Muro da cidade de Tihuanaco
Perto do ano 500, o cultivo de arroz em terras encharcadas e com ferramentas de ferro desenvolvido na China também estava firmemente estabelecido nos dois países - Coréia e Japão - mais expostos às influências chinesas. [...] não resta dúvida de que o Japão estava unido sob um governo único e era já uma potência a ser considerada em 391, quando despachou uma força militar que havia conquistado três reinos ao sul da península coreana. Por volta de 500, a riqueza extraída desses domínios e o rápido aperfeiçoamento tecnológico do próprio Japão haviam estimulado um enorme crescimento de sua população e originado um luxuoso estilo de vida para as classes dominantes. [...] Além do que pagava como tributo, a conexão coreana provia um fluxo constante de mão de obra gabaritada - especialistas em irrigação, tecelões, ferreiros [...]. Foi também o veículo para uma variedade de inovações culturais originárias da China, dentre as quais as mais notáveis foram a filosofia de Confúcio e o sistema de escrita chinesa, posteriormente adaptada para criar uma escrita puramente japonesa.
[...]
Um elemento-chave da cultura japonesa da época era o respeito pelo uji - a família. Isso não significava apenas a família no sentido de relações de sangue. Também significava no sentido de clã, e a maior família de todas, o povo inteiro, de quem o imperador era o chefe. Cada família tinha sua própria divindade, e era responsabilidade do chefe da família assegurar a adoração apropriada da deidade familiar. Essa veneração familiar existia dentro de um contexto mais amplo, o xintó - ou, mais corretamente, xintó antigo -, uma religião com muitos deuses, alguns ligados a forças naturais ou objetos, como o mar ou as montanhas, e outros, a processos, como o crescimento ou a criação.
Ao sul e a leste do Japão, a colonização das ilhas do Pacífico estava a essa altura quase completa. Os destemidos polinésios, em suas canoas de dois cascos [...] haviam acabado de chegar ao Havaí após um século de migração de ilha em ilha por 4 mil quilômetros desde as ilhas Marquesas. Outros polinésios haviam chegado até a distante Ilha da Páscoa, após uma jornada igualmente longa [...] a partir do Taiti. [...]
O povo da Austrália continuava isolado do restante do mundo. Uma população escassamente espalhada por um ambiente nem um pouco hospitaleiro [...]. Para eles, a mudança só viria lentamente, e seu modo de vida continuou no padrão caçador-coletor [...].
Do outro lado do Pacífico, a 4 mil metros de altitude, nos Andes sul-americanos, havia um lago - o Titicaca - que se estendia por quase 8 mil quilômetros quadrados. Ao longo de suas margens, uma antiga civilização, com séculos de prosperidade ainda diante de si, conhecia sua idade de ouro. Os arqueólogos a chamam Tihuanaco, nome da grande cidade que ficava em seu coração. A base de sua riqueza e poder era um sistema único de agricultura, em que colheitas eram cultivadas em plataformas elevadas, os camellones, capazes de produzir dezenas de milhares de toneladas por ano. A água chegava nesses campos por meio de uma rede de canais de irrigação [...]. A cidade de Tihuanaco era uma capital cerimonial com talvez cerca de 50 mil habitantes, adornada com complexos de templos cujas ruínas magníficas impressionam até hoje. [...] O povo dessa civilização produziu joias e recipientes elegantes [...].
No vale do México, 8 mil quilômetros ao norte, outra civilização da Idade da Pedra também atingia seu ápice. Sua principal cidade, Teotihuacán ("Cidade dos Deuses"). era ainda maior que Tihuanaco. No ano de 500, somava quatro séculos de existência, e, com uma população de cerca de 150 mil pessoas, era uma das maiores cidades do mundo. [...] Cobria oito quilômetros quadrados e se distribuía em um padrão de grade, com palácios, praças, centenas de templos e duas grandes pirâmides: a Pirâmide do Sol e a Pirâmide da Lua. [...] Tal arte, arquitetura e população só teriam sido possíveis com um sistema de agricultura intensiva altamente produtivo. [...]
