Putune
Chamados de mercadores da
Mesoamérica pela historiografia, os putunes eram excelentes navegadores e
dominaram as vias marítimas e fluviais da região maia. A partir de suas bases
localizadas no México, em torno da lagoa de Térmicos, e na Guatemala, os
putunes estenderam suas vias de comércio contornando a península do Yucatán e penetrando, através dos rios, no
interior da América Central, além das cidades do Velho Império.
Culturalmente os putunes eram um
grupo periférico diante de seus irmãos maias do norte e do leste. Pressionados
pelas invasões nahuas do México, deslocaram-se e ocuparam o norte do Yucatán,
enquanto um outro grupo, os itzaes, estabelecia-se na ilha de Cozumel, do outro
lado do Yucatán, e na desembocadura do rio Belize, possibilitando uma tranquila
viagem de cabotagem entre o México e a Guatemala.
Utilizando Cozumel como
cabeça-de-ponte, os itzaes se fixaram em terra firme, avançando rumo a
Chichén-Itzá (918 d.C.). Essa data posterior, partindo de Potonchán, os putunes
alcançaram a região meridional através dos rios. Na confluência do Grijalva com
La Pasión e Chixoy, transformado daí no rio Usumacinta, os mercadores
construíram um importante entreposto comercial num local denominado Altar dos
Sacrifícios. Partindo desse entreposto, podia-se alcançar a fronteira com
Honduras e o estuário do rio Belize.
Entre 850 e 950, os putunes
mantiveram uma linha comercial com a Confederação Asteca, com os maias das
terras baixas e com a península do Yucatán. Dominavam o norte de Tabasco, o sul
do Campeche, as costas da Guatemala e o estuário do rio Belize. Lembremos que,
no ano de 987, os itzaes receberam um grupo de emigrantes de Tula, liderados
por Quetzalcoatl-Kukulkán, fato que provovou profundas alterações na vida dos
itzaes.
Os maias criaram um mercado para
suas produções artísticas. Exportavam tecidos, cerâmica multicolorida, jade
esculpido e pedras vulcânicas artisticamente trabalhadas. Colombo, em sua
quarta viagem, encontrou uma grande canoa (ignoramos sua procedência) carregada
de mantas de algodão, blusas sem mangas com desenhos coloridos, espadas de
madeira com incrustações de pedras nas suas partes cortantes, pequenos machados
de cobre, sinos e grande quantidade de sementes de cacau. O cacau servia como
moeda, sobrevivendo nessa função em regiões interioranas da América Central até
o século XIX.
A canoa era comprida como uma
galera romana, com 2,50 m
de largura e uma cabine no meio, levava mais de 25 homens, bem como algumas
mulheres e crianças. Evidentemente o comércio de longa distância devia ser bem
organizado para permitir o transporte de passageiros.
Yucatán comercializava mantas,
penas e outras mercadorias com Honduras, retornando com cacau. Para o México
exportava cera e mel, além do sal, importante elemento entre os itens
comercializados. As salinas do norte do Yucatán permitiam que as aldeias de
pescadores salgassem o pescado a ser consumido nas cidades-Estados.
Um dos maiores centros comerciais
da América foi Xicalango, hoje debaixo do mar, localizado num braço
setentrional da lagoa de Térmicos, onde mercadores astecas possuíam um bairro
especial. Jade, pedras de origem vulcânica, tinturas naturais e de moluscos,
machados, cerâmicas, conchas, penas, sal, cal, peles, conchas de tartaruga,
mel, cera, produtos vegetais, tecidos de algodão, tabaco, milho, cacau,
borracha... são algumas das mercadorias comercializadas em Xicalango.
Devemos ver nos putunes
comerciantes capazes de efetuar comércio a longa distância, e no modo de
produção tributário mercantilizado a organização capaz de manter as redes
comerciais.
PEREGALLI, Enrique. A América que
os europeus encontraram. São Paulo: Atual, 2003. p. 44-47.
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