"Todos os homens foram criados iguais e são dotados de certos direitos inalienáveis, entre os quais estão a Vida, a Liberdade e a Busca da Felicidade".
(Thomas Jefferson, Declaração de Independência)
As transformações que tinham caracterizado a Idade Moderna, na Europa ocidental, chegavam agora ao seu ponto culminante, assinalando uma ruptura. Estrutura-se uma nova sociedade - capitalista e liberal - sobre as ruínas da antiga - a sociedade do Antigo Regime.
Os últimos anos do século XVIII foram anos emocionantes. Foram anos de revoluções.
Foi nesta época que teve início na Inglaterra a Revolução Industrial. O surgimento das primeiras fábricas assinalava o surgimento de um novo sistema econômico - o Capitalismo. Surgiam também a burguesia industrial e o operariado.
Importantes inovações técnicas, como a utilização do vapor como força motriz, possibilitavam um aumento da capacidade produtiva, incentivando a busca de novos mercados consumidores e a vida econômica em geral.
Mas as transformações econômicas não se limitaram ao surgimento do sistema fabril. Ocorreram modificações também na agricultura, sobretudo na Inglaterra, onde a progressiva eliminação das instituições de tipo comunitário relativas ao uso da terra e às "áreas comunais" deu origem à exploração individual, em bases capitalistas. Os empresários agrícolas incentivaram a utilização de abudos, de novas técnicas, possibilitando o aumento da produção agrícola.
Uma produção industrial crescente, maiores e melhores colheitas agrícolas exigiam condições de transportes e distribuição mais eficientes. Novas e melhores estradas foram construídas, canais foram rasgados em vários pontos da Europa, os cursos de numerosos rios foram regularizados para facilitar a navegação fluvial. Surgiram novos meios de transporte, como a locomotiva, inventada por Stephenson. Em 1825, já era possível ir de Liverpool a Manchester por via férrea, à espantosa e incrível velocidade de 22 km/h!
Inovações foram feitas também no transporte marítimo, com o surgimento dos primeiros navios a vapor, que encurtavam as distâncias e permitiam o transporte de um volume maior de mercadorias.
As mudanças que ocorriam na indústria, na agricultura e nos meios de transporte incentivaram o crescimento da população, ao mesmo tempo que foram por ele incentivados. A Europa, que possuía 167 milhões de habitantes em 1800, terá 266 milhões cinquenta anos depois. Os progressos na medicina e na higiene tinham conduzido a um declínio da taxa de mortalidade. Neste mesmo período, as cidades europeias cresceram em número e em população.
O mundo parecia mesmo estar virado de pernas pro ar!
Por toda parte surgiam críticas às proibições impostas pelos governos absolutistas aos seus súditos. Os pensadores não mais admitiam restrições à liberdade de expressão, queriam expor livremente suas ideias, defender o mundo que surgia. Os comerciantes e industriais rebelavam-se contra as restrições impostas pela política mercantilista, que entravavam os negócios, diminuíam os lucros. A população não mais suportava os pesados impostos para sustentar os gastos das corruptas cortes absolutistas. Os camponeses revoltavam-se contra as odiosas sobrevivências do sistema feudal.
Em 1789 tudo isso começou a mudar. A eclosão da Revolução Francesa assinalava, no plano político-social, o início de um conjunto de transformações revolucionárias, correspondentes às que no campo econômico estavam relacionadas ao advento do capitalismo. Eram as revoluções liberais ou democrático-burguesas, que se estenderiam pelo século XIX.
Os últimos anos do século XVIII foram anos de revolução. Foram também anos de separação.
O conjunto de transformações econômicas, sociais, políticas e ideológicas que assinalaram a crise da sociedade do Antigo Regime é denominado de Revoluções Burguesas, e caracteriza a história da Europa centro-ocidental nas últimas décadas do século XVIII e nas décadas iniciais do século seguinte.
Essas revoluções assinalam, também, um ponto de separação, pois o processo de transição do feudalismo ao capitalismo foi um processo descontínuo, com ritmo distinto em cada um dos países europeus. Desta forma, enquanto aquele processo se completava em países como a Inglaterra e a França, os países ibéricos ou da Europa oriental, por exemplo, não atravessavam um processo semelhante.
A crise da sociedade do Antigo Regime foi, também, a crise do Antigo Sistema Colonial da era mercantilista.