Centenas de quilômetros a leste de Teotihuacán, na península de Yucatán, a civilização maia estava em pleno florescimento. Essa civilização [...] surgiu na selva quase impenetrável, onde nada podia ser construído e nenhuma lavoura podia ser semeada enquanto clareiras não fossem abertas (com machados de pedra). E isso em um clima quente e úmido [...]. A despeito dessas dificuldades, centenas de templos, espaços rituais e pirâmides eram construídos, que mesmo quando se tornaram ruínas inspiraram admiração por sua qualidade monumental e pela quantidade de trabalho que representam.
Os maias não eram de fato uma civilização urbana. O que seus descobridores do século XIX presumiram serem cidades são hoje considerados centros cerimoniais: capitais religiosas e administrativas de distritos em que a unidade básica era a aldeia agrícola. [...] A civilização maia parecia estar mais para um conjunto de cidades-Estado, com os centros cerimoniais preenchendo o papel da cidade e com a observância religiosa, e a propiciação dos deuses, ocupando um papel central na vida da comunidade. Os maias tinham um sistema de escrita hieroglífica altamente desenvolvido, porém a maior parte de sua literatura foi destruída, em um ato de barbárie, pelos padres espanhóis do século XVI, que a consideraram "obra do demônio" (descrição que se encaixa melhor no próprio comportamento deles). Como resultado, não se sabe praticamente nada sobre a vida cotidiana maia. Sabemos que milho e feijão compunham sua dieta básica, que abacate era um cultivo importante e que bebiam chocolate. [...]
Os poucos escritos maias que possuímos são na maior parte registros astronômicos e sacerdotais. Os cálculos que eles contêm são de uma qualidade sem paralelo em qualquer civilização da Idade da Pedra. [...] Tudo nessa civilização, incluindo suas maciças construções, envolvia carregadores e força de trabalho humanos.
Ao norte da atual fronteira mexicana, nenhuma civilização urbana ainda surgira. Dentro e em torno do vale do Ohio, o povo da cultura hopewell tinha uma economia baseada no cultivo do milho, abóbora e feijão, além da caça, mas sua ocupação territorial era em aldeias, não em vilas. Em outras regiões do continente, culturas de caçadores-coletores permaneciam amplamente inalteradas. [...]
Na Europa, as culturas da Idade da Pedra haviam sido deixadas para trás muito antes disso. Poucos europeus viviam de caçar e coletar alimentos. Em quase todos os lugares, tanto o pastoralismo quanto o povoamento agrícola compunham os moldes da vida cotidiana. Dentro das fronteiras do antigo império ocidental, várias cidades mantinham as tradições da vida cívica romana, mas muitas outras foram abandonadas.
Tanto dentro como fora das antigas fronteiras do império, a tecnologia de ferramentas e armas de ferro era universal. Uma característica da vida europeia nessa época eram as migrações causadas pelo assédio de cavaleiros nômades vindos da Ásia. À medida que forçavam passagem pelo leste da Europa, os que haviam chegado antes eram compelidos a continuar se deslocando para oeste. Povos célticos abriram espaço para povos germânicos, que por sua vez tiveram de ceder terreno para os eslavos, e assim por diante. Nos séculos V e VI, sem a presença das legiões romanas, todos os países da Europa ocidental sofreram ondas de invasão. No início, tendiam a ser oportunistas: raides em busca de pilhagem, mulheres e escravos. Mas, à medida que o tempo passou, elas se tornaram expedições à procura de um lar permanente. [...]
Em torno do Mediterrâneo, sobretudo no império oriental, a vida urbana seguia quase inalterada. Mas na Europa setentrional, da Bretanha às margens do Mar Negro, a aldeia agrícola era a unidade básica do povoamento humano. Muitas vilas romanas estavam semiarruinadas: havia mais pedreiras para materiais de construção que moradias. Na Bretanha, as famílias de nobres nativos haviam se empenhado para manter o velho estilo de vida romano, mas durante o século V foram cada vez mais acossados pelos invasores vindos do outro lado do Mar do Norte - anglos, saxões e jutos.
No extremo oposto da Eurásia, nas fronteiras da Índia, a implacável pressão dos ataques dos nômades das estepes parecia enfim abrandar. Em 475, os hunos haviam cruzado os passos montanhosos do Afeganistão e avançado sobre Peshawar. Nos anos que se seguiram, ajudados pela desintegração do império Gupta, haviam chegado até o Indo e devastado Kashmir, deixando um rastro de massacres e destruição. Uma geração depois, dominaram o extremo noroeste do país, mas foram rechaçados de volta às montanhas. [...]
