"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Contribuições da colonização japonesa no Brasil

Imigrantes japoneses esperando acomodações na Hospedaria dos Imigrantes (São Paulo). Fotógrafo desconhecido

Foi a expansão da lavoura cafeeira e a falta de mão-de-obra nas grandes fazendas que determinaram a vinda da primeira leva de imigrantes japoneses, em 1908, com a ajuda financeira do Estado de São Paulo. Outra leva bem maior do que a primeira, e também destinada à lavoura entrou no Brasil depois de 1925. Dessa vez a imigração contou com a ajuda financeira do próprio governo japonês, interessado em aplicar dinheiro no setor agropecuário, dadas as vantagens oferecidas pelo desenvolvimento econômico do nosso país. Uma terceira leva entrou a partir de 1953, e mais uma vez dirigiu-se para a lavoura.


Família de imigrantes japoneses, década de 1930. Museu Histórico da Imigração Japonesa. Fotógrafo desconhecido

Os japoneses concentraram-se sobretudo no Estado de São Paulo, fixando-se no vale do Ribeira, onde desenvolveram grandes plantações de chá e de banana; no oeste do Estado, onde se dedicaram à cultura do café, do arroz, do amendoim, do algodão e do rami; nos arredores da capital, onde fizeram plantações de verduras e de frutas. Estabeleceram-se também no norte do Paraná, na zona de terra roxa, cultivando principalmente café e algodão; e, em menor escala fixaram-se na Amazônia, próximos à foz do rio Amazonas, onde se dedicaram à plantação de juta e de pimenta.


Imigrantes japoneses em uma plantação de batatas, década de 1930. Museu Histórico da Imigração Japonesa. Fotógrafo desconhecido

A adaptação dos imigrantes japoneses às condições de vida no Brasil não foi nada fácil, pois havia grandes diferenças de língua, de religião, de hábitos e de costumes.

No início tiveram muitas dificuldades em acostumar-se ao tipo de alimentação comum nas zonas rurais. Adotaram alguns alimentos nossos, mas sentindo falta de certos temperos e gêneros a que estavam habituados, começaram a plantá-los. É o caso do caqui, do feijão de soja, da mandioquinha japonesa, e de outros produtos que enriqueceram nosso mercado de verduras e de frutas.

Com respeito à habitação, os imigrantes japoneses construíram casas de vários tipos: inicialmente de pau-a-pique cobertas de palha, como o rancho caboclo; depois, inteiramente de ripas de madeira; e, quando melhoravam sua situação econômica, de tijolos cobertas de telhas. Nas primeiras habitações dos imigrantes conservam-se traços das casas típicas das zonas rurais japonesas: a forma quadrada e a divisão interna. A casa dividia-se em dois cômodos, um com soalho de tábuas, outro de chão batido. A parte assoalhada destinava-se durante o dia para sala de estar da família, de noite para quarto de dormir, onde eram abertas as esteiras que os imigrantes haviam trazido consigo do Japão. A parte do chão batido servia de sala de refeições e era também o lugar onde se recebiam as visitas. A cozinha era à parte, num puxado da casa.

Comércio japonês em São Paulo, ca. 1940. Fotógrafo desconhecido

A grande contribuição dos japoneses foi no setor da nossa agricultura, introduzindo técnicas especiais de cultivo e organizando cooperativas agrícolas muito importantes, como por exemplo, a Cooperativa Agrícola de Cotia, fundada em 1927, vasta empresa que reúne a produção de vários lavradores e distribui a mercadoria aos centros de abastecimento. Contribuíram também largamente para o desenvolvimento da indústria e do comércio interno e externo do país.

O comércio japonês é dos mais ativos em São Paulo, onde há um bairro com hotéis, restaurantes, lojas tipicamente japonesas e vários cinemas que exibem filmes trazidos diretamente do Japão.

HOLLANDA, Sérgio Buarque de (org.). História do Brasil: da independência aos nossos dias. São Paulo: Nacional, 1980.

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