Às potências europeias que se industrializavam rapidamente, e em especial a Inglaterra, não mais interessavam as relações monopolistas que reservavam os mercados coloniais para as suas respectivas metrópoles. E, por isso, a Inglaterra passaria a defender e incentivar a emancipação das colônias ibéricas na América. "A política britânica é o comércio britânico", dissera William Pitt, ministro inglês, no início do século XIX.
Os próprios colonos também já não mais suportavam os vínculos coloniais. O crescimento das colônias, sobretudo no decorrer do século XVIII, criara interesses novos entre os colonos americanos, que já não se viam como "os metropolitanos do além-mar". Muitos desses colonos aspiravam libertar sua terra do jugo metropolitano, criando nações novas como as que existiam na Europa. Muitos desses colonos achavam que na história das colônias havia chegado o momento da separação.
No mesmo ano que surgia na Europa o livro de Adam Smith - A Riqueza das Nações - combatendo os princípios econômicos do mercantilismo, os habitantes das Treze Colônias Inglesas proclamaram sua independência em relação à metrópole inglesa. Era o ano de 1776. As ideias de liberdade defendidas por muitos europeus eram postas em prática, pela primeira vez, pelos colonos americanos. O Novo Mundo ensinava o caminho ao Velho Mundo.
Quase ao mesmo tempo, nas colônias ibéricas começavam a surgir movimentos que buscavam proclamar a independência, como a Conjuração Mineira, ocorrida no mesmo ano da Revolução Francesa. Quando, em 1807, as tropas napoleônicas invadiram a Península Ibérica, o processo de independência das colônias ibero-americanas teve o seu ritmo acelerado. Elas também chegavam ao seu ponto de separação.
As colônias criadas pelos europeus na América não estavam apenas separando-se de suas metrópoles europeias. Elas também estavam separando-se entre si. Das Treze Colônias Inglesas surgiram os Estados Unidos da América; dos Vice-reinados e Capitanias Gerais da América Espanhola surgiram inúmeras repúblicas; da América Portuguesa surgiu o Império Brasileiro. Mas não apenas separando-se entre si do ponto de vista político. Aquelas regiões onde a colonização assumira a forma de colônias de povoamento deram origem a países onde o desenvolvimento econômico muito em breve acompanharia o desenvolvimento das regiões metropolitanas, e no caso dos Estados Unidos da América chegariam mesmo a ultrapassar o desenvolvimento da antiga metrópole. O mesmo não ocorreria naquelas regiões onde a colonização assumira a forma de colônias de exploração: aqui a independência política nem sempre significou o rompimento dos vínculos econômicos que uniam a região à Europa colonizadora.
O processo de descolonização é, assim, explicado pelo próprio processo de colonização. Os indivíduos que tinham lutado pela independência das colônias americanas sabiam que, na árdua tarefa que lhes cabia de construtores das novas nações, utilizariam quase sempre as velhas pedras do edifício colonial que tinham contribuído para desmontar. Eis aí uma das razões por que é necessário conhecer a História.
Mas esses indivíduos sabiam também que, assim como tinham triunfado na luta pela independência, poderiam ainda influenciar sobre os rumos das jovens nações, imprimindo-lhes os traços de seus ideais.
MATTOS, Ilmar Rohloff de et alli. História. Rio de Janeiro: Francisco Alves/Edutel, 1977. p. 245-252.
O mundo parecia mesmo estar virado de pernas pro ar!
Por toda parte surgiam críticas às proibições impostas pelos governos absolutistas aos seus súditos. Os pensadores não mais admitiam restrições à liberdade de expressão, queriam expor livremente suas ideias, defender o mundo que surgia. Os comerciantes e industriais rebelavam-se contra as restrições impostas pela política mercantilista, que entravavam os negócios, diminuíam os lucros. A população não mais suportava os pesados impostos para sustentar os gastos das corruptas cortes absolutistas. Os camponeses revoltavam-se contra as odiosas sobrevivências do sistema feudal.
Em 1789 tudo isso começou a mudar. A eclosão da Revolução Francesa assinalava, no plano político-social, o início de um conjunto de transformações revolucionárias, correspondentes às que no campo econômico estavam relacionadas ao advento do capitalismo. Eram as revoluções liberais ou democrático-burguesas, que se estenderiam pelo século XIX.
