Mais ou menos a partir de 1780
até 1820, a
arte neoclássica refletiu, nas palavras de Edgar Allan Poe, “a glória que foi a
Grécia / E a grandeza que foi Roma”. Esse reviver do austero Classicismo na
pintura, na escultura, na arquitetura e no mobiliário constituiu uma clara reação
contra o enfeitado estilo rococó. O século XVIII tinha sido a Idade das Luzes,
quando os filósofos pregavam o evangelho da razão e da lógica. Essa fé na lógica
levou à ordem e às virtudes “enobrecedoras” da arte neoclássica.
O iniciador da tendência foi Jacques-Louis
David (1748-1825), pintor e democrata francês que imitava a arte grega e romana
para inspirar a nova república francesa. Como assinalou o escritor Goethe, “agora
se quer heroísmo e virtudes cívicas”. A arte “politicamente correta” era séria,
ilustrando temas da história antiga ou da mitologia, em vez das frívolas cenas
de festa rococó. Como se a sociedade tivesse tomado uma dose excessiva de doce,
o princípio substituiu o prazer e a pintura deu apoio à mensagem moral de
patriotismo.
"Juramento dos Horácios", David.
Em 1738 , a mania da
arqueologia varreu a Europa, à medida que as escavações de Pompéia e Herculano
ofereciam a primeira visão da arte antiga bem preservada. A insistência da moda
nos modelos gregos e romanos às vezes se tornava ridícula, como aconteceu
quando seguidores de David, os “primitivos”, levaram literalmente a sério a idéia
de viver à maneira grega. Não só andavam de túnica curta, como se banhavam nus
no Sena, imaginando-se atletas gregos. Quando o romancista Stendhal viu os
guerreiros “romanos” nus na pintura de David “Intervenção das Sabinas”, foi cético.
“O mais ordinário senso comum”, escreveu ele, “nos diz que as pernas daqueles
soldados logo estariam cobertas de sangue e que seria um absurdo ir nu à
batalha em qualquer época da história”.
A estatuária em frisas de mármore
que lorde Elgin trouxe do Partenon de Atenas para Londres aguçou ainda mais o
apetite público pelo mundo antigo. “Glórias ao cérebro” e “grandeza grega” –
foi assim que o poeta John Keats descreveu os mármores. Os líderes das escolas
de arte e das academias reais francesa e britânica davam todo o seu apoio ao
movimento neoclássico e pregavam que a razão, não a emoção, devia ditar a arte.
Enfatizavam o desenho e a linha, que tinham apelo para o intelecto, em vez da
cor, que excitava os sentidos.
"Morte de Marat", David
A linha mestra do estilo
neoclássico eram figuras severas, desenhadas com exatidão, que apareciam em
primeiro plano, sem a ilusão de profundidade dos relevos romanos. A pincelada
era suave, de modo que a superfície da pintura parecia polida e as composições
eram simples, para evitar o melodrama do rococó. Os fundos, em geral, incluíam
toques romanos, como arcos ou colunas, e a simetria e as linhas retas substituíam
as curvas irregulares. O movimento era diferente do classicismo de Poussin, de
um século antes, pelo fato de que as figuras neoclássicas não se pareciam tanto
com as figuras de cera, mais se assemelhando a figuras dançando balé, mais
naturalistas e sólidas.
As antigas ruínas também
inspiraram a arquitetura. Clones dos templos gregos e romanos se multiplicaram
da Rússia à América. O pórtico do Panteon de Paris, com colunas e cúpula coríntias,
copiava exatamente o estilo romano. Em Berlim, o portão de Brandenburg era uma
réplica da entrada da Acrópole de Atenas, com uma carruagem romana no alto. E
Thomas Jefferson, quando servia na França como embaixador, admirou o templo
romano Maison Carrée em Nimes “como um amante olha para a amada.” Depois
redecorou sua casa, Monticello, no estilo neoclássico.
STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. p. 68.
NOTA: O texto "Neoclassicismo: febre romana" não representa, necessariamente, o
pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a
construção do conhecimento histórico.
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