Na África, ao sul do Saara, a descoberta dos segredos da metalurgia do ferro e o desenvolvimento de sistemas nativos de agricultura possibilitaram a muitos povos compensar o tempo perdido durante a Idade do Bronze. No interior do continente, onde doenças como febre amarela, malária e a doença do sono eram endêmicas e doenças transmitidas por insetos impediam o uso do cavalo, boi ou camelo, o desenvolvimento de uma civilização agrícola era pouco provável. A vida ali continuava a seguir antigos sistemas de caça-coleta, e a população permanecia esparsa. [...]
Uma das civilizações mais dinâmicas da África estava localizada a 2 mil quilômetros de altura, nas montanhas etíopes, onde insetos não conseguiam viver, e portanto animais para puxar arado sim. Esse era o reino cristão de Aksum. Ele viera em expansão desde o século I, e o ativo porto de Adulis, no Mar Vermelho, era o centro de uma rede comercial que se estendia da Itália meridional ao sul da Índia.
No outro lado do continente, no rio Níger, havia outra cultura com séculos de existência baseada no cultivo de arrozais secos e na metalurgia do ferro que empreendeu um comércio fluvial de longa distância envolvendo cobre, ouro e objetos cerâmicos de luxo, e que compreendia ao menos uma cidade - Jenno Jene - com 10 mil habitantes.
Do Quênia até o distante Cabo, terras que outrora haviam abrigado bandos esparsos de caçadores-coletores da Idade da Pedra eram agora o lar de um enorme grupo de fazendeiros e pastoralistas dispondo do uso do ferro. Esses eram os povos falantes de banto, que em 3000 a.C. haviam emigrado em dois fluxos [...] a partir da Nigéria. [...]
O crescimento da população na África subsaariana entre 100 d.C. e 500 d.C. [...] foi espetacular.
[...]
Na época em que os chineses usavam carrinhos de mão e as senhoras romanas e Cleópatra, a rainha do Egito, vestiam seda, os seres humanos vinham trocando micróbios com seus hóspedes desejados - porcos, galinhas, vacas - e indesejados - camundongos, ratos, moscas, pulgas - por milhares de anos. [...] o oceano Índico e o Mediterrâneo eram agora cruzados por inúmeros navios e a Rota da Seda e estradas similares viviam movimentadas. Alforjes e porões de navios tornaram-se moradias móveis ideais para roedores e insetos, e os parasitas portadores de doenças. Cidades apinhadas os aguardavam no fim da jornada. A humanidade inventara a aldeia global, e os insetos teriam um banquete.
As regiões que mais sofreram foram as mais extremas na rede eurasiana - Europa e China -, que haviam tido menos tempo para desenvolver resistência do que as antigas civilizações em seu coração. [...]
AYDON, Cyril. A história do homem: uma introdução a 150 mil anos de história humana. Rio de Janeiro: Record, 2011. p. 121-129.
Ao sul e a leste do Japão, a colonização das ilhas do Pacífico estava a essa altura quase completa. Os destemidos polinésios, em suas canoas de dois cascos [...] haviam acabado de chegar ao Havaí após um século de migração de ilha em ilha por 4 mil quilômetros desde as ilhas Marquesas. Outros polinésios haviam chegado até a distante Ilha da Páscoa, após uma jornada igualmente longa [...] a partir do Taiti. [...]
O povo da Austrália continuava isolado do restante do mundo. Uma população escassamente espalhada por um ambiente nem um pouco hospitaleiro [...]. Para eles, a mudança só viria lentamente, e seu modo de vida continuou no padrão caçador-coletor [...].
Do outro lado do Pacífico, a 4 mil metros de altitude, nos Andes sul-americanos, havia um lago - o Titicaca - que se estendia por quase 8 mil quilômetros quadrados. Ao longo de suas margens, uma antiga civilização, com séculos de prosperidade ainda diante de si, conhecia sua idade de ouro. Os arqueólogos a chamam Tihuanaco, nome da grande cidade que ficava em seu coração. A base de sua riqueza e poder era um sistema único de agricultura, em que colheitas eram cultivadas em plataformas elevadas, os camellones, capazes de produzir dezenas de milhares de toneladas por ano. A água chegava nesses campos por meio de uma rede de canais de irrigação [...]. A cidade de Tihuanaco era uma capital cerimonial com talvez cerca de 50 mil habitantes, adornada com complexos de templos cujas ruínas magníficas impressionam até hoje. [...] O povo dessa civilização produziu joias e recipientes elegantes [...].