Tomada da Bastilha, Jean-Pierre Louis Laurent Houel
Os últimos anos do século XVIII foram anos de revolução. Foram também anos de separação.
O conjunto de transformações econômicas, sociais, políticas e ideológicas que assinalaram a crise da sociedade do Antigo Regime é denominado de Revoluções Burguesas, e caracteriza a história da Europa centro-ocidental nas últimas décadas do século XVIII e nas décadas iniciais do século seguinte.
Essas revoluções assinalam, também, um ponto de separação, pois o processo de transição do feudalismo ao capitalismo foi um processo descontínuo, com ritmo distinto em cada um dos países europeus. Desta forma, enquanto aquele processo se completava em países como a Inglaterra e a França, os países ibéricos ou da Europa oriental, por exemplo, não atravessavam um processo semelhante.
A crise da sociedade do Antigo Regime foi, também, a crise do Antigo Sistema Colonial da era mercantilista.
Às potências europeias que se industrializavam rapidamente, e em especial a Inglaterra, não mais interessavam as relações monopolistas que reservavam os mercados coloniais para as suas respectivas metrópoles. E, por isso, a Inglaterra passaria a defender e incentivar a emancipação das colônias ibéricas na América. "A política britânica é o comércio britânico", dissera William Pitt, ministro inglês, no início do século XIX.
Os próprios colonos também já não mais suportavam os vínculos coloniais. O crescimento das colônias, sobretudo no decorrer do século XVIII, criara interesses novos entre os colonos americanos, que já não se viam como "os metropolitanos do além-mar". Muitos desses colonos aspiravam libertar sua terra do jugo metropolitano, criando nações novas como as que existiam na Europa. Muitos desses colonos achavam que na história das colônias havia chegado o momento da separação.
No mesmo ano que surgia na Europa o livro de Adam Smith - A Riqueza das Nações - combatendo os princípios econômicos do mercantilismo, os habitantes das Treze Colônias Inglesas proclamaram sua independência em relação à metrópole inglesa. Era o ano de 1776. As ideias de liberdade defendidas por muitos europeus eram postas em prática, pela primeira vez, pelos colonos americanos. O Novo Mundo ensinava o caminho ao Velho Mundo.
Declaração de Independência dos Estados Unidos, John Trumbull
Quase ao mesmo tempo, nas colônias ibéricas começavam a surgir movimentos que buscavam proclamar a independência, como a Conjuração Mineira, ocorrida no mesmo ano da Revolução Francesa. Quando, em 1807, as tropas napoleônicas invadiram a Península Ibérica, o processo de independência das colônias ibero-americanas teve o seu ritmo acelerado. Elas também chegavam ao seu ponto de separação.
As colônias criadas pelos europeus na América não estavam apenas separando-se de suas metrópoles europeias. Elas também estavam separando-se entre si. Das Treze Colônias Inglesas surgiram os Estados Unidos da América; dos Vice-reinados e Capitanias Gerais da América Espanhola surgiram inúmeras repúblicas; da América Portuguesa surgiu o Império Brasileiro. Mas não apenas separando-se entre si do ponto de vista político. Aquelas regiões onde a colonização assumira a forma de colônias de povoamento deram origem a países onde o desenvolvimento econômico muito em breve acompanharia o desenvolvimento das regiões metropolitanas, e no caso dos Estados Unidos da América chegariam mesmo a ultrapassar o desenvolvimento da antiga metrópole. O mesmo não ocorreria naquelas regiões onde a colonização assumira a forma de colônias de exploração: aqui a independência política nem sempre significou o rompimento dos vínculos econômicos que uniam a região à Europa colonizadora.
O processo de descolonização é, assim, explicado pelo próprio processo de colonização. Os indivíduos que tinham lutado pela independência das colônias americanas sabiam que, na árdua tarefa que lhes cabia de construtores das novas nações, utilizariam quase sempre as velhas pedras do edifício colonial que tinham contribuído para desmontar. Eis aí uma das razões por que é necessário conhecer a História.
Mas esses indivíduos sabiam também que, assim como tinham triunfado na luta pela independência, poderiam ainda influenciar sobre os rumos das jovens nações, imprimindo-lhes os traços de seus ideais.
MATTOS, Ilmar Rohloff de et alli. História. Rio de Janeiro: Francisco Alves/Edutel, 1977. p. 245-252.
Nenhum comentário:
Postar um comentário