Pintura mural na mastaba de Khnumhotep e Niankhkhnum, um casal egípcio do sexo masculino, que viveu por volta de 2400 a .C. Os pares são retratados durante um beijo, a mais íntima pose na arte egípcia
"Nesse palco fervilhante de populações, se desenvolveram a agricultura e o comércio. E também o cavalo e o carro, a cunhagem de moedas, a lei e o governo, a matemática e a medicina, o calendário, a escrita e o alfabeto, o papel e a tinta, os livros e as bibliotecas, a literatura e a música, a escultura e a arquitetura, o monoteísmo, o xadrez, o jogo de bola, a cerveja e o vinho."
(Will Durant, historiador)
Apesar de a religião desempenhar papel central na vida cotidiana dessas civilizações, as primeiras reflexões e descobertas dos homens sobre o mundo tinham caráter eminentemente prático, pois estavam muito relacionadas com suas dificuldades concretas, decorrentes da sua relação com a natureza. Era um desafio, por exemplo, aproveitar as enchentes do rio Nilo, prever suas inundações. Ao buscar soluções para essa questão, os egípcios deram contribuições valiosas para a matemática e a geometria, pois desenvolveram as operações da soma, da divisão e da subtração; inventaram o sistema decimal e o ábaco, e calcularam as áreas dos hexágonos, retângulos e triângulos. A construção das pirâmides, por sua vez, requeria conhecimentos de matemática, geometria, engenharia (além de uma quantidade significativa de força humana). Já o trabalho com a mumificação exigia um bom conhecimento do corpo humano: os egípcios eram habilidosos cirurgiões e sabiam relacionar as doenças com as suas causas naturais. Além disso, foram inventores dos relógios de sol e de água e fizeram conquistas expressivas no fabrico do vidro, do papel e da metalurgia.
É interessante frisar que as pirâmides eram construções que simbolizavam a imortalidade dos faraós; sua forma representava os raios de Sol caindo sobre a Terra, pois se acreditava que o faraó ascenderia ao céu por meio deles.
Além das pirâmides, havia os templos, como os de Carnac e Luxor, construídos já na época do Novo Império, que se destacavam pela solidez e dimensão grandiosa. A escultura e a pintura tinham lugar secundário, funcionando como auxiliares da arquitetura. As esculturas eram geralmente grandiosas, sobretudo as estátuas de faraós. Na pintura, temos registros do cotidiano da vida dos egípcios, com seus murais de cores vivas.
Os escribas faziam uso da escrita hieroglífica, que inicialmente foi usada para designar objetos concretos e depois ganhou maior complexidade. Além dessa escrita, decifrada pelo francês Jean-François Champollion, no início do século XIX, os egípcios deixaram dois outros sistemas de escrita: o hierático, empregado para fins práticos, e o demótico, uma forma simplificada e popular do hierático.
A grande maioria da população egípcia vivia em habitações modestas, ao contrário da minoria privilegiada, que morava em casas bem decoradas, com muitos utensílios e mesa farta de frutas, carnes e queijos. A cerveja, não fermentada, era bebida popular, pois o vinho fazia parte apenas da mesa dos mais ricos. Era costume o uso de jóias como forma de ostentar riqueza. A caça, a pesca, a natação e as corridas de barco eram alguns dos divertimentos mais comuns.
Na Mesopotâmia, as constantes guerras foram um fator de instabilidade que repercutiu nas atividades culturais. A cultura suméria serviu de acervo comum para os povos que habitavam a região. Sua arte estava livre das convenções religiosas que tanto limitaram a arte egípcia. A construção de templos remonta ao quarto milênio a.C., embora a escassez de materiais como pedra e madeira tenham limitado bastante as atividades arquitetônicas. Sua construção mais famosa é o zigurate, que tinha a forma de torre, com vários terraços e um pequeno templo na parte superior.
