Cena do filme Philadelphia (1993)
A mídia, seja nas formas convencionais da imprensa, rádio e televisão, seja na internet, se consolidou em enormes conglomerados, frequentemente em combinação com corporações de outros setores. A corporação General Electric, por exemplo, que produz de eletrodomésticos a armas nucleares, é dona da grande rede de TV NBC. Temendo a retirada dos seus patrocinadores e refletindo os valores dominantes dos governos conservadores, as gigantes da mídia americana limitaram a diversidade do discurso político, desviando atenção do seu próprio poder e criando o que intelectuais de esquerda como Noam Chomsky e Edward Herman chamaram de "manufatura do consentimento". De fato, a mídia fez um papel central no avanço da ideologia neoliberal, argumentando que o "mercado livre" é a melhor maneira de resolver problemas sociais e políticos. Poucas vozes alternativas ou críticas a esse respeito encontram espaço na mídia americana convencional.
A rede de televisão Fox ilustra bem a influência conservadora da mídia na era de Reagan, Bush e Clinton, combinando programação convencional de dramas, comédias e esportes com noticiário francamente conservador. As redes tradicionais de televisão, NBC, CBS, ABC e CNN, mudaram seu conteúdo em resposta aos lucros do seu competidor, evitando a reportagem investigativa e crítica. Durante a Guerra do Golfo, os grandes jornais e redes de televisão se autocensuraram ou seguiram sem contestação as diretrizes governamentais, que bloquearam muita informação sobre a intervenção militar norte-americana. Vários repórteres acabaram demitidos por expressar opiniões críticas. A liberdade de expressão é garantida nos Estados Unidos, mas os principais meios de comunicação tornaram-se fortemente ligados ao governo e às elites políticas na época.
Nos anos 1980 e 1990, as redes de televisão segmentaram suas audiências criando programas específicos para mulheres, negros, imigrantes, residentes urbanos e rurais. Evitaram críticas à sociedade e suas tribulações, geralmente usando formatos convencionais. Na televisão, a diversidade da sociedade começou a ser mostrada: novos seriados passaram a abordar histórias de alguns negros, lésbicas, gays e mulheres solteiras. As vidas dos trabalhadores americanos, porém, foram negligenciadas: a vasta maioria dos personagens na televisão passou a retratar somente a classe média e alta, como se trabalho, aflição econômica e conflito social fossem invisíveis. No encalço dos anos 1960, quando a questão do aborto foi tratada na comédia Maude em 1972, a rede CBS apresentou o episódio apesar de protestos; em 1991, quando a personagem principal da comédia Murphy Brown estava decidindo se queria levar adiante a gravidez, o show se tornou uma controvérsia nacional, com o vice-presidente dos Estados Unidos, Dan Quayle, "aconselhando" a personagem a não fazer o aborto e criticando a falta de moralidade na televisão. A "vida negra" nos Estados Unidos foi retratada principalmente por meio de seriados como o Cosby Show, que conta a história de uma família de classe média alta, tocando superficialmente nas questões raciais que os negros enfrentavam no país. O escapismo e a celebração pouco sutil do "jeito americano de viver" não haviam mudado muito desde os anos 1950.
Os estúdios de cinema e gravadoras de música popular conseguiram reter a criatividade e o conteúdo social da sua produção cultural no fim dos anos 1970. Para serem ouvidos, músicos tinham poucas opções a não ser a submissão a empresas poderosas como Columbia e Sony. Como as redes de televisão e a indústria de marketing, produziram LP's, fitas e, mais tarde CD's para mercados segmentados por tipo, idade, gênero e raça. Novas formas de música como o punk, o new wave e o rap foram rapidamente incorporadas e suavizadas pela indústria cultural, enquanto a música que trata de temas sociais foi relegada ao segmento de "música de protesto". Hollywood criou megaproduções para audiências em massa, às vezes tratando de assuntos delicados como a aids, como no filme do diretor Jonathan Demme, Philadelphia (1993), mas raramente tomando riscos políticos.
