Alexandre Magno. Mosaico encontrado em Pompeia.
Filipe da
Macedônia conquistara a Grécia; seu filho Alexandre difundiria a cultura grega
ao estender o império macedônico, em dez anos de campanhas fulminantes, à Ásia
menor (333 a .C.),
ao Egito (332 a .C.),
à Mesopotâmia (325 a .C.).
Pretendia atingir as margens do rio Ganges, mas resolveu regressar, pois o
exército, cansado de uma guerra de conquista que parecia interminável,
recusava-se a persistir no avanço.
Alexandre não foi
apenas um grande chefe militar; também explorou e civilizou as terras
conquistadas. Acompanharam suas expedições vários estudiosos, que revelariam
aos gregos a geografia das regiões percorridas, a existência no Oceano Índico
de ventos períódicos (as monções), de marés acentuadas, bem diferentes das
marés do Mar Mediterrâneo. Por onde passava, com seus exércitos, Alexandre ia
fundando cidades com características gregas (templos, teatros, ágora,
ginásios), entre as quais adquiriu destaque Alexandria, no Egito.
Alexandre encontrava-se em Babilônia quando morreu
inesperadamente, vítima de uma febre, aos 32 anos (323 a .C.), sem ter podido
organizar seu império nem escolher um sucessor. O vasto território acabou
desmembrando-se: a Índia e a Pérsia recuperaram a independência e quatro reinos
se formaram: Macedônia, Egito, Síria e Pérgamo. Nos séculos II e I a.C. caíram
em poder dos romanos, que realizaram o sonho de Alexandre: unir o Oriente e o
Ocidente, num só império.
O desmembramento
do império de Alexandre em reinos governados por monarcas todo-poderosos marcou
o fim das cidades-estados na Grécia e o declínio de suas atividades, fazendo
com que muitos gregos emigrassem para esses novos reinos. Assim, levaram às
mais diversas regiões uma considerável soma de conhecimentos, de técnicas, seus
hábitos, seus costumes, seu idioma, toda a sua cultura, enfim.
A cultura grega,
enriquecida em estreito contato com elementos culturais do Oriente, foi-se
expandindo cada vez mais e passou a exercer grande influência sobre os romanos,
que atuariam como transmissores da herança helênica.
Neste período
destacaram-se três cidades: Antioquia, Pérgamo e Alexandria.
Para Antioquia,
célebre por seu luxo e elegância, convergiam as rotas das caravanas vindas do
Oriente, tornando-se o principal centro de trocas comerciais entre a Europa e a
Ásia.
Pérgamo,
transformou-se em um magnífico centro de arte, ali se aperfeiçoando um antigo
processo babilônico para tratamento do fino couro de carneiro recém-nascido.
Surgiu assim o pergaminho, sobre o qual se escrevia e que, por ser muito
resistente, foi aos poucos substituindo o papiro.
Teatro grego em Pérgamo
Foi no entanto
Alexandria* a maior cidade helenista, graças a suas atividades comerciais e
intelectuais. Seu porto, o maior do Mediterrâneo, era amplo e bem construído e,
na ilha de Faro, uma torre luminosa (daí o substantivo farol) orientava, à
noite, os navegantes em um raio de aproximadamente 50 quilômetros .
* "Lá fica a casa de Afrodite. Pois tudo o que existe pode ser encontrado no Egito: riquezas, esportes, poder, clima agradável, glória, espetáculos, filósofos, jóias de ouro, belos jovens, templo dos deuses irmão e irmã, excelente rei, Museu, vinho, todos os prazeres que desejais, mulheres em tão grande número que [...] o céu não pode se vangloriar de um igual número de estrelas: e são as mulheres tão bonitas quanto as deusas que, no passado, pediram a Páris para julgar quem era a mais bela". (Herondas, Mimo I, A alcoviteira, v. 26-35. Citado por SALLES, Catherine. Nos submundos da Antiguidade. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 42.)
* "Lá fica a casa de Afrodite. Pois tudo o que existe pode ser encontrado no Egito: riquezas, esportes, poder, clima agradável, glória, espetáculos, filósofos, jóias de ouro, belos jovens, templo dos deuses irmão e irmã, excelente rei, Museu, vinho, todos os prazeres que desejais, mulheres em tão grande número que [...] o céu não pode se vangloriar de um igual número de estrelas: e são as mulheres tão bonitas quanto as deusas que, no passado, pediram a Páris para julgar quem era a mais bela". (Herondas, Mimo I, A alcoviteira, v. 26-35. Citado por SALLES, Catherine. Nos submundos da Antiguidade. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 42.)
O edifício mais
célebre de Alexandria era o Museu, consagrado às musas protetoras das artes,
das ciências e das letras. O Museu compreendia jardins botânico e zoológico,
uma escola de medicina, um observatório astronômico, uma biblioteca com
centenas de milhares de papiros e pergaminhos, e diferentes locais para
trabalho e pesquisa.
Em Alexandria
receberam impulso e progrediram várias ciências: a astronomia e a geografia,
com Hiparco e Eratóstenes; a geometria com Euclides, a física com Arquimedes.
A biblioteca, sob
a direção de Aristarco, incentivou estudos detalhados de obras literárias do
passado, que foram sendo reunidas, comparadas, analisadas, explicadas. Nasceu
assim a filologia.
Enquanto
Alexandria destacava-se como centro de pesquisas científicas, Atenas continuou
sendo o centro de irradiação de idéias filosóficas. Apareceram, nesse período,
duas novas escolas de pensamento: a epicurista, fundada por Epicuro, e a
estóica, fundada por Zenão (de stoá = pórtico, onde Zenão ensinava). Os
estóicos pregaram o controle de si mesmo e o descaso pelo sofrimento (daí o
termo estóico significar aquele que suporta sem queixas). Os epicuristas
propunham a busca da felicidade pela renúncia aos desejos, que são causas de
tormento.
Na literatura
houve a preferência pelos epigramas, composições de dois ou quatro versos que,
em forma concentrada, porém brilhante, exprimiam uma crítica, um pensamento,
uma mensagem. Entre os epigramas tinham importância os epitáfios, para serem
gravados em lápides tumulares.
A arte
modificou-se largamente. Sob a influência do Oriente, a arquitetura helenística
perdeu as linhas sóbrias e equilibradas, tornando-se extravagante e monumental.
Templo em Gami
A escultura deixou de exprimir o equilíbrio de emoções,
passando a comunicar uma intensidade dramática exagerada, embora algumas obras
ainda conservassem características da época clássica grega.
Quando os reinos helenísticos caíram em poder dos romanos,
estes rapidamente assimilaram a cultura com a qual entraram em contato,
absorvendo assim o legado cultural grego. Por isso sua civilização foi na
realidade uma civilização greco-romana. E, como o Império Romano estendeu-se
depois a várias regiões da Europa, inclusive à península Ibérica – que, por sua
vez, haveria de empreender mais tarde a conquista de terras americanas -, nós, no Brasil, somos também em parte
herdeiros da civilização grega.
HOLLANDA, Sérgio Buarque de (org.). História da Civilização. São
Paulo: Nacional, 1980. p. 76-79.
SALLES, Catherine. Nos submundos da Antiguidade. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 42.
SALLES, Catherine. Nos submundos da Antiguidade. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 42.
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