Apontados como os primeiros habitantes da Ilha de Santa Catarina, os Pescadores, Caçadores e Coletores deixaram como testemunho de seus assentamentos os sambaquis, montes formados por conchas e que serviam para sua moradia e proteção. Para tanto, escolhiam locais próximos do mar, de onde provinha a maior parte de seus alimentos, e de fontes de água doce. Com uma economia baseada na pesca, caça e coleta, estima-se que esses grupos utilizavam instrumentos de pedra polida e/ou lascada, como machados, batedores de alimentos, além de confeccionarem zoólitos (representações de animais em pedra) e outros adereços.
* Tradição Itararé. Não há dados concretos em torno da chegada dos grupos da Tradição Itararé do planalto, sua região de origem, à Ilha de Santa Catarina. Estima-se, porém, que seus primeiros vestígios no litoral tenham surgido por volta de dois mil anos atrás. Nos locais habitados pelos grupos de Tradição Itararé, como a Praia da Tapera, um dos poucos sítios datados, de 1.140 anos atrás, foram detectados os primeiros vestígios de cerâmica, o que se tornou característica principal da presença desse povo.
Tradição Itararé: vasilhame cerâmico
As peças cerâmicas confeccionadas eram, em sua maioria, recipientes para o preparo e consumo de alimentos, com tamanho entre 20 centímetros de diâmetro e 30 centímetros de altura, e paredes de fina espessura com coloração variando do laranja ao cinza-escuro, raramente decoradas. Além disso, os grupos da Tradição Itararé produziram artefatos líticos (lâminas de machados, alisadores, percutores e tembetás), artefatos ósseos (pontas, furadores, anzóis e vértebras perfuradas) e restos faunísticos (ossos de peixes, mamíferos, aves e répteis e conchas marinhas).
O fato de a cerâmica ser uma forte característica do grupo da Tradição Itararé poderia significar que seus membros praticavam a agricultura como forma de subsistência. No entanto, essa hipótese é descartada por arqueólogos, diante do fato de que os esqueletos dessa tradição não apresentavam cáries, o que indica a ausência de carboidrato na dieta alimentar do grupo. Assim, a alimentação da Tradição Itararé baseava-se, principalmente, na exploração de peixes, complementada com mamíferos terrestres e marinhos, aves e répteis. Eles se alimentavam também, mas em menor escala, de moluscos e crustáceos e, por isso, acumulavam menos conchas em seus assentamentos, diferentemente dos Pescadores, Caçadores e Coletores, em cujo local de habitação havia a predominância desse rejeito, elemento marcante na formação dos sambaquis.
Alguns autores, segundo a arqueóloga Maria Madalena do Amaral, tendem a relacionar os grupos de Tradição Itararé aos Jês do Sul. "Os grupos de Tradição Itararé seriam os ascendentes pré-coloniais dos grupos historicamente conhecidos como Kaingang e Xokleng por causa da semelhança da produção cerâmica, tanto no que se refere ao processo de manufatura quanto às formas dos vasilhames", explica a arqueóloga.
GONÇALVES, Alexandre et alli. Aventura arqueológica na Ilha de Santa Catarina. Florianópolis: Lagoa Editora, 2003. p. 10 e 12.
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