Houve exceções a essas tendências dos meios de comunicação de massa. A mídia alternativa sobreviveu e até se expandiu com a internet. Empresas independentes lançaram produtos cada vez mais sofisticados e frequentemente alternativos. Mesmo as gravadoras gigantescas produziram opções alternativas e inovadoras, como os trabalhos de Bruce Springsteen, Rage Against the Machine, Green Day, Annie DiFranco, Pearl Jam e Nirvana, que chamaram a atenção de muitos americanos com seus temas de rebeldia, desespero e crítica social. Música rap e a cultura hip hop desenvolveram discursos sobre pobreza, racismo e brutalidade da polícia muito contrários ao status quo. Diretores inovadores como David Lynch e John Sayles também tiveram espaço para romper com as fórmulas vulgares de Hollywood. Numa série de documentários de sucesso de público, Michael Moore criticou, a seu modo peculiar, a concentração de riqueza, a hipocrisia política e o militarismo da sociedade americana. Mas para cada filme de Moore ou John Sayles, houve uma dúzia de filmes como Pearl Harbor (2001), do diretor Michael Bay, uma descarada distorção da história americana em favor do conservadorismo.
Nos anos 1990, a nova natureza multicultural da sociedade americana passou a ser o foco de debates chamados "as guerras da cultura". Nos anos 1970, programas de estudo de questões de gênero, afro-americanos, de povos nativos e de outras minorias surgiram nas universidades e começaram ter influência nos currículos do ensino médio e na vida intelectual em geral.
Escritores e pesquisadores tentaram legitimar o pluralismo cultural e investigar a natureza e os limites da chamada cultura ocidental. Resgataram as biografias de artistas e escritores pertencentes a minorias, estudaram a história e as questões relativas às mulheres e à classe trabalhadora em vez de somente estudar "mortos, brancos, homens".
Em contrapartida, grupos conservadores passaram a afirmar que as críticas feitas ao racismo, ao machismo, à homofobia e a alguns aspectos da cultura ocidental representavam elas próprias uma forma de "intolerância". O termo "politicamente correto" - que havia sido cunhado originalmente pela esquerda nos anos 1970, em especial os defensores da liberdade de expressão e da pluralidade cultural - foi apropriado pela direita, nos anos 1980 e 1990, que passou a usá-lo num outro sentido. Tornou-se um termo derrisório empregado para desqualificar os defensores do multiculturalismo, da ação afirmativa e dos novos rumos no pensamento. Chamar alguém de "politicamente correto" significava, agora, insinuar ser essa pessoa louca, radical demais ou, simplesmente, uma verdadeira chata. Atualmente, nos EUA, esse epíteto ainda é um jeito de estigmatizar um argumento ou uma pessoa sem entrar no mérito se as ideias defendidas fazem sentido ou não (por isso, a esquerda norte-americana não adota mais o termo). William J. Bennett, secretário de Educação do governo de Ronald Reagan, foi o primeiro a usar pejorativamente o termo "politicamente correto", que a partir de então, tornou-se a palavra de ordem da "nova direita".
Autores como Allan Bloom, Roger Kimball e E. D. Hirsch escreveram livros de sucesso criticando a "ignorância" e a "imoralidade" dos jovens e culpando os professores da geração de 1960 pelas deficiências juvenis.
O órgão do governo federal, o National Endowment for the Humanities (NEH), que fomenta pesquisas universitárias nos Estados Unidos, passou a aplicar critérios políticos na escolha de projetos a financiar. Dois eventos da época ilustram a mudança do clima político-cultural nos Estados Unidos. Em 1992, o NEH convidou um grupo de historiadores sob a direção do proeminente historiador Gary Nash para redigir o que seriam as diretrizes nacionais para o estudo de História nas escolas do país. A proposta do grupo, que incluiu alguns elementos de multiculturalismo, foi duramente atacada por conservadores culturais e posteriormente rejeitada. Em 1994, o principal museu histórico do país, o Smithsonian, em Washington, organizou uma exibição sobre o lançamento das bombas atômicas contra o Japão na Segunda Guerra Mundial. Os curadores sutilmente incluíram textos com argumentos de historiadores que questionavam os motivos do presidente Truman e evidenciavam as consequências horríveis dos ataques. Por 10 meses, as Forças Armadas, veteranos, políticos e grupos conservadores fizeram uma forte campanha contra o suposto "revisionismo histórico" da exibição, forçando o museu a cancelá-la.
Sean Purdy. O século americano. In: KARNAL, Leandro (org.). História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2010. p. 271-274.
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