A escrita suméria era cuneiforme, gravada em tabuletas de argila. Na matemática, os sumérios descobriram a extração da raiz quadrada - raciocínio que usavam, por exemplo, para calcular a produtividade dos campos cultivados -, conheciam os processos de multiplicação e divisão, e tinham um sistema de numeração baseado no número 60. Utilizavam um calendário lunar e inventaram um relógio de água. Eram supersticiosos, acreditando que a maioria das doenças era causada pelos maus espíritos.
Não podemos esquecer também a expressividade da arte assíria. A escultura, com seus baixos relevos, tematizava sobretudo a guerra e a caça, praticada como esporte principal das elites. A grandiosidade dos templos e palácios de pedra simbolizava os privilégios dos mais favorecidos. Na arquitetura, privilegiava-se o arco e a cúpula mais do que as colunas. Além disso, coube a Assurbanípal (c. 668-626 a.C.) a construção da biblioteca de Nínive, uma das mais antigas que se têm notícia. Mas a eternidade não existe para os impérios. Em 612 a.C., a capital do Império foi tomada pelos caldeus, conhecidos também como novos babilônios, sob o comando de Nabopolassar.
Os caldeus eram grandes observadores dos astros; seus mapas celestes eram minuciosos, pois havia uma identificação dos deuses com os astros - daí a astrologia ter um lugar de destaque na vida desse povo. Já concebiam a noção de pecado e de culpa, tão importante para a constituição das religiões hebraica e cristã. Seu sistema de medição do tempo teve influência na cultura ocidental: inventaram a semana de sete dias e dividiram o dia em em doze horas duplas. Quanto à sua arte, ela se destacava pela grandiosidade arquitetônica.
Os cretenses foram grandes artistas. Os murais de seus palácios evidenciam a beleza da sua pintura. Era notável também sua habilidade na escultura, na cerâmica e no artesanato. A estrutura da sociedade cretense permitia à população uma vida bastante livre. Assim, era comum a prática de esportes, como o xadrez e o boxe, e as idas aos teatros - construídos de pedra - para assistir a desfiles e exibições musicais. A mulher, que gozava de direitos semelhantes aos do homem, participava ativamente do cotidiano da cidade, não ficando restrita ao mundo doméstico. A principal divindade dos cretenses era uma figura feminina, símbolo da fertilidade, da vida e da morte, representando tanto o bem como o mal. Os cretenses também adoravam animais, como o touro, e enterravam os mortos com seus objetos, alimentos e bebidas.
A maior contribuição dos fenícios foi a criação e divulgação de um alfabeto, invenção que facilitou a comunicação entre os povos e sobretudo a transmissão da cultura (mais tarde, o alfabeto fenício serviria de base para os alfabetos grego e latino). Embora estivesse associada aos interesses imediatos dos fenícios na expansão dos seus negócios, a elaboração do alfabeto é exemplo de como, na História, as invenções constituem uma busca de superação das dificuldades e são fundamentais para a construção da cultura.
A análise dos cretenses e dos fenícios nos dá uma dimensão mais ampla do que foi a História na Antiguidade, uma vez que eles se destacaram como grandes comerciantes, daí decorrendo o desenvolvimento de suas cidades. Os cretenses terminaram por influenciar seus conquistadores, os gregos; já os fenícios, dominados pelos persas, deixam marcas na formação da cultura ocidental e na organização de sua vida econômica.
A História do mundo antigo tem conexões com práticas sociais existentes ainda na sociedade atual. Não podemos perdê-las de vista nem tampouco desprezá-las. O historiador deve estar atento às mudanças e às permanências. Elas dão o ritmo da História.
REZENDE, Antonio Paulo e DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005.
Muito interessante, vai além das leituras de livros de história comuns, feitas para escolas tanto públicas como particulares com poucos detalhes de conhecimentos.
ResponderExcluirGrato Juciene Ferreira. Abraços poéticos.
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