Frisos do Partenon, atribuído à Fídias (Acrópole, Atenas)
A cultura grega absorvera
conhecimentos transmitidos por culturas anteriores: o alfabeto grego proveio do
alfabeto fenício; a ciência e a filosofia gregas se desenvolveram à luz de
certos dados, pesquisas e indagações feitas por egípcios e mesopotâmios; e o
contato com os egeus certamente contribuiu para formar nos gregos um espírito
independente e individualista.
O traço fundamental da cultura
grega foi sua preocupação incessante com a busca de equilíbrio entre a beleza e
a sabedoria, entre a forma e o espírito. Essa preocupação transparece ainda bem
clara em todas as manifestações artísticas que a Grécia nos legou.
O V século a.C. assistiu a um
extraordinário florescimento da cultura grega, tendo como centro principal
Atenas. Nesse período, que passou à história com o nome de "Século de
Péricles", viveram e produziram os maiores artistas, escritores e
filósofos da Grécia.
* Arquitetura, escultura e
pintura. O gênio da arquitetura grega manifestou-se particularmente nos
templos. Estes não se destinavam a abrigar o povo, mas apenas a estátua do deus
ou deusa, seu tesouro e as oferendas recebidas. Por isso os templos gregos não
eram de grandes proporções.
Construídos em linhas retas, sem
arcos nem abóbodas, eram retangulares, cercados de colunas, impressionando pela
harmonia das proporções e pelo equilíbrio de volume.
Segundo a forma e a ornamentação
das colunas e dos frisos podemos distinguir dois estilos arquitetônicos: o
dórico e o jônico. Estes foram os mais difundidos; no fim do V século a.C.
surgiu um terceiro estilo, o coríntio.
Os templos ofereceram
oportunidade de expressão artística aos escultores. Decoravam com
baixos-relevos os frisos e esculpiam as estátuas dos deuses, de heróis e de
atletas vencedores nos jogos pan-helênicos. A figura humana foi sua constante
inspiração: flexibilidade do corpo, harmonia de movimento, expressão
fisionômica começaram a transparecer nas obras de Miron e de Policleto (século
V a.C.), atingindo o mais alto grau de perfeição nos trabalhos de Fídias e
Praxíteles.
Os templos e as esculturas da
Acrópole de Atenas nos dão o testemunho mais representativo do apogeu da arte
grega.
Segundo escritores gregos as
estátuas e as paredes dos templos eram muitas vezes pintados; nada, porém, nos
restou dessa manifestação artística; conhecemos a pintura grega pela
maravilhosa cerâmica que a Grécia nos legou. Retratando cenas mitológicas e de costumes,
constituem uma importante fonte de informação sobre a civilização helênica.
* As letras, a filosofia e a
história. Entre as artes, os gregos davam grande importância à música,
intimamente associada à dança e à poesia. O canto em coro fazia-se acompanhar
pela flauta (aulós); o canto individual, pela lira. Nos séculos VII e VI a.C.
surgiram a poesia elegíaca e a poesia lírica, assim chamada porque se declamava
com acompanhamento da lira. Cantava sobretudo os sentimentos humanos e as
belezas da natureza, diferindo da poesia anterior, poesia épica, que narrava
feitos de heróis, também chamada epopéia (Ilíada, Odisséia). Autores célebres
de poemas líricos foram Píndaro, de Tebas (V século a.C.), Alceu e Safo, de
Lesbos.
"Um esquadrão de cavaleiros,
dizem alguns;
É a mais bela coisa sobre a terra
negra;
São soldados, dirão outros, ou
uma frota;
para mim é o que se ama."
(Safo, "Para
Anactoria")
Ligados às festas religiosas e
entrelaçando música, danças e coros surgiram espetáculos teatrais, a tragédia
(das palavras gregas odé = canto e trags = bode, pois os participantes
disfarçavam-se em bodes, animaos ligados ao culto de Dionísio) e a comédia (de
comossignificando procissão alegre). Tragédia e comédia parecem ter ambas
nascido por ocasião das festas dionisíacas, do coro que dançava e cantava em
torno do altar do deus. Aos poucos, alguns dos participantes do coro se
destacaram, passando a representar, inicialmente, cenas a respeito da vida dos
deuses; depois, episódios relacionados com proezas de heróis e, por fim,
acontecimentos históricos ou conflitos entre o homem, o universo e a
fatalidade. A tragédia surgiu primeiro. Os atores usavam máscaras,
representando os indivíduos, mas tipo humanos universais em luta contra o
destino a que estavam submissos. Os objetivos da tragédia eram retratar a
conduta a ser tomada diante das dificuldades e revezes da vida e acalmar a
violência das emoções apresentando o triunfo da justiça.
