de iniciação dos jovens e na participação em sociedades distintas e exclusivas. Em geral, cabia às mulheres a tarefa de cultivar a terra, o que as tornava responsáveis pela sobrevivência do grupo, tanto ao nível de subsistência imediata - assegurando a alimentação - como a longo prazo, pela reprodução da espécie. Aos homens pertencia o monopólio das relações com o sagrado e, portanto, a exclusividade das decisões que diziam respeito à coletividade.
Outro elemento regulador da sociedade africana tradicional foi a idade. As gerações apresentavam relações de dominação/subordinação, com preeminência dos mais velhos. Os anciãos possuíam grande prestígio. Existiam também classes de idade: a dos meninos, formada a cada sete anos na época da iniciação sexual; outra reunia os guerreiros solteiros, que só poderiam se casar quando atingissem a terceira classe de idade, por volta dos trinta anos. Todos esses grupos rigidamente estruturados, asseguravam o cumprimento das funções sociais mais significativas segundo as categorias de idade. A passagem de uma classe para outra exigia uma formação complementar, coroada pela realização de um cerimonial específico.
Quando o exercício do poder político é regulado por cerimônias e ritos, o fato geralmente provoca uma ativa criação artística. Tal pressuposto encontra confirmação na África, onde os mais importantes centros de manifestação artística desenvolveram-se junto aos grandes grupos tribais e reinos mais importantes: África ocidental e África central. O domínio do sagrado constitui também ambiente propício às manifestações artísticas. As representações dos ancestrais, os objetos e as máscaras utilizadas pelos membros de associações o atestam. A vida religiosa, assim como as práticas mágicas, é particularmente rica em símbolos materiais e rituais que estabelecem a relação com o sagrado.
Entre os povos primitivos é praticamente inexistente a distância entre o mundo da objetividade e o da subjetividade. Inserido em um ambiente do qual depende de maneira absoluta, o homem primitivo atribui à natureza uma força muito maior do que a sua. As doenças, a morte, os insucessos na caça ou na agricultura, a fome, a seca são acontecimentos que, a um tempo, o desafiam e o submetem. Ser pensante, o homem busca explicar, em termos religiosos, essa força que o domina. Nesse processo de adaptação entre o homem e a natureza, a realidade e a fantasia são fundidas, resultando no aparecimento dos elementos mais conhecidos das religiões primitivas: o culto aos antepassados, as práticas mágicas, o mundo dos espíritos, o animismo e o totemismo.
HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 31-35. Volume III.
Galeria de imagens:
Homem com arco e flecha e cão. Argélia
Gatos em combate. Líbia
Girafa e homens. Namíbia
Figura com atributos masculinos e femininos. África do Sul
Homens e girafas. Zimbábue
Cavalo e homem armado. Mauritânia
Guerreiro e girafas. Argélia
Tchitundu Hulu. Angola
Detalhe de duas pessoas copulando. Argélia
Mulher e cão. Malawi
Inscrição geométrica. Uganda
Homem lançando lança. Argélia
Figuras brancas com as mãos nos quadris. Tanzânia
Antílope. Marrocos
Homens e animais. Zimbábue
Rinocerontes. Botswana
Homem com arco. Argélia
Quatro homens correndo com equipamentos sobre os ombros. África do Sul
Vaca e animal simbólico. Somália
Camelo. Sudão
Crocodilo. Líbia
Dois homens nus com o pênis ereto. África do Sul
Guerreiro montado em cavalo. Chade
Leão, dois guerreiros com lanças e montados em cavalos. Abaixo, cães, uma mulher e um guerreiro. Nigéria
Arte rupestre. Mali
Homem sentado com as pernas cruzadas. Argélia
Camelo branco montado por guerreiro. Chade
Homem e vaca. Egito
Inscrição rupestre. Gabão
Vacas e bezerros. Etiópia
Elefante, homens e girafas. Quênia
Guerreiro. Nigéria
NOTA: O texto "Art rock made in África" não representa, necessariamente, o
pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a
construção do conhecimento histórico/antropológico.
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