"Crucificação segundo S. João", Salvador Dali
Vivemos em uma época de crise, uma crise do Homem: uma crise em todos os setores da vida - político, econômico, social e ideológico. As profundas e rápidas mudanças, que estão ocorrendo na época atual, transformaram não apenas a maneira de viver, mas também a maneira de pensar das pessoas.
Talvez o que você mais sinta seja a chamada crise de valores. O que é certo? O que é o bem? O que é o mal? Deus existe? A quem devo obedecer - à minha vontade ou às determinações legais? Qual o papel da mulher no mundo atual? A miséria, a fome, as doenças, o analfabetismo, a AIDS são castigos de Deus aos homens? O que é democracia? O que é comunismo? O socialismo acabou? O que é subversão?
Esses tipos de indagações perturbam o espírito de muitas pessoas no Mundo Atual. No entanto, são apenas reflexos de problemas mais sérios [...].
A Igreja Católica também não poderia ficar imune à crise. Vivemos também uma crise religiosa. Não mais existe a plena aceitação de uma vida extraterrena onde persistam desigualdades e injustiças - os progressos científicos e tecnológicos possibilitaram a melhoria dos padrões de vida de muitos e, por outro lado, evidenciaram o contraste entre povos ricos e povos pobres... Seria isso a justiça divina?
Não... isso é "justiça" do homem...
Foi a partir do pontificado de João XXIII, através das encíclicas Mater et Magistra e Pacem in Terris, que a Igreja começou a tomar posições bastante significativas diante dos problemas atuais.
A partir daí, a Igreja assumiu uma posição clara e definida: o Concílio Vaticano II, a encíclica Populorum Progressio, de Paulo VI, e as reuniões do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) foram momentos marcantes, pois definiram o posicionamento da Igreja em face de atuais condições de vida.
[...]
"Na época atual, a Humanidade está em vias de grandes transformações, agitações e desenvolvimentos, que mudam não apenas suas maneiras exteriores de viver, mas também suas maneiras de pensar [...] Tudo isso, como as ondas de um mar, envolve e sacode a própria Igreja".
São palavras do papa Paulo VI que refletiam a crise que atravessava a Igreja Católica no Mundo Atual, minada pelos progressos da secularização, pela redução dos quadros eclesiásticos, pela recusa de muitos em aceitar, resignadamente, as promessas de uma vida extraterrena sem injustiças e desigualdades, pelo avanço da tecnologia e da ciência permitindo a melhoria de vida de muitos e levando-os a só se preocupar com o conforto e a não mais encontrar tempo para as práticas religiosas.
O próprio avanço das filosofias materialistas (existencialismo, marxismo, etc.), a expansão do protestantismo, a crescente laicização do Estado e, segundo alguns, a "crise de instituições eclesiásticas, sempre concebidas na perspectiva de uma civilização rural ultrapassada", constituíam graves problemas da Igreja Católica.
"Três fatos podem ser apontados como tentativas de respostas às novas condições da missão da Igreja: o aparecimento da Ação Católica, a experiência dos padres operários e o desenvolvimento do pensamento teológico, sobretudo na França [...] Apesar do pequeno número de pessoas diretamente envolvidas, o problema da 'Igreja no mundo' aflorava à consciência com uma nova forma de se situar, de ver e de viver". (PIERUCCI, A. F. As grandes religiões. São Paulo: Abril Cultural, 1973. v. 5, p. 966.)
Contudo, foi a ascensão de João XXIII (1958-1963) ao soberano pontificado o acontecimento mais significativo pelas implicações dela decorrentes: a publicação das encíclicas Mater et Magistra (1961) e Pacem in Terris (1963), além da reunião do Concílio Vaticano II (1962-1965).
Embora reconhecendo os ensinamentos das encíclicas Rerum Novarum (Leão XIII) e Quadrogesimo Anno (Pio XI), a Mater et Magistra considerou que "a socialização é um dos aspectos característicos da nossa época", afirmou que "o progresso social deve acompanhar e igualar o desenvolvimento econômico, de modo que todas as categorias sociais tenham parte nos produtos obtidos em maior quantidade". Reafirmou o direito de propriedade, porém, insistiu para "que ela se difunda efetivamente entre todas as classes sociais" e exerça uma função social. Referiu-se, várias vezes, à situação dos grupos dos países subdesenvolvidos submetidos à "condição de vida infra-humana", sendo necessário "educar as consciências no sentimento da responsabilidade que pesa sobre todos, particularmente sobre os mais favorecidos", o nivelamento econômico entre as nações, a cooperação científica técnica e financeira, devendo as nações economicamente desenvolvidas respeitar as individualidades próprias de cada país.
