Os europeus estavam começando a dominar as Américas, mas a corrente de influências corria nas duas direções. Nunca antes, na história do mundo, haviam sido transferidas tantas plantas valiosas de um continente ao outro.
O milho era a mais notável das novas plantas, e Cristóvão Colombo, pessoalmente, transportou sementes de volta em seu navio. O milho tinha a impressionante capacidade de produzir, na época da colheita, muito mais grãos do que o trigo ou o centeio; [...] Em 1700, os pés altos e verdes de milho podiam ser vistos balançando ao vento na maior parte das zonas rurais da Espanha, Portugal e Itália.
A batata americana foi para o norte da Europa o que o milho representou para o sul. Os irlandeses acolheram bem a batata, pois em seus pequenos pedaços de terra, ela oferecia mais calorias do que qualquer outro produto. [...] a batata quente era o principal prato da população pobre da Irlanda. [...] Os alemães também se regozijaram com a batata, ao descobrirem que essa plantação, ao contrário de milho maduro, não era facilmente danificada ou destruída por exércitos violentos.
Nas plantações europeias, também podiam ser achadas outras novidades americanas: a batata doce, o tomate [...] e a alcachofra [...].
O peru, a única carne a ser trazida das Américas, também foi igualmente disfarçada por seu nome europeu. [...] Os perus, que mais rigorosamente falando deveriam ter sido chamados de "méxicos", já eram populares nas mesas da Espanha e Inglaterra, no Natal de 1573.
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Das Américas vieram presentes como o abacaxi, a ser comido somente na mesa dos muito ricos, a pimenta de Caiena (ou cápsico), o cacau e o tabaco. Como quase todas as novidades transatlânticas, o tabaco se espalhou aos poucos pela Europa [...].
As monarquias da Europa não tinham certeza de como controlar essa nova moda de fumar tabaco em cachimbos ou de cheirá-lo na forma de rapé; alguns reis tentaram bani-lo. Na Rússia, um fumante podia ser punido com a amputação de seu nariz. Outros países, que tinham colônias tropicais, tentaram proibir a plantação de tabaco em solo nacional para que pudesse ser cultivado nas colônias e importado através de um porto onde pudessem ser recolhidos impostos sobre cada lote de tabaco desembarcado. A Inglaterra estabeleceu colônias na Virgínia e Maryland, principalmente para o cultivo desse produto. [...]
O tráfico de minerais, no curto prazo, foi o comércio mais dramático do Atlântico. O primeiro presente para os espanhóis na América Central e do Sul foram o ouro e a prata. Uma vez que haviam conseguido total controle de seus territórios americanos e enviado trabalho forçado para operar nas minas, os espanhóis despachavam para casa, em comboios altamente armados, uma quantidade anual tão grande de ouro e prata que a inflação monetária começou a mexer com a Espanha e, em seguida, com a Europa. [...]
Nos primeiros navios que traziam metais preciosos, plantas e sementes valiosas pelo Atlântico, veio um outro turista: a doença da sífilis [...]. A sífilis tornou-se comum no século XVI [...].
As viagens europeias também abriram a Ásia para o mundo. Durante séculos, uma infinidade de produtos e plantas asiáticos atravessou toda a extensão da Ásia por terra, mas agora tudo fluía pelas rotas do mar. O chá da China encontrou seu caminho para a Europa, assim como a misteriosa porcelana e muitas outras manufaturas.
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Da China, vinham novas flores de jardim para a Europa. O crisântemo era a favorita. [...]
O Novo Mundo também deu aos ávidos europeus um prazer que não era comum: deu-lhes as cores vivas. Ainda em 1500, a maioria das cidades e vilarejos era fria em suas cores. As cabanas podiam receber uma mão de cal, mas raramente eram pintadas. As casas de madeira tinham uma aparência pardacenta, embora, na Holanda, os tijolos chegassem a dar um tom vermelho aconchegante. [...] Em muitas cidades, a pedra era naturalmente escura e, com o passar dos anos, até as pedras claras eram aos poucos descoloradas pela fumaça de madeira [...]. Em algumas catedrais medievais, os vitrais ficavam realmente bonitos quando o sol estava brilhando, mas essas cores eram destacadas exatamente porque a maioria das ruas da cidade não tinha brilho algum.
As roupas dos europeus eram geralmente pardas, exceto as usadas pelos ricos. Os artigos não eram embrulhados em cores vivas porque qualquer forma de embrulho era muito cara. Os papéis para embrulho eram pura extravagância e nunca coloridos. Faixas e bandeiras eram atraentes porque eram muito mais ricas em cor do que as roupas usadas pela maior parte dos cidadãos.