No vale do México, 8 mil quilômetros ao norte, outra civilização da Idade da Pedra também atingia seu ápice. Sua principal cidade, Teotihuacán ("Cidade dos Deuses"). era ainda maior que Tihuanaco. No ano de 500, somava quatro séculos de existência, e, com uma população de cerca de 150 mil pessoas, era uma das maiores cidades do mundo. [...] Cobria oito quilômetros quadrados e se distribuía em um padrão de grade, com palácios, praças, centenas de templos e duas grandes pirâmides: a Pirâmide do Sol e a Pirâmide da Lua. [...] Tal arte, arquitetura e população só teriam sido possíveis com um sistema de agricultura intensiva altamente produtivo. [...]
Centenas de quilômetros a leste de Teotihuacán, na península de Yucatán, a civilização maia estava em pleno florescimento. Essa civilização [...] surgiu na selva quase impenetrável, onde nada podia ser construído e nenhuma lavoura podia ser semeada enquanto clareiras não fossem abertas (com machados de pedra). E isso em um clima quente e úmido [...]. A despeito dessas dificuldades, centenas de templos, espaços rituais e pirâmides eram construídos, que mesmo quando se tornaram ruínas inspiraram admiração por sua qualidade monumental e pela quantidade de trabalho que representam.
Os maias não eram de fato uma civilização urbana. O que seus descobridores do século XIX presumiram serem cidades são hoje considerados centros cerimoniais: capitais religiosas e administrativas de distritos em que a unidade básica era a aldeia agrícola. [...] A civilização maia parecia estar mais para um conjunto de cidades-Estado, com os centros cerimoniais preenchendo o papel da cidade e com a observância religiosa, e a propiciação dos deuses, ocupando um papel central na vida da comunidade. Os maias tinham um sistema de escrita hieroglífica altamente desenvolvido, porém a maior parte de sua literatura foi destruída, em um ato de barbárie, pelos padres espanhóis do século XVI, que a consideraram "obra do demônio" (descrição que se encaixa melhor no próprio comportamento deles). Como resultado, não se sabe praticamente nada sobre a vida cotidiana maia. Sabemos que milho e feijão compunham sua dieta básica, que abacate era um cultivo importante e que bebiam chocolate. [...]
Os poucos escritos maias que possuímos são na maior parte registros astronômicos e sacerdotais. Os cálculos que eles contêm são de uma qualidade sem paralelo em qualquer civilização da Idade da Pedra. [...] Tudo nessa civilização, incluindo suas maciças construções, envolvia carregadores e força de trabalho humanos.
Ao norte da atual fronteira mexicana, nenhuma civilização urbana ainda surgira. Dentro e em torno do vale do Ohio, o povo da cultura hopewell tinha uma economia baseada no cultivo do milho, abóbora e feijão, além da caça, mas sua ocupação territorial era em aldeias, não em vilas. Em outras regiões do continente, culturas de caçadores-coletores permaneciam amplamente inalteradas. [...]
Na Europa, as culturas da Idade da Pedra haviam sido deixadas para trás muito antes disso. Poucos europeus viviam de caçar e coletar alimentos. Em quase todos os lugares, tanto o pastoralismo quanto o povoamento agrícola compunham os moldes da vida cotidiana. Dentro das fronteiras do antigo império ocidental, várias cidades mantinham as tradições da vida cívica romana, mas muitas outras foram abandonadas.
Tanto dentro como fora das antigas fronteiras do império, a tecnologia de ferramentas e armas de ferro era universal. Uma característica da vida europeia nessa época eram as migrações causadas pelo assédio de cavaleiros nômades vindos da Ásia. À medida que forçavam passagem pelo leste da Europa, os que haviam chegado antes eram compelidos a continuar se deslocando para oeste. Povos célticos abriram espaço para povos germânicos, que por sua vez tiveram de ceder terreno para os eslavos, e assim por diante. Nos séculos V e VI, sem a presença das legiões romanas, todos os países da Europa ocidental sofreram ondas de invasão. No início, tendiam a ser oportunistas: raides em busca de pilhagem, mulheres e escravos. Mas, à medida que o tempo passou, elas se tornaram expedições à procura de um lar permanente. [...]
