Cotidiano, Carybé
Capoeira na praia, Carybé
* Técnicas e artes. Os negros eram mais adiantados do que os indígenas brasileiros, particularmente os do grupo sudanês, que haviam sofrido influência da cultura árabe. Os árabes comerciavam no norte da África, nas costas do Mediterrâneo; suas caravanas iam e vinham desde o oceano Atlântico até o oceano Índico, atravessando o deserto do Saara e o vale do rio Nilo.
Os negros do grupo banto e sudanês não eram nômades, não mudavam frequentemente de lugar, isto é, eram sedentários. Viviam da caça, da pesca e da agricultura, bem como da troca e venda de seus produtos. Cultivavam cereais, plantas alimentícias e outras plantas, de onde extraíam fibras para tecer (algodão) e matérias corantes, como o anil. Conheciam uma espécie de milho e uma espécie de amendoim (diferente do milho e do amendoim brasileiros), a banana, algumas espécies de pimenta, o quiabo, o gergelim, a erva-doce. Extraíam azeite de palmeira, o dendê, para o preparo dos alimentos, e usavam bebidas fermentadas, feitas de frutas de palmeira e de grãos.
Sua alimentação era bastante rica, baseada em vegetais, leite e carne, pois criavam gado em quantidade. Criavam também animais domésticos: a cabra, o porco e a galinha. Conheciam o uso de vários metais, como o ferro, o cobre e o bronze. Trabalhavam em marfim, pedra, terracota, madeira e bronze.
Suas cerimônias e danças religiosas eram muito movimentadas e coloridas.
Folclore, Carybé
"O negro entra na sociedade brasileira como cultura dominada, esmagada. E as marcas da escravidão persistem, no disfarçado preconceito racial, na situação miserável de muitos. Não se pode pensar em Brasil sem levar em conta toda essa história."
(ALENCAR, Francisco [et alli]. História da sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1979. p. 30.)
* O que devemos ao negro. O negro, além do índio, foi outro elemento muito importante na formação do nosso povo. Os mestiços descendentes de brancos e negros, mulatos, e os mestiços descendentes de negros e índios, cafuzos, deram muito de seu esforço e de seu trabalho à evolução histórica brasileira.
Uma das contribuições mais conhecidas do negro foi para os pratos típicos da cozinha do Nordeste, particularmente da Bahia, onde os africanos foram introduzidos em maior número.
Vindo como escravos e não como homens livres, os negros tiveram de se adaptar à vida dos senhores brancos. Por isso, os pratos africanos foram recriados aqui, misturando produtos originários da África com produtos da terra brasileira. O azeite-de-dendê combinou-se com os pratos de sal, e o coco e o leite de coco ajuntaram-se à maioria dos doces e dos quitutes. Todos nós ouvimos falar de vatapá, acarajé, xinxim; de doces como mungunzá, quindim, cocada, pé-de-moleque.
Além de criar pratos típicos para a cozinha brasileira, o negro introduziu na nossa linguagem termos que ainda continuamos usando: batuque, caçamba, canga, cafuné, caçula, cachaça, cafajeste, cachimbo, dengo, mandinga, maribondo, mucama, moleque, quitute, quitanda. As mães-pretas inventaram palavras doces e carinhosas para a linguagem das criancinhas: neném, dodói, dindinha, tatá, au-au.
Os negros trouxeram ainda, para o Brasil, vários instrumentos musicais usados na África: agogô, atabaque, berimbau, reco-reco, tamborim, zabumba.
HOLLANDA, Sérgio Buarque de (org.). História do Brasil: das origens à independência. São Paulo: Nacional, 1980.
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