Na encíclica Pacem in Terris, João XXIII doutrinou sobre a paz dos povos fundamentada na verdade, justiça, caridade e liberdade. Inicialmente, tratou dos direitos do homem: integridade física; meios necessários a um digno padrão de vida; respeito à liberdade de manifestação; reais possibilidades de instrução e participação na vida pública. Tornou a lembrar que o direito de propriedade se situa no contexto de uma função social. [...]
A reformulação do pensamento da Igreja evidenciou-se mais ainda no Concílio Vaticano II, cuja direção efetiva coube ao papa Paulo VI, pois João XXIII faleceu após a primeira sessão. Apesar da resistência de uma corrente conservadora, os "progressistas" aprovaram reformas litúrgicas, como a celebração do culto em língua nacional; a recomendação da utilização dos meios de comunicação social (cinema, televisão etc.); o reconhecimento das liberdades de consciência e religiosas; a ampliação da participação dos leigos na vida da Igreja; a definição de uma Igreja democrática e ecumênica, com isso admitindo a reaproximação com os não católicos; a criação de Congregação da Doutrina da Fé, que pôs fim ao Tribunal do Santo Ofício.
[...]
Em nova encíclica, a Gaudiam et Spes, Paulo VI deixou clara a preocupação da Igreja em se identificar com a maioria que vivia na pobreza.
Essa reformulação do pensamento e atuação da Igreja Católica ficaram evidentes na reunião do II Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) em Medellín, na Colômbia (1968), quando foi fixado o novo posicionamento da Igreja em face das condições socioeconômicas e político-religiosas da América Latina.
"A pobreza de tantos irmãos clama por justiça, solidariedade, testemunho, compromisso, esforço e superação para o cumprimento pleno da missão salvífica confiada por Cristo. A presente situação exige, pois, dos bispos, sacerdotes, religiosos e leigos o espírito de pobreza que, 'rompendo as amarras da posse egoísta dos bens temporais, estimula o Cristianismo a dispor organicamente da economia e do poder em benefício da comunidade'.
[...]
Queremos que a Igreja da América Latina seja evangelizadora e solidária com os pobres, testemunha do valor dos bens do Reino e humilde servidora de todos os homens de nossos povos. [...]" (Trechos de Conclusões do II CELAM em Medellín)
Em documento episcopal foram analisados a explosão demográfica, o analfabetismo, a má distribuição de riquezas - como a concentração da propriedade das terras nas mãos de uma minoria -, a dependência ao capital estrangeiro e as tensões entre as classes e os países latino-americanos, bem como as tensões internacionais. O documento apontou a necessidade de promover uma radical modificação nas estruturas políticas, econômicas e sociais, devendo a Igreja comprometer-se nesse processo: assinalou a marginalização política do povo e as formas de opressão de grupos e de setores dominantes que exploravam o anticomunismo e diversas outras práticas, "qualificando de ação subversiva toda tentativa de mudar um sistema social que favorece a permanência de privilégios". Insistiu que a Igreja devia se engajar na promoção de uma educação libertadora, na instauração da justiça e da paz, na ajuda aos oprimidos para conhecer e lutar pelos seus direitos e no estímulo a todas as iniciativas que contribuíssem para a formação do homem.
No III CELAM, realizado em Puebla, no México (1979), novamente confrontaram-se diversas correntes do pensamento católico. Mais uma vez, prevaleceu a ala progressista. Reafirmou-se a Teologia da Libertação com as propostas de mudanças profundas nas estruturas latino-americanas, em benefício da maioria, ou seja, dos pobres.
Com a morte de Paulo VI (1978), o trono pontifical foi ocupado por João Paulo I, que faleceu um mês após a sua eleição. Seu sucessor foi o polonês [...] João Paulo II, que realizou inúmeras viagens, visitando países da Europa, América, África e Ásia.
Sua atuação caracterizou-se pela maior preocupação com os temas espirituais e disciplinares em lugar dos problemas sociais.
Na encíclica Redemptor Hominis (1979), o papa João Paulo II sustentou ser Cristo o centro do Universo e da História, o Salvador dos homens. Na Dives in Misericordia (1980), considerou que o divórcio, o aborto e o relaxamento moral constituem forças desagregadoras da família; também apontou a aflição do homem diante da tortura, da fome e da guerra.
Sua terceira encíclica, a Laborem Exercens (1981), referiu-se ao conflito entre o capital e o trabalho, propondo uma composição entre patrões e empregados visando ao bem comum. [...] Na Sollicitudo Rei Sociales (1987), revelou uma preocupação com os problemas sociais, afirmando ter havido uma "ampliação do abismo entre as áreas do norte desenvolvido e do sul em desenvolvimento, uma velocidade de aceleração diversa, que tende a aumentar as distâncias do desenvolvimento". Chamou a atenção para o analfabetismo, o mecanismo contraproducente das dívidas externas, a gravidade do desemprego e do subemprego nos países pobres. [...]
[...]
[...] a Evangelium Vitae foi dedicada a temas como a eutanásia, o aborto, a contracepção, a embriologia e a pena de morte, considerados contrários à lei de Deus. [...]
Adotando posições claramente conservadoras, o pontífice reafirmou o celibato do clero e a proibição da ordenação de mulheres, condenou o controle da natalidade por meios artificiais e se pronunciou contra a participação de sacerdotes católicos no governo sandinista na Nicarágua.
A tendência conservadora também se manifestou nas limitações feitas à Teologia da Libertação, inclusive com punições impostas pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício) ao frei brasileiro Leonardo Boff.
[...]
Em 1988, ao visitar Cuba, o papa criticou o embargo econômico dos EUA à ilha e alertou os jovens cubanos a não se deixarem seduzir pelos atrativos de uma sociedade de consumo.
Ainda em fins do século XX, o Papado se penitenciou do comportamento da Igreja Católica quando da perseguição dos judeus pelos nazistas, bem como de "pecados cometidos" no passado em questões de discriminação racial e tratamento dispensado a mulheres e indígenas.
Em 2003, João Paulo II verberou o governo dos Estados Unidos por sua agressão militar ao Iraque.
Em 2005, gravemente enfermo, João Paulo II veio a falecer. Para substituí-lo foi eleito o alemão Joseph Ratzinger - Bento XVI.
O novo pontífice divulgou as encíclicas: Deus caritas est, Spe Salvi, Caritas In Veritate. A primeira [...] refere-se ao amor na vida cristã e ao papel da Igreja católica nas sociedades. Na segunda, formula críticas ao ateísmo. Na terceira (2009), critica a precarização do trabalho, a necessidade de ética nas relações econômicas e a busca apenas do lucro, neste mundo globalizado.
AQUINO, Rubim Santos Leão de et al. História das sociedades: das sociedades modernas às sociedades atuais. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2010. p. 640-647.
Esses tipos de indagações perturbam o espírito de muitas pessoas no Mundo Atual. No entanto, são apenas reflexos de problemas mais sérios [...].
A Igreja Católica também não poderia ficar imune à crise. Vivemos também uma crise religiosa. Não mais existe a plena aceitação de uma vida extraterrena onde persistam desigualdades e injustiças - os progressos científicos e tecnológicos possibilitaram a melhoria dos padrões de vida de muitos e, por outro lado, evidenciaram o contraste entre povos ricos e povos pobres... Seria isso a justiça divina?
Não... isso é "justiça" do homem...
Foi a partir do pontificado de João XXIII, através das encíclicas Mater et Magistra e Pacem in Terris, que a Igreja começou a tomar posições bastante significativas diante dos problemas atuais.
A partir daí, a Igreja assumiu uma posição clara e definida: o Concílio Vaticano II, a encíclica Populorum Progressio, de Paulo VI, e as reuniões do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) foram momentos marcantes, pois definiram o posicionamento da Igreja em face de atuais condições de vida.
[...]
"Na época atual, a Humanidade está em vias de grandes transformações, agitações e desenvolvimentos, que mudam não apenas suas maneiras exteriores de viver, mas também suas maneiras de pensar [...] Tudo isso, como as ondas de um mar, envolve e sacode a própria Igreja".
São palavras do papa Paulo VI que refletiam a crise que atravessava a Igreja Católica no Mundo Atual, minada pelos progressos da secularização, pela redução dos quadros eclesiásticos, pela recusa de muitos em aceitar, resignadamente, as promessas de uma vida extraterrena sem injustiças e desigualdades, pelo avanço da tecnologia e da ciência permitindo a melhoria de vida de muitos e levando-os a só se preocupar com o conforto e a não mais encontrar tempo para as práticas religiosas.
O próprio avanço das filosofias materialistas (existencialismo, marxismo, etc.), a expansão do protestantismo, a crescente laicização do Estado e, segundo alguns, a "crise de instituições eclesiásticas, sempre concebidas na perspectiva de uma civilização rural ultrapassada", constituíam graves problemas da Igreja Católica.
"Três fatos podem ser apontados como tentativas de respostas às novas condições da missão da Igreja: o aparecimento da Ação Católica, a experiência dos padres operários e o desenvolvimento do pensamento teológico, sobretudo na França [...] Apesar do pequeno número de pessoas diretamente envolvidas, o problema da 'Igreja no mundo' aflorava à consciência com uma nova forma de se situar, de ver e de viver". (PIERUCCI, A. F. As grandes religiões. São Paulo: Abril Cultural, 1973. v. 5, p. 966.)
Contudo, foi a ascensão de João XXIII (1958-1963) ao soberano pontificado o acontecimento mais significativo pelas implicações dela decorrentes: a publicação das encíclicas Mater et Magistra (1961) e Pacem in Terris (1963), além da reunião do Concílio Vaticano II (1962-1965).
Embora reconhecendo os ensinamentos das encíclicas Rerum Novarum (Leão XIII) e Quadrogesimo Anno (Pio XI), a Mater et Magistra considerou que "a socialização é um dos aspectos característicos da nossa época", afirmou que "o progresso social deve acompanhar e igualar o desenvolvimento econômico, de modo que todas as categorias sociais tenham parte nos produtos obtidos em maior quantidade". Reafirmou o direito de propriedade, porém, insistiu para "que ela se difunda efetivamente entre todas as classes sociais" e exerça uma função social. Referiu-se, várias vezes, à situação dos grupos dos países subdesenvolvidos submetidos à "condição de vida infra-humana", sendo necessário "educar as consciências no sentimento da responsabilidade que pesa sobre todos, particularmente sobre os mais favorecidos", o nivelamento econômico entre as nações, a cooperação científica técnica e financeira, devendo as nações economicamente desenvolvidas respeitar as individualidades próprias de cada país.
Na encíclica Pacem in Terris, João XXIII doutrinou sobre a paz dos povos fundamentada na verdade, justiça, caridade e liberdade. Inicialmente, tratou dos direitos do homem: integridade física; meios necessários a um digno padrão de vida; respeito à liberdade de manifestação; reais possibilidades de instrução e participação na vida pública. Tornou a lembrar que o direito de propriedade se situa no contexto de uma função social. [...]
A reformulação do pensamento da Igreja evidenciou-se mais ainda no Concílio Vaticano II, cuja direção efetiva coube ao papa Paulo VI, pois João XXIII faleceu após a primeira sessão. Apesar da resistência de uma corrente conservadora, os "progressistas" aprovaram reformas litúrgicas, como a celebração do culto em língua nacional; a recomendação da utilização dos meios de comunicação social (cinema, televisão etc.); o reconhecimento das liberdades de consciência e religiosas; a ampliação da participação dos leigos na vida da Igreja; a definição de uma Igreja democrática e ecumênica, com isso admitindo a reaproximação com os não católicos; a criação de Congregação da Doutrina da Fé, que pôs fim ao Tribunal do Santo Ofício.
[...]
Em nova encíclica, a Gaudiam et Spes, Paulo VI deixou clara a preocupação da Igreja em se identificar com a maioria que vivia na pobreza.
Essa reformulação do pensamento e atuação da Igreja Católica ficaram evidentes na reunião do II Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) em Medellín, na Colômbia (1968), quando foi fixado o novo posicionamento da Igreja em face das condições socioeconômicas e político-religiosas da América Latina.
"A pobreza de tantos irmãos clama por justiça, solidariedade, testemunho, compromisso, esforço e superação para o cumprimento pleno da missão salvífica confiada por Cristo. A presente situação exige, pois, dos bispos, sacerdotes, religiosos e leigos o espírito de pobreza que, 'rompendo as amarras da posse egoísta dos bens temporais, estimula o Cristianismo a dispor organicamente da economia e do poder em benefício da comunidade'.
[...]
