"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O legado do século XIX: Romantismo e Realismo

Construção de barcos perto de Flatford Mill, Constable

[Romantismo] O século XIX, período de enorme atividade no campo da ciência, das artes e da literatura, foi dominado em sua primeira metade pelo Romantismo.

Nas últimas décadas do século XVIII desenvolveu-se na Europa um movimento de reação ao predomínio da cultura iluminista, caracterizada pelo excessivo culto à razão. Esse movimento, conhecido como Romantismo, preconizava a necessidade de expressar e promover o sentimento, a intuição, a imaginação.

O Romantismo nasceu na Alemanha tendo como promulgadores os irmãos Schegel e os poetas Novallis e Hölderlin.

Como artistas, os românticos desejavam libertar-se das rígidas formas e modelos neoclássicos e reagir contra o materialismo da poderosa sociedade industrial que se vinha afirmando neste período.

Muitos foram os temas tratados pela literatura no Romantismo: a liberdade, acentuando o valor do individualismo e a revolta contra a opressão; a beleza; a natureza em seu estado selvagem e o homem em seu estado mais puro. Daí o interesse dos românticos pelos mitosm pelas lendas, pelo folclore, pelo exótico, pela revalorização da Idade Média, considerada a grande época da justiça e da aventura.

Foram expressões máximas dessas idéias os poetas alemães Schiller e Goethe; os poetas ingleses Byron, Shelley, Keat. Na França sobressaíram os escritores Victor Hugo e George Sand, os poetas Musset, Lamartine; na Rússiam Pushkin; na Itália, o romancista Manzoni e o poeta Leopardi.

A pintura, como a literatura, refletiu os ideais românticos: o francês Delacroix coloriu cenas exóticas ou se inspirou em revoluções políticas; os ingleses Constable e Turner encontraram sua expressão artística na natureza.

A arquitetura, sobretudo a arquitetura inglesa, reviveu o estilo gótico da Idade Média: edifícios públicos, casas, igrejas voltaram a exibir arcos pontiagudos, flechas e torres caracteristicamente medievais.

Também a música romântica representou uma ruptura com a tradição, tanto na técnica como nas formas: o piano substituiu o cravo, a orquestra incluiu vários outros instrumentos, e a sinfonia tornou-se mais complexa e mais longa. Essas mudanças são patentes nas composições de grandes músicos românticos como Beethoven, Schubert, Chopin e Liszt.

[Realismo] Em meados do século XIX iniciou-se a reação contra os exageros do Romantismo, cujos princípios não mais satisfaziam aos anseios da época; embora não desaparecendo, o Romantismo deixou de ser a estética dominante de um mundo em rápida transformação.

Em literatura afirmou-se o Realismo, consciente dos males da sociedade de seu tempo, que retratava cruamente, desejoso de alertar o leitor sobre os inúmeros problemas sociais que afligiam este período.

Destacaram-se como grandes representantes desta nova estética: Dickens, Thackeray, Eliot, na Inglaterra; Balzac, Flaubert, Zola, na França; Verga, na Itália; Mark Twain, nos EUA; Dostoievski e Tolstoi, na Rússia; Ibsen, na Noriega.

Na pintura o realismo teve seu representante no francês Coubert; inspirando outros artistas a romper com a tradição romântica, estimulou um novo movimento conhecido como Impressionismo, que desenvolveu novas técnicas procurando representar cenas da realidade, não distorcidas pelo sentimento. Houve famosos representantes do Impressionismo, na sua maioria franceses: Monet, Degas, Renoir, entre outros. Já um tanto destacados, com novas técnicas e novos modelos de inspiração sobressaíram os franceses Cézanne e Gauguin, o holandês Van Gogh.


Três banhistas, Cézanne

A arquitetura, como as outras artes, rompeu com a tradição romântica, abandonando as imitações góticas; também o aparecimento de novos materiais de construção (ferro, concreto armado, vidro) acelerou essa ruptura e permitiu criar estilos mais originais, dentro do princípio da funcionalidade.

Somente a música, na segunda metade do século XIX, apresentou várias tendências: romântica, seguida pelo alemão Brahms, pelo italiano Verdi e, em parte, pelo russo Tchaikovski; de tradições nacionalistas, cujo maior representante foi o alemão Wagner, folclórica, como a dos compositores russos Moussorgski e Rimski-Korsakov; impressionista, na qual tendência sobressaíram os compositores franceses Claude Debussy e Maurice Ravel.

HOLLANDA, Sérgio Buarque de. História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1980. p. 244-247.

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