Tipis sioux. Karl Bodmer
Centenas de tribos indígenas
habitavam a América do Norte até a chegada dos europeus. Há uma variedade
enorme nessas tribos: só em línguas diferentes encontraram-se mais de
trezentas.
Grupos indígenas como os
cherokees, iroqueses, algonquinos, comanches e apaches povoavam todo o
território, do Atlântico até o Pacífico. Alguns outros grupos deram nomes à
geografia dos EUA: Dakota, Delaware, Massachussets, Iowa, Ilinois, Missouri.
Por toda a América, a história dessas tribos seria profundamente modificada
pela chegada dos europeus.
As opiniões dos colonos sobre os
indígenas variaram, mas foram, quase sempre, negativas. Um dos mais antigos
relatos sobre eles, de 1628, de autoria de Jonas Michaëlius, mostra bem isso:
Quanto aos nativos desse país,
encontro-os totalmente selvagens e primitivos, alheios a toda decência; mais
ainda, incivilizados e ímpios, homens endemoniados que não servem a ninguém
senão o diabo [...]. É difícil dizer como se pode guiar a esta gente o
verdadeiro conhecimento de Deus e de seu mediador Jesus Cristo.
Jonas Michaëlius parte de um
ponto de vista europeu. Como os índios não têm esta cultura semelhante à
europeia, ele os considera incivilizados. Jonas não pode ver outro tipo de
civilização: vê apenas dois grupos, os que são civilizados e os que não são. Os
que não são, no caso os nativos, são como "estacas de jardim".
O preconceito, como mostrado no
documento, não foi o único dano que os ingleses causaram aos índios. Mesmo se
não fossem agressivos, os europeus já seriam perigosos. A imigração europeia
havia introduzido na América do Norte doenças para as quais os nativos não
tinham defesa. As epidemias nas colônias inglesas atingiram os indígenas da
mesma forma que nas áreas ibéricas. O sarampo matou milhares de indígenas em
toda a América.
A ocupação das terras indígenas
por parte dos colonos baseava-se em argumentos de ordem teológica. Os
peregrinos haviam se identificado com o povo eleito que Deus conduzia a uma
terra prometida. Tal como Deus dera força a Josué (na Bíblia) para expulsar os
habitantes da terra prometida, eles acreditavam no seu direito de expulsar os
que habitavam a sua Canaã. John Cotton, pastor puritano, fez vários sermões nos
quais destacou a semelhança entre a nação inglesa e a luta pela terra prometida
descrita no Antigo Testamento.
Embora o fato seja bem pouco
conhecido da História norte-americana, os índios também foram escravizados. Os
colonos das Carolinas, em particular, desenvolveram o hábito de vender índios
como escravos. Em 1708, a
Carolina do Sul contava com 1.400 escravos índios. Essa prática permaneceria
até a Independência.
É natural imaginar uma reação
indígena. A expansão agrícola por sobre áreas indígenas originou violentos
ataques às terras dos colonos. No começo da colonização, mais de uma aldeia
inglesa foi arrasada por ataques de índios, como, por exemplo, a de Wolstenholme,
na Virgínia.
Dos diversos tratados de paz
entre colonos e índios, demarcando terras de um e de outros, surgiu a prática
das reservas indígenas, áreas que permaneceriam exclusivamente aos índios. A
permanência de conflitos mesmo com os índios das "reservas" revela
que estes acordos não foram cumpridos em sua totalidade.
Mais de uma vez historiadores
empregaram a expressão "genocídio" para caracterizar o massacre de
populações indígenas na América do Norte. Isto não é incorreto nem diferente do
que ocorria em todo o resto da América. A ideia europeia de colonização significou
uma mortandade imensa em todo o continente americano.
[...]
Existem vários relatos em inglês
sobre a visão do índio em relação ao homem branco. Com todas as limitações de
se descrever uma invasão na língua dos invasores, esses relatos ainda assim apontam
dados interessantes. Um índio descreve a chegada dos brancos:
[...] buscavam por todos os lados
bons terrenos, e quando encontravam um, imediatamente e sem cerimônia se
apossavam dele; nós estávamos atônitos, mas, ainda assim, nós permitimos que
continuassem, achando que não valia a pena guerrear por um pouco de terra. Mas
quando chegaram a nossos terrenos favoritos - aqueles que estavam mais próximos
das zonas de pesca - então aconteceram guerras sangrentas. Estaríamos contentes
em compartilhar as terras uns com os outros, mas esses homens brancos nos
invadiram tão rapidamente que perderíamos tudo se não os enfrentássemos... Por
fim, apossaram-se de todo o país que o Grande Espírito nos havia dado...
A ideia de predestinação, o ideal
de empresa, tudo colaborou para enfraquecer a mestiçagem e a catequese dos
índios. O mundo inglês conviveria com o índio, mas sem amálgama.
De várias formas os índios
resistiram à violência da colonização. Uma maneira comum era fugir para o
interior, estratégia que seria utilizada até o século XIX. Outra era reagir com
violência à invasão. Em 1622, por exemplo, os índios atacaram Jamestown e
mataram 350 colonos da Virgínia. O chefe Metacom (chamado rei Filipe pelos
brancos) atacou, em 1676, os colonos da Nova Inglaterra, causando muitas
mortes. Ao longo dos séculos XVII e XVIII, os índios fizeram várias alianças
com franceses contra os ingleses.
É importante dizer, por fim, que
nem todos os colonos tinham o mesmo grau de agressividade contra os índios.
Grupos quakers e menonitas recusavam a violência contra índios e também a
violência da compra de escravos negros. Porém, quakers, menonitas, católicos e
puritanos ocupavam de igual modo as terras que foram, originalmente, dos
índios. A longa "trilha de lágrimas" indígena continuaria durante
todo o período colonial e seria até intensificada com a expansão para o Oeste
no século XIX. Apenas recentemente a população indígena dos Estados Unidos
voltou a crescer.
KARNAL, Leandro (org.). História
dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2010. p.
59-62.
Muito bom,ajudou muito em meu trabalho! Obrigada
ResponderExcluirObrigado. Volte sempre.
ExcluirQue bom que gostou! Volte sempre.
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