O pobre era o indivíduo que não
tinha o necessário para garantir a própria subsistência: doente, inválido,
peregrino, idoso, viúva, órfão ou vítimas de crises. Além disso, existia uma
outra pobreza, “laboriosa”, que sobrevivia dificilmente abaixo dos limites da
indigência. Também havia os “pobres envergonhados”, ou seja, os
desclassificados que tinham vergonha de mendigar na rua. Esses pobres
apareceram no século XIII, no momento em que a economia monetária chacoalhava
as hierarquias antigas e aumentava a mobilidade social.
As sete obras de misericórdia, Pieter Brueghel, o Jovem
Esses diferentes exemplos dizem
respeito a uma pobreza “social”, assumida, involuntária. Mais havia na Idade
Média uma pobreza “religiosa”, escolhida, voluntária: a dos monges e eremitas,
que se afastavam do mundo e se aproximavam de Deus.
O cristianismo encontrou um lugar
central para a esmola na “economia da salvação”. A esmola apagava o pecado e,
com isso, era a melhor maneira de reconciliar-se com a misericórdia divina. O
pobre se tornava assim o interesse privilegiado. Mas a esse dever da esmola
deviam responder a prece e a paciência do pobre. Este devia aceitar seu estado
e não questionar a distribuição desigual de bens.
Por outro lado, subsistia uma
ambivalência na pobreza medieval, às vezes exaltada no discurso religioso e
desprezada na realidade social. Desse hiato entre pobreza-valor e
pobreza-estado, conclui-se a eficácia extremamente reduzida do elogio à pobreza
voluntária. E o discurso da Igreja, justificando a riqueza, serve para forçar
os ricos a fazer certa redistribuição de renda.
Pobreza. In: BETING, Graziella. Coleção história de A a Z: [volume] 2: Idade
Média. Rio de Janeiro: Duetto, 2009. p. 50.
NOTA: O texto "A pobreza no período medieval" não representa, necessariamente, o
pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a
construção do conhecimento histórico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário