"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 10 de junho de 2014

O mundo dos caçadores e coletores na África Central Ocidental

Por meio da história da alimentação, pode-se saber da coexistência de instrumentos de pedra e de ferro no desenvolver das sociedades africanas ao sul da Floresta Tropical. Mantinha-se o recurso da coleta, da caça e da pesca juntamente com a atividade agrícola. A Idade do Ferro foi solidamente implantada nos inícios do século III de nossa era. O cultivo de cereais, segundo dados arqueológicos, já era uma prática por volta do ano 700. As culturas mais antigas da região eram então praticadas pelas comunidades, como o inhame e a palmeira para o óleo. É provável que, na segunda metade do primeiro milênio da nossa era, a África Central tenha adotado as plantas vindas da Ásia: banana e cana-de-açúcar.

A história da agricultura tornou-se e manteve-se um dos temas mais centrais dos Estudos Africanos. Onde ocorreram maior densidade populacional e períodos intermitentes de estiagem, o uso da terra foi mais desenvolvido. Os botânicos afirmam que muitos dos grãos alimentícios africanos evoluíram a partir de plantas locais, o que contradiz a ideia antiga de historiadores de uma difusão da agricultura a partir de um único lugar, o crescente fértil do Oriente Médio. Ou seja, a agricultura nasceu na África.

O cultivo de vegetais surgiu quando as populações descobriram que tubérculos, como o inhame, poderiam se renovar caso fossem cultivados. A palmeira de dendê, de onde se extrai o óleo, era cultivada tanto nas zonas de florestas como nas savanas. A domesticação dos vegetais africanos foi o primeiro passo para o cultivo de cereais como o sorgo, uma espécie de milho miúdo, usado no fabrico de bebidas, papas e pães.

A história da produção do peixe seco ocupa grande espaço na história de muitas sociedades africanas, processo iniciado há mais de 10 mil anos. Pescadores dominavam os cursos de água, eram os fornecedores de peixe seco e compravam sal para a preservação do peixe; além de manterem contato com os comerciantes locais nas feiras e mercados para sua venda e seu transporte.

Há cerca de 6 mil anos, a região da África Central passou por um processo de domesticação de animais que incluíam cabras, ovelhas, porcos, galinhas e, nas zonas mais propícias com pasto adequado, o gado selvagem se transforma em rebanhos domesticados. Por meio dos traçados das pinturas rupestres e dos ossos pré-históricos, é possível reconstruir essa trajetória.


Domesticação de animais. Pintura rupestre. Namíbia
Foto: Harald Süpfle

Entre os séculos XI e XV, os sítios arqueológicos mostram algumas zonas de grande densidade populacional, as técnicas metalúrgicas foram aperfeiçoadas, assim como se expandiram as áreas comerciais. A cerâmica antiga de Kingabwa (Kinshasa) indica a existência, antes do século XVII, de correntes comerciais entre o Kongo e a região do Kasai, que formavam o cruzamento de rotas comerciais. Os símbolos do poder eram os grandes machados, sinos do rei e facas de arremesso.


PANTOJA, Selma. Uma antiga civilização africana: história da África Central Ocidental. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2011. p. 21-22.

NOTA: O texto "O mundo dos caçadores e coletores na África Central Ocidental" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

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