Em torno do Mediterrâneo, sobretudo no império oriental, a vida urbana seguia quase inalterada. Mas na Europa setentrional, da Bretanha às margens do Mar Negro, a aldeia agrícola era a unidade básica do povoamento humano. Muitas vilas romanas estavam semiarruinadas: havia mais pedreiras para materiais de construção que moradias. Na Bretanha, as famílias de nobres nativos haviam se empenhado para manter o velho estilo de vida romano, mas durante o século V foram cada vez mais acossados pelos invasores vindos do outro lado do Mar do Norte - anglos, saxões e jutos.
No extremo oposto da Eurásia, nas fronteiras da Índia, a implacável pressão dos ataques dos nômades das estepes parecia enfim abrandar. Em 475, os hunos haviam cruzado os passos montanhosos do Afeganistão e avançado sobre Peshawar. Nos anos que se seguiram, ajudados pela desintegração do império Gupta, haviam chegado até o Indo e devastado Kashmir, deixando um rastro de massacres e destruição. Uma geração depois, dominaram o extremo noroeste do país, mas foram rechaçados de volta às montanhas. [...]
Na África, ao sul do Saara, a descoberta dos segredos da metalurgia do ferro e o desenvolvimento de sistemas nativos de agricultura possibilitaram a muitos povos compensar o tempo perdido durante a Idade do Bronze. No interior do continente, onde doenças como febre amarela, malária e a doença do sono eram endêmicas e doenças transmitidas por insetos impediam o uso do cavalo, boi ou camelo, o desenvolvimento de uma civilização agrícola era pouco provável. A vida ali continuava a seguir antigos sistemas de caça-coleta, e a população permanecia esparsa. [...]
Uma das civilizações mais dinâmicas da África estava localizada a 2 mil quilômetros de altura, nas montanhas etíopes, onde insetos não conseguiam viver, e portanto animais para puxar arado sim. Esse era o reino cristão de Aksum. Ele viera em expansão desde o século I, e o ativo porto de Adulis, no Mar Vermelho, era o centro de uma rede comercial que se estendia da Itália meridional ao sul da Índia.
No outro lado do continente, no rio Níger, havia outra cultura com séculos de existência baseada no cultivo de arrozais secos e na metalurgia do ferro que empreendeu um comércio fluvial de longa distância envolvendo cobre, ouro e objetos cerâmicos de luxo, e que compreendia ao menos uma cidade - Jenno Jene - com 10 mil habitantes.
Do Quênia até o distante Cabo, terras que outrora haviam abrigado bandos esparsos de caçadores-coletores da Idade da Pedra eram agora o lar de um enorme grupo de fazendeiros e pastoralistas dispondo do uso do ferro. Esses eram os povos falantes de banto, que em 3000 a.C. haviam emigrado em dois fluxos [...] a partir da Nigéria. [...]
O crescimento da população na África subsaariana entre 100 d.C. e 500 d.C. [...] foi espetacular.
[...]
Na época em que os chineses usavam carrinhos de mão e as senhoras romanas e Cleópatra, a rainha do Egito, vestiam seda, os seres humanos vinham trocando micróbios com seus hóspedes desejados - porcos, galinhas, vacas - e indesejados - camundongos, ratos, moscas, pulgas - por milhares de anos. [...] o oceano Índico e o Mediterrâneo eram agora cruzados por inúmeros navios e a Rota da Seda e estradas similares viviam movimentadas. Alforjes e porões de navios tornaram-se moradias móveis ideais para roedores e insetos, e os parasitas portadores de doenças. Cidades apinhadas os aguardavam no fim da jornada. A humanidade inventara a aldeia global, e os insetos teriam um banquete.
As regiões que mais sofreram foram as mais extremas na rede eurasiana - Europa e China -, que haviam tido menos tempo para desenvolver resistência do que as antigas civilizações em seu coração. [...]
AYDON, Cyril. A história do homem: uma introdução a 150 mil anos de história humana. Rio de Janeiro: Record, 2011. p. 121-129.
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