Boadiceia. Esta rainha que ousou revoltar-se contra a ocupação romana é um exemplo da participação das mulheres celtas nos combates. Litografia do século XIX.
Em meados do século I de nossa era, na Bretanha (atual Grã-Bretanha), ocupada em parte pelos romanos, restam ainda reinos vassalos, como o dos icenos (Norfolk e Suffolk). Seu rei Prasutagus, à sua morte (por volta do ano 60), deixa um testamento instituindo como herdeiros suas duas filhas e o imperador Nero. Espera assim pôr seu reino ao abrigo dos ataques romanos. O que se produz é o contrário: os centuriões romanos devastam o país, despojam os nobres icenos de seus bens e reduzem à escravidão os parentes do rei. A rainha Boadiceia (ou Budica) é açoitada e suas duas filhas violentadas.
Esses ultrajes impelem os icenos à revolta, logo apoiados por outros povos celtas do Suffolk e do Essex. Aproveitando-se do fato de o governador da Bretanha, Suetônio Paulino, estar ocupado em subjugar a Ilha Mona (Anglesey), os bretões, comandados por Boadiceia, se apoderam de Camulodunum (Colchester), de Londinium (Londres) e de Verulamium (Saint Albans). Os habitantes dessas cidades são atrozmente torturados e mortos. Mais de 70 mil indivíduos são assim massacrados. Voltando às pressas ao saber da revolta dos bretões, Suetônio Paulino encontra o exército dos insurgentes a noroeste do país. No comando de 230 mil bretões, entre os quais muitas mulheres, Boadiceia, montada num carro de combate com suas duas filhas, dirige as operações. Sua aparência física tem do que surpreender os legionários: "forte e alta, assustadora até com seu olhar penetrante e sua voz rouca. Uma cabeleira volumosa de um vermelho ardente descia até a parte inferior de suas costas. Com o pescoço cingido com um pesado colar de ouro, estava vestida com uma túnica de todas as cores e um grande manto preso por um broche" (Dion Cássio). Apesar de superioridade numérica, os bretões, que combatem em desordem, não podem fazer frente à estratégia romana. Vencida, Boadiceia se envenena para não cair viva nas mãos de seus inimigos. Tal foi o fim da primeira heroína da Grã-Bretanha.
SALLES, Catherine (dir.). Larousse das civilizações antigas 3: das Bacanais a Ravena. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008. p. 264-265.
NOTA: O texto "A revolta de Boadiceia, rainha dos icenos" não representa, necessariamente, o
pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a
construção do conhecimento histórico.
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