[...] os sistemas de memória escritos e orais utilizavam tanto palavras quanto imagens para se reportar e relembrar o passado. Igualmente importantes, como um sistema de memória cultural, são os monumentos materiais das culturas do passado, assim como as artes plásticas e outras artes representativas, como a pintura. Construções e monumentos, esculturas e pinturas são meios visíveis e tangíveis de manter a continuidade cultural ao longo dos séculos e de engendrar mudanças. Como historiadores e poetas, artistas e artesãos criam trabalhos que refletem e ajudam a moldar a cultura de seu tempo. E como o trabalho escrito (e o transmitido oralmente), trabalhos em pedra ou pinturas - cerâmica e imagens, construções e estátuas - são registros culturais do poder religioso e secular.
Memoriais e monumentos estão entre as mais poderosas e politizadas formas de memória. Parte do arquivo coletivo de memória cultural, formas não verbais renovam e reconstroem poderosos padrões de significado. Grandes construções de materiais permanentes, com o a pedra, estão entre os exemplos mais antigos de artefatos que promovem a memória cultural. Pela construção de prédios que refletem as necessidades e os ideais de seus tempos, os arquitetos e artesãos imbuíam a memória daqueles tempos em seu trabalho. A arquitetura pode ser considerada um arquivo de memória coletiva intrínseca e extrinsecamente, mas também figurava na ampla gama de cerimônias públicas, paradas e outras comemorações do passado de uma comunidade.
Nenhum outro registro preserva a cultura dos antigos egípcios mais claramente que a pirâmide, uma estrutura monumental de pedra que representava o sol, um poder quase tão importante para os egípcios quanto o próprio Nilo. As Pirâmides também comemoram intencionalmente o poder do faraó que ordenou sua construção e, como elemento do complexo funerário real, significava a sobrevivência do poder do governante além de seu reino individual. [...] Os arquitetos e operários que construíram os templos e pirâmides do antigo Egito criaram monumentos às suas habilidades técnicas e visões artísticas que eram repositórios importantes da informação histórica e cultural sobre as práticas políticas e sociais do Egito e de seus ideais religiosos. A arquitetura monumental de pedra também sobrevive no sítio do Grande Zimbábue, um centro de comércio e cerimônias no sul da África, [...] definido por uma série de muralhas de pedra que protegia a elite da comunidade.
Grande Zimbábue
Em outros locais do continente africano, a arquitetura monumental apareceu não só em pedras, mas também em barro ou em outros materiais perecíveis, onde as pedras não estavam disponíveis. As muralhas de barro ao redor dos centros urbanos oeste-africanos, como o de Jenne-Jeno [...] ou Benin [...], exigiram uma impressionante organização do trabalho e indicaram as necessidades defensivas e os propósitos comerciais dessas cidades. [...]
Muito da arte visual e da arquitetura dos Estados florestais oeste-africanos esteve associado com o reinado divino. Devido ao fato de a sucessão dos reis depender, em tese, de reivindicações genealógicas, o conhecimento e o controle da história eram utilizados para validar o poder e a autoridade. Dentro da estrutura arquitetônica conhecida como o palácio do oba, ou rei, de Benin, santuários e altares foram construídos para relembrar os reis do passado e seus feitos (cerca de 400-1800). Ligadas por rituais e conteúdos de lembrança visual como dentes de marfim entalhados com cenas históricas de batalhas, bronze forjado e cabeças ornamentais de latão retratando reis específicos e rainhas-mães, os santuários formavam uma parte importante do extenso calendário do ritual de vida no palácio.
Outra fonte de informação histórica em Benin era a coleção de plaquetas retangulares forjadas em várias ligas de cobre. [...] Cenas nas plaquetas retratavam eventos da história do reinado. Elas podiam ser lidas como um livro de história dos costumes, da tecnologia, da política e da cultura ao longo do tempo. [...]
GOUCHER, Candice; WALTON, Linda. História mundial: jornadas do passado ao presente. Porto Alegre: Penso, 2011. p. 284-285.
Nenhum comentário:
Postar um comentário