"O nascimento de Vênus", Sandro Botticelli
"Que obra de arte é o homem: tão nobre no raciocínio, tão vário na capacidade; em forma e movimento, tão preciso e admirável, na ação é como um anjo, no entendimento é como um Deus; a beleza do mundo; o exemplo dos animais".
(William Shakespeare. Hamlet.)
Texto 1
[...] Hoje, qual o pensamento predominante na sociedade capitalista?
[...] Hoje, qual o pensamento predominante na sociedade capitalista?
Seria o mesmo de Shakespeare?
De certa forma sim, a valorização do homem persiste. Hoje, o homem sabe que é capaz de dominar a Natureza. Mas sua beleza, sua inteligência, suas destrezas são vistas como coisas muito naturais.
Nossa sociedade não pensa como Shakespeare. Hoje, não o homem, mas sim suas realizações são vistas como obras de grande engenho e arte: suas máquinas, seu progresso científico... Poderíamos exclamar: que obras de arte faz o homem!
Essa pequena inversão na frase de Shakespeare é fundamental para explicar as mudanças ocorridas no plano das ideias. [...]
[...]
[...] tal ideia representava uma verdadeira ruptura, quando pronunciada. E foram as mudanças nas bases materiais das diversas formações da Europa que condicionaram essa ruptura. Emergia uma nova visão do mundo, em que o Homem, o indivíduo, no sentido mais genérico, passou a ser o centro das atenções intelectuais. O rígido teocentrismo medieval, que centrava suas atenções na relação Deus-Homem, foi substituído pela glorificação do Humano, pela preocupação da relação Homem-Natureza.
As pessoas interessadas nessa ruptura com as ideias medievais buscaram inspiração nas obras greco-romanas para representar seu próprio mundo. Era o Renascimento, que revelou ao mundo muitos pensadores e artistas. [...]
[...]
* Humanismo. "Desde o fim do século XIV, na Itália, um certo número de homens cultos, os humanistas [...], apaixonou-se pela recordação da Antiguidade Greco-Latina. Esforçaram-se por reencontrar e reunir as obras dos autores antigos, quase todas dispersas nos conventos e mosteiros onde os monges as haviam conservado e copiado ao longo da Idade Média". (GIRARDET, R.; JAILLET, P. Histoire: XVI, XVII et XVIII Siècles. Paris: Fernand Nathan Editeur, 1957. p. 38.)
"Em um sentido estrito, os Humanistas são os letrados profissionais, geralmente provenientes da burguesia, eclesiásticos, professores universitários, médicos, funcionários, por vezes publicistas, a serviço de uma casa editora, que exprimem a tendência da sociedade e lhe fornecem suas ferramentas intelectuais." (MOUSNIER, R. Os séculos XVI e XVII. In: História Geral das Civilizações. São Paulo: Difel, 1957. p. 24.)
Desse modo, o Humanismo deve ser entendido como um movimento intelectual de valorização da Antiguidade Clássica. Não se tratava, porém, de apenas copiar as realizações do Classicismo Greco-Romano; tal aspecto retiraria ao movimento sua maior amplitude. O Humanismo, embora não sendo a rigor uma filosofia, representou um movimento de glorificação do Homem, tornado centro de todas as indagações e preocupações. Constituía, em sentido amplo, uma tomada de posição antropocêntrica em reação ao teocentrismo imperante na Idade Média, época de predomínio da Igreja e da nobreza feudal e de posição social subordinada da burguesia.
Os humanistas não mais aceitavam os valores e maneiras de ser e viver da Idade Média. Por conseguinte, o interesse pela Antiguidade era um meio para atingir um fim: os humanistas viam na Antiguidade "aquilo que correspondia aos desejos que sentiam [...] Pretendem encontrar nos antigos o Homem, considerado como um ser geral, impessoal, universal, que existe, sob a mesma forma, em toda parte [...] O Humanismo é uma técnica da vida cotidiana". (MOUSNIER, R. op. cit., p. 26.)
[...]
O Humanismo teve suma importância, pois conduziu a modificações nos métodos de ensino, enriquecidos com o estudo das línguas clássicas (grego e latim) e com a maior preocupação em estudar a Natureza e desenvolver a análise e a crítica na investigação científica. Igualmente possibilitou maior conhecimento da Antiguidade, cujas realizações poderiam servir de modelos nas atividades humanas, seja nos campos literários e das artes plásticas, seja nas instituições políticas e sociais. Além do mais, gerou uma renovação cultural que influiu diretamente no desencadeamento e na evolução do Renascimento.
* Renascimento. O Renascimento foi, de certa forma, a expressão do movimento humanista nas artes, letras, filosofia, música e ciências, constituindo-se em um "prodigioso desabrochar da vida sob todas as suas formas, que teve de um modo geral suas maiores manifestações de 1490 a 1560, mas que não está preso dentro destes limites. Então, um afluxo de vitalidade fez vibrar a humanidade europeia. Toda a civilização da Europa transformou-se, em consequência." (MOUSNIER, R. op. cit., p. 17.)
[...]
Enriquecida com o comércio, a burguesia urbana procurou se firmar na sociedade, onde os valores impetrantes não eram os seus, mas sim os projetados pela Igreja e pela nobreza feudal; para contestá-los e difundir os seus valores, mercadores e banqueiros promoveram as artes, as letras e as ciências, realizadas segundo concepções racionalistas, pagãs, antropocêntricas...
[...]