Queremos que a Igreja da América Latina seja evangelizadora e solidária com os pobres, testemunha do valor dos bens do Reino e humilde servidora de todos os homens de nossos povos. [...]" (Trechos de Conclusões do II CELAM em Medellín)
Em documento episcopal foram analisados a explosão demográfica, o analfabetismo, a má distribuição de riquezas - como a concentração da propriedade das terras nas mãos de uma minoria -, a dependência ao capital estrangeiro e as tensões entre as classes e os países latino-americanos, bem como as tensões internacionais. O documento apontou a necessidade de promover uma radical modificação nas estruturas políticas, econômicas e sociais, devendo a Igreja comprometer-se nesse processo: assinalou a marginalização política do povo e as formas de opressão de grupos e de setores dominantes que exploravam o anticomunismo e diversas outras práticas, "qualificando de ação subversiva toda tentativa de mudar um sistema social que favorece a permanência de privilégios". Insistiu que a Igreja devia se engajar na promoção de uma educação libertadora, na instauração da justiça e da paz, na ajuda aos oprimidos para conhecer e lutar pelos seus direitos e no estímulo a todas as iniciativas que contribuíssem para a formação do homem.
No III CELAM, realizado em Puebla, no México (1979), novamente confrontaram-se diversas correntes do pensamento católico. Mais uma vez, prevaleceu a ala progressista. Reafirmou-se a Teologia da Libertação com as propostas de mudanças profundas nas estruturas latino-americanas, em benefício da maioria, ou seja, dos pobres.
Com a morte de Paulo VI (1978), o trono pontifical foi ocupado por João Paulo I, que faleceu um mês após a sua eleição. Seu sucessor foi o polonês [...] João Paulo II, que realizou inúmeras viagens, visitando países da Europa, América, África e Ásia.
Sua atuação caracterizou-se pela maior preocupação com os temas espirituais e disciplinares em lugar dos problemas sociais.
Na encíclica Redemptor Hominis (1979), o papa João Paulo II sustentou ser Cristo o centro do Universo e da História, o Salvador dos homens. Na Dives in Misericordia (1980), considerou que o divórcio, o aborto e o relaxamento moral constituem forças desagregadoras da família; também apontou a aflição do homem diante da tortura, da fome e da guerra.
Sua terceira encíclica, a Laborem Exercens (1981), referiu-se ao conflito entre o capital e o trabalho, propondo uma composição entre patrões e empregados visando ao bem comum. [...] Na Sollicitudo Rei Sociales (1987), revelou uma preocupação com os problemas sociais, afirmando ter havido uma "ampliação do abismo entre as áreas do norte desenvolvido e do sul em desenvolvimento, uma velocidade de aceleração diversa, que tende a aumentar as distâncias do desenvolvimento". Chamou a atenção para o analfabetismo, o mecanismo contraproducente das dívidas externas, a gravidade do desemprego e do subemprego nos países pobres. [...]
[...]
[...] a Evangelium Vitae foi dedicada a temas como a eutanásia, o aborto, a contracepção, a embriologia e a pena de morte, considerados contrários à lei de Deus. [...]
Adotando posições claramente conservadoras, o pontífice reafirmou o celibato do clero e a proibição da ordenação de mulheres, condenou o controle da natalidade por meios artificiais e se pronunciou contra a participação de sacerdotes católicos no governo sandinista na Nicarágua.
A tendência conservadora também se manifestou nas limitações feitas à Teologia da Libertação, inclusive com punições impostas pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício) ao frei brasileiro Leonardo Boff.
[...]
Em 1988, ao visitar Cuba, o papa criticou o embargo econômico dos EUA à ilha e alertou os jovens cubanos a não se deixarem seduzir pelos atrativos de uma sociedade de consumo.
Ainda em fins do século XX, o Papado se penitenciou do comportamento da Igreja Católica quando da perseguição dos judeus pelos nazistas, bem como de "pecados cometidos" no passado em questões de discriminação racial e tratamento dispensado a mulheres e indígenas.
Em 2003, João Paulo II verberou o governo dos Estados Unidos por sua agressão militar ao Iraque.
Em 2005, gravemente enfermo, João Paulo II veio a falecer. Para substituí-lo foi eleito o alemão Joseph Ratzinger - Bento XVI.
O novo pontífice divulgou as encíclicas: Deus caritas est, Spe Salvi, Caritas In Veritate. A primeira [...] refere-se ao amor na vida cristã e ao papel da Igreja católica nas sociedades. Na segunda, formula críticas ao ateísmo. Na terceira (2009), critica a precarização do trabalho, a necessidade de ética nas relações econômicas e a busca apenas do lucro, neste mundo globalizado.
AQUINO, Rubim Santos Leão de et al. História das sociedades: das sociedades modernas às sociedades atuais. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2010. p. 640-647.
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