Nas grandes cidades iluminadas, os centros das atividades do mundo de hoje, a força do céu noturno mal pode ser apreciada por causa do ofuscamento que as luzes da cidade provocam no céu. Além disso, novas explicações para os fenômenos humanos, tanto profanos quanto religiosos, têm praticamente suplantado as explicações baseadas nas estrelas, na lua e no sol. Mas, durante a maior parte dos anos da experiência humana, com registros históricos ou não, o céu noturno possuía um certo esplendor e uma certa magia. Quando as primeiras civilizações começaram a evoluir, os "objetos celestes" cada vez mais adquiriram um poderoso simbolismo.
Nômades Guilzai no Afeganistão, James Raftray
Nas tribos nômades e nos vilarejos rurais, os fenômenos metereológicos causavam grande medo. Na Tasmânia, vários aborígenes ficavam amedrontados com grandes tempestades. "Chuva forte durante a noite", escreveu um observador branco em 1831, "seguida de trovoadas ensurdecedoras e o lampejo vívido de raios, com os quais os nativos demonstravam um enorme medo". Na noite seguinte, a visão de uma "faísca elétrica" no céu escuro inspirava sentimentos de aflição. Talvez só o pensamento de ser atingido por um raio aumentava o medo. Lançando um olhar de nervosismo para uma árvore que havia sido despedaçada por um raio, eles se recusavam [...] a tocar a madeira exposta.
O céu noturno era um teto em forma de cúpula durante todos aqueles anos quando as pessoas praticamente dormiam sob as estrelas. As crianças eram ensinadas a observar a marcha regular das estrelas pelo céu à noite. Em raras ocasiões elas viam o céu escuro cruzado por luzes que passavam com grande velocidade. Algumas luzes eram estrelas cadentes visíveis por um ou dois segundos somente, e outras mostravam uma cauda impressionante de fogo. Os nômades caçadores e que viviam da coleta de alimentos eram grandes observadores do céu noturno [...].
Caçadores nômades da Mongólia com a águia dourada
Em todo o mundo, as pessoas dedicavam a atividade mental aos cometas e às estrelas. Poucos fenômenos eram mais excitantes para eles do que a visão de um meteoro em chamas caindo à noite. [...]
A ideia de que um meteorito ou uma estrela cadente era uma mensagem dos deuses parecia confirmar-se por seu barulho - bem como seu brilho incandescente - quando mergulhava na terra. [...] Em algumas sociedades, uma estrela cadente era vista como sorte e, em outras, como azar.
Os povos nômades, que viviam sob as estrelas, e os povos já estabelecidos em lugares fixos, que viviam sob os céus sem nuvens das primeiras civilizações do Oriente Médio, tinham toda a razão de observar o céu noturno. Numa noite sem lua, o céu era um tapete maravilhoso estendido sobre eles. Mudava de hora em hora, e os padrões das alterações eram observados e comentados. [...]
Família de lapões da Noruega. As renas tem sido criadas por povos nômades há séculos.
As primeiras civilizações a florescer ao longo dos rios Tigre e Eufrates acabaram continuando o endeusamento das estrelas. Com prática em astronomia, seus povos conseguiram prever muitos dos movimentos dos principais planetas e constelações e, por sua vez, acreditavam que tais movimentos os possibilitavam prever fenômenos humanos. Os babilônios chegaram até a aprender como prever um eclipse lunar bem antes de o eclipse acontecer.
O avanço da astrologia e o estudo da possível influência das estrelas e dos planetas sobre os fenômenos humanos é, hoje em dia, repudiada nos círculos intelectuais como uma simulação, mas havia uma lógica experimental nessa disciplina intelectual que acabou atraindo as melhores mentes das primeiras civilizações da China e do Oriente Médio. Se o sol podia moldar o verão e o inverno, e se a lua podia determinar as altas marés e moldar o calendário, por que todas essas forças tão poderosas não podiam também moldar os destinos dos humanos? [...]
[...]
A noite era o período em que as pessoas tinham sonhos cheios de alegria, apavorantes, calmos, familiares ou estranhos. A noite era vista por várias tribos como um reino misterioso e os humanos eram admitidos nesse reino enquanto dormiam. O sonho era a evidência dessa visita. No norte do Canadá, os povos nativos, próximos à baía de Hudson, acreditavam que, quando dormiam, suas almas saíam de seus corpos e, temporariamente, entravam em outro mundo. [...]
Dezenas de milhares de anos antes do surgimento dos sacerdotes e dos videntes, os sonhos vívidos devem ter sido recontados com admiração. A importância dos sonhos era um reflexo da importância da noite, quando os sonhos aconteciam. Em um acampamento simples, numa sociedade nômade, a presença da noite e a intensidade da escuridão praticamente dominavam. [...]
Os nômades não construíram grandes monumentos, não tendo pirâmides nem colunas de pedra imponentes, sem templos e sem faróis ao mar. Eram incapazes de cortar blocos pesados de pedra e carregá-los para longe, mas, de certa forma, eles não precisavam de monumentos. Um monumento é uma proclamação do que é importante, mas, para as pessoas que viviam há 15.000 anos atrás, o céu e a terra estavam repletos de monumentos, alguns visíveis somente para aqueles com olhos treinados.
Para algumas sociedades nômades, o céu era um monumento criado por seus próprios ancestrais; sua terra tinha sido criada da mesma forma. Cada colina e serra rochosa, cada detalhe da paisagem, tinha sido criado por seres quando começaram a viver na terra. [...]
[...] Foi Copérnico que [...] mais tarde, acabou fazendo a astrologia cair dos céus acadêmicos - mas não dos céus de cada pessoa, onde ainda permanece com bastante força.
BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. São Paulo: Fundamento Educacional, 2004. p. 33-37.
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