Grandes dramaturgos foram Ésquilo
(525-456 a .C.),
considerado fundador da tragédia; Sófocles (496-406 a .C.), o mais
significativo (Édipo rei, Antígona, Eletra), e Eurípides (480-406 a .C.).
"Há muitas maravilhas
mas nenhuma é tão maravilhosa
quanto o homem."
(Sófocles, "Antígona")
A comédia surgiu depois da
tragédia, alcançando no século V a.C. o seu maior desenvolvimento, com
Aristófanes, o qual, em suas obras (As rãs, As nuvens, Os cavaleiros) criticou
a democracia ateniense, dirigentes políticos e ideias filosóficas.
Investigando problemas da
natureza e do homem, pensadores gregos tentaram encontrar explicações sobre a
origem e as leis do universo, sobre o sentido e a finalidade da vida humana,
sobre a existência após a morte. Esses pensadores eram chamados filósofos.
No século VI a.C. começaram a
desenvolver-se estudos científicos, estabelecendo bases teóricas para ciências
que os mesopotâmios e os egípcios já haviam aplicado experimentalmente.
Na matemática sobressaíram dois
filósofos, naturais de colônias gregas na Ásia Menor: Tales (Mileto) e
Pitágoras (Samos). Na biologia, Anaximandro (Mileto) iniciou estudos acerca da
evolução de certas espécies animais, estudos continuados detalhadamente no
século V a.C. por Aristóteles. Na medicina, o maior destaque coube a Hipócrates
(Cós). Pesquisando sintomas de moléstias, constatou que toda doença é devida a
uma causa natural. Através de sucessivas experiências, mediante cuidadosa
observação e comparação de sintomas, descreveu uma série de moléstias e
prescreveu o tratamento necessário à cura.
Das indagações filosóficas
transparecem bem claros os traços fundamentais do espírito grego: sua extensa
curiosidade intelectual, sua confiança na razão humana, a busca da ordem e da
moderação. Boa parte da filosofia ocidental foi influenciada por filósofos dos
séculos V e IV a.C.: pelos atenienses Sócrates e Platão e por Aristóteles
(nascido em Estagira, pequena colônia de Atenas, no Mar Egeu), que perscrutaram
o mundo interior do homem.
"Não (poderia) consentir que
um homem, o qual não tenha conhecimento de si mesmo, possa ser sábio. Pois
chegaria mesmo a dizer que justamente nisto consiste a sabedoria, em
conhecer-se a si mesmo; e concordo com quem em Delfos colocou como inscrição a
frase famosa." (Platão, "Cármida")
Ao lado de obras literárias e
filosóficas ressaltam as de três grandes historiadores do século V a.C. O
primeiro, Heródoto, conhecido como pai da História, viajou longamente pela
Grécia, pelo império persa, Egito, Itália, colhendo dados importantes sobre a
cultura dos povos dessas regiões, e descreveu com pormenores as guerras persas;
Tucidídes, relatando a guerra do Peloponeso, baseou-se unicamente em fatos
objetivos, rejeitando lendas, boatos, opiniões infundadas; Xenofonte, discípulo
de Sócrates, continuou o relato da história grega e descreveu campanhas
militares de que participou.
"E quanto às ações que foram
praticadas na guerra, decidi registrar não as que conhecia por uma informação
casual, nem segundo conjetura minha, mas aquelas que eu próprio presenciara e
depois de ter pesquisado a fundo junto dos outros sobre cada uma com o maior
rigor possível. Muito penoso era o trabalho de pesquisa porque as testemunhas
de cada uma das ações não diziam o mesmo sobre os mesmos fatos, mas falavam
segundo a simpatia por uma ou outra parte ou segundo as lembranças que
guardavam." (Tucidídes)
Na religião os gregos atribuíram
características humanas a seus deuses; nas artes plásticas retrataram a beleza
dos seres humanos; na literatura suas paixões e sentimentos; na filosofia,
através do raciocínio, sondaram os problemas da alma humana. Pela primeira vez
na História o homem ocupou um lugar de particular evidência no universo.
HOLLANDA, Sérgio Buarque de.
História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1980. p. 70-74.
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