Um dos milagres das recém descobertas Américas foram as novas cores. Os mexicanos, bem antes da chegada dos espanhóis, haviam observado como um inseto sem asas, alimentando-se da planta do cáctus, e estando prenhe, continha uma cor escarlate de grande intensidade. Eram necessários 70.000 insetos mortos para produzir somente meio quilo de pó de cochonila, que, podia ser usado para criar tinturas das mais vivas. [...]
A rota marítima ao redor da África abriu as portas para uma fonte barata da cor azul. O índigo, planta da qual o mais fino azul era extraído, era cultivado em Bengala. [...] Por muitos séculos, consignações pequenas e caras da tintura do índigo, provavelmente da Índia, ocasionalmente chegavam no Mediterrâneo pela rota terrestre, mas agora começava a chegar em milhares de baús de madeira acondicionados em navios holandeses e portugueses. [...] Em pouco tempo, nos recintos mais elegantes de Amsterdã e Veneza, homens e mulheres usando chapéus e casacos, capas e túnicas de azul índigo desfilavam como pavões. Até o exército francês abandonou o uniforme castanho-avermelhado e vestiu-se de azul.
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Muitos pacotes pequenos, caixas e barris vinham nas novas cargas até os armazéns e eram considerados tão preciosos quanto ouro. Da China, vinham pequenos potes contendo aquele ingrediente precioso da medicina, do perfume e da arte de embalsamar, o almíscar. [...] Na era de pouquíssimos analgésicos, o almíscar induzia a sonolência. [...]
Em todos os lugares, o mercado de novos remédios era enorme. A Europa, na época, sofria muito com a malária e, nos pântanos da Itália, ela era extremamente mortal. Uma possível cura era oferecida pela casca de um arbusto peruano, a cinchona. Principalmente importada para a Europa pelos sacerdotes católicos, foi conhecida inicialmente como casca dos Jesuítas. O ingrediente fundamental presente na casca era a quinina, descoberta pelos franceses durante o período das Guerras Napoleônicas.
Na Europa, o cravo-da-índia, originário do arquipélago indonésio, era apreciado como remédio, principalmente para dor de dente, e como um tempero para comida e bebida. Aos olhos da maioria dos mercadores, a pimenta era o presente do sudeste da Ásia. Uma trepadeira que se enroscava nos galhos das árvores, seus frutos eram colhidos quando estavam vermelhos e brilhantes e, em seguida, eram espalhados em tapetes sob o sol quente, onde ficavam até murcharem e se tornarem escuros. Era tão cara que, em muitas cozinhas europeias, era salpicada em algumas carnes especiais de forma tão meticulosa como se fosse pó de ouro. [...]
Mapa da América do cartógrafo Sebastian Munster, 1561
Não só a mesa de refeições dos europeus mais abastados, mas também a própria agricultura em si estava se alterando. As viagens de Colombo, Vasco da Gama e outros navegadores europeus pelos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico promoveram uma revolução na agricultura do mundo. Junto com as cargas acondicionadas nos conveses ou trancadas no porão, havia pequenas consignações de sementes e mudas que eram eventualmente transportadas por uma série de acontecimentos premeditados e casuais para todos os continentes. O café, algodão, açúcar e o índigo foram para as Américas para serem cultivados em larga escala, com suas colheitas sendo exportadas para a Europa. Para a Argentina foi o gado e, mais tarde, para a Austrália foram as ovelhas. [...]
[...]
Durante esse intercâmbio internacional de plantas e matérias-primas, aconteceram casualidades. Muitas aves, animais e plantas foram ameaçados pela chegada de novas pessoas, novos animais, novas armas e armadilhas.
Nas ilhas vulcânicas de Maurício e Reunião, há vários anos, havia vivido um pássaro que não podia voar, o dodó. Membro da família dos pombos, grande e dócil, com pernas grossas e calosas, penas brancas e cabeça pouco comum, o pássaro vivia em segurança, longe do ataque de qualquer predador. [...] Em seguida, os exploradores europeus chegaram, trazendo porcos e ratos; os ovos colocados pelo dodó em ninhos sobre o chão ficaram vulneráveis.
Dodó (Raphus cucullatus). Artista desconhecido. Gravura do século XVII
O último dodó de que se tem notícia, pego na ilha de Reunião [...] morreu num barco francês em algum momento antes de 1764. [...] Em todas as regiões do Novo Mundo, uma variedade de espécies, seja o pombo-passageiro da América do Norte ou o "tigre" marsupial listrado da Tasmânia, seguiram o mesmo caminho que o dodó.
BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. São Paulo: Fundamento Educacional, 2004. p. 158-163.
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