"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

domingo, 11 de dezembro de 2011

A Revolução Industrial: mudanças nos hábitos e valores da sociedade inglesa


Trabalho infantil na Inglaterra no século XIX

Longas horas e trabalho duro não eram novidades para os pobres, mas os que trabalhavam na terra tinham pelo menos períodos mais folgados. No inverno, a falta de luz diminuía o número de horas em que era possível trabalhar. E os que teciam em casa podiam até certo ponto estabelecer seus próprios horários.

Agora, o ritmo de trabalho era invariável e inflexível, com os proprietários querendo maximizar a produção de suas novas e caras máquinas. Os operários - homens, mulheres e crianças - labutavam até quinze horas por dia, com poucas pausas rigorosamente controladas. Os horários rígidos eram impostos com multas e, no caso das crianças, espancamentos, por qualquer atraso ou erro no trabalho. Com muita frequência, esse regime resultava em brutalidade desnecessária . [...]

A iluminação a gás, instalada nas fábricas pela primeira vez em 1805, significava que a duração do dia de trabalho era agora ditada pelo homem, não pela natureza. A iluminação artificial permitia que as horas de trabalho fossem esticadas até o limite e, amiúde, para além dele. As figuras deformadas daqueles que labutavam na indústria têxtil davam um testemunho horroroso dos longos dias passados em movimentos repetitivos e incessantes que envolviam o uso de todos os membros. Um menino de quinze anos de Bradford, deformado permanentemente por mais de dez anos de lanifício, tinha apenas 1,14 metro de altura. Ele trabalhara em turnos de catorze e quinze horas e ficara "com meus joelhos dobrados de ficar tanto tempo em pé", como explicou a uma comissão de inquérito. Sir James Kay-Shuttleworth, inspecionando as condições em Manchester, observaria mais tarde: "Enquanto as máquinas funcionam, as pessoas devem trabalhar - homens, mulheres e crianças estão jungidos ao ferro e vapor. A máquina animal [...] está acorrentada à máquina de ferro, que desconhece sofrimento ou cansaço."

[...] Os milhares de tecelões manuais de Lancashire e Yorkshire sempre se ressentiam da chegada das máquinas, sabedores de que elas reduziriam a importância deles e levariam ao desemprego e salários baixos. Já no século XVII, as tentativas de avanço tecnológico tinham encontrado resistência, quando tecelões de Londres quebraram teares holandeses que prometiam aumentar a eficiência. E explosões periódicas de destruição de máquinas continuaram a ocorrer, com intensidade crescente, ao longo do século XVIII.

HISTÓRIA EM REVISTA. A força da iniciativa - 1800-1850. Rio de Janeiro: Time-Life Livros/Abril Livros, 1992. p. 61-62.

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