Apesar da inegável influência medieval evidente na produção de muitos renascentistas [...], o Humanismo e o Renascimento representaram uma reação aos padrões culturais medievais. Ao teocentrismo opuseram o antropocentrismo, à fé contrapuseram a razão, ao espírito de associação defrontaram o individualismo, à religiosidade opuseram o paganismo, o que não pode ser confundido com ateísmo. [...]
AQUINO, Rubim Santos Leão de et al. História das sociedades: das sociedades modernas às sociedades atuais. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2010. p. 117-121, 123.
Texto 2
Numa forma abreviada, às vezes se traduz parte deste cenário - o florescer das artes e da sabedoria entre os séculos XIV e XVI - sob o título de "Renascença", palavra de origem francesa que significa "renascimento". Em certa medida, todos os países europeus a oeste da Rússia sentiriam a influência deste movimento, para o qual a maioria contribuiu. No entanto, a Itália foi o seu verdadeiro centro e coração. Entre 1350 e 1450, muito mais sábios, artistas, cientistas e poetas viveram nas cidades da Itália do que em qualquer outro país. A Europa inteira ia estudar na Itália, ou seja, aprender a imitar as coisas belas e inteligentes que se podia encontrar ali; os italianos se reportavam ao passado clássico da Grécia e de Roma.
A Renascença tem as suas raízes na redescoberta de parte do passado da Europa que fora obscurecido pela civilização cristã durante a Idade Média. Rafael glorificou os grandes filósofos da Grécia na pintura, e os escritores humanistas imitaram o estilo do romano Cícero para escrever em latim elegante. [...] Na pintura, na escultura, na gravura, na arquitetura, na música e na poesia deixou um vasto número de belas criações que durante séculos moldaram o conceito de beleza. Essa arte chegou ao clímax no fim do século XV e início do século XVI, época de - entre outros - Michelangelo - escultor, pintor, arquiteto e poeta -, Rafael - pintor e arquiteto - e Leonardo da Vinci - pintor, engenheiro, arquiteto, escultor e cientista. Os homens da Renascença admiravam estes artistas de múltiplos talentos, que davam às pessoas uma nova ideia da excelência humana. O homem passou a ser visto como criatura de maior potencial aqui na Terra do que a Igreja ensinara. Na pintura de Michelangelo A Criação de Adão, o Pai da raça humana é uma figura heróica e gigantesca, excedendo em poder e efeito dramático até mesmo o Criador, cujo dedo lhe dá a vida.
Os sábios da Renascença foram os primeiros a falar em "Idade Média" como algo situado entre sua época e o passado clássico e de cuja importância tinham perfeita consciência. Contudo, o fato mais importante a respeito dos europeus não mudara muito: em 1500, a civilização europeia ainda possuía um coração religioso [...]. O primeiro livro impresso na Europa fora a Bíblia, o texto sagrado desta civilização. [...]
ROBERTS, J. M. O livro de ouro da História do Mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. p. 398, 400.
Texto 2
Numa forma abreviada, às vezes se traduz parte deste cenário - o florescer das artes e da sabedoria entre os séculos XIV e XVI - sob o título de "Renascença", palavra de origem francesa que significa "renascimento". Em certa medida, todos os países europeus a oeste da Rússia sentiriam a influência deste movimento, para o qual a maioria contribuiu. No entanto, a Itália foi o seu verdadeiro centro e coração. Entre 1350 e 1450, muito mais sábios, artistas, cientistas e poetas viveram nas cidades da Itália do que em qualquer outro país. A Europa inteira ia estudar na Itália, ou seja, aprender a imitar as coisas belas e inteligentes que se podia encontrar ali; os italianos se reportavam ao passado clássico da Grécia e de Roma.
A Renascença tem as suas raízes na redescoberta de parte do passado da Europa que fora obscurecido pela civilização cristã durante a Idade Média. Rafael glorificou os grandes filósofos da Grécia na pintura, e os escritores humanistas imitaram o estilo do romano Cícero para escrever em latim elegante. [...] Na pintura, na escultura, na gravura, na arquitetura, na música e na poesia deixou um vasto número de belas criações que durante séculos moldaram o conceito de beleza. Essa arte chegou ao clímax no fim do século XV e início do século XVI, época de - entre outros - Michelangelo - escultor, pintor, arquiteto e poeta -, Rafael - pintor e arquiteto - e Leonardo da Vinci - pintor, engenheiro, arquiteto, escultor e cientista. Os homens da Renascença admiravam estes artistas de múltiplos talentos, que davam às pessoas uma nova ideia da excelência humana. O homem passou a ser visto como criatura de maior potencial aqui na Terra do que a Igreja ensinara. Na pintura de Michelangelo A Criação de Adão, o Pai da raça humana é uma figura heróica e gigantesca, excedendo em poder e efeito dramático até mesmo o Criador, cujo dedo lhe dá a vida.
"A criação de Adão", Michelangelo. A religião pode não ter estabelecido a verdade, mas ensejou maravilhosas obras de arte.
Os sábios da Renascença foram os primeiros a falar em "Idade Média" como algo situado entre sua época e o passado clássico e de cuja importância tinham perfeita consciência. Contudo, o fato mais importante a respeito dos europeus não mudara muito: em 1500, a civilização europeia ainda possuía um coração religioso [...]. O primeiro livro impresso na Europa fora a Bíblia, o texto sagrado desta civilização. [...]
ROBERTS, J. M. O livro de ouro da História do Mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. p. 398, 400.
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