Figura em terracota. Cultura Nok.
Foto: Jastrow
O desenvolvimento das sociedades africanas, sobretudo as que se estabeleceram ao sul do Saara - a chamada África Negra -, foi, até pouco tempo, considerado como um fenômeno que não sofreu influências externas, exceto na costa oriental. Essa percepção, por parte dos estudiosos, decorre do tipo de desenvolvimento vivenciado ao norte do Saara, pois a região fazia parte do mundo mediterrâneo e vinculava-se, em grande medida, aos acontecimentos do Oriente Próximo.
Era comum, assim, que os caucasóides se deslocassem apenas para o norte e para o nordeste, enquanto os negros do Saara tendiam a se movimentarem para o sul, especialmente para o Sahel. Nos dois casos, o resultado foi um aumento populacional e o consequente desenvolvimento da agricultura, como a forma mais eficaz de manter a população em crescimento. Cabe ressaltar que, independentemente do aumento da população resultante da imigração do Saara, o desenvolvimento da agricultura parece ter produzido um aumento demográfico também na metade sul da África, onde, eventualmente, absorveram as outras populações, com exceção do extremo sudoeste do continente.
O Vale do Níger e a bacia do Lago Tchad ofereciam, como o Vale do Nilo, condições favoráveis para o aumento da população e para a agricultura, ao contrário do que até recentemente se acreditava. Mais para o sul, entre os atuais territórios de Gana e da Nigéria, onde existe uma interrupção da floresta tropical sem condições para o cultivo de cereais, houve a tendência ao cultivo de vegetais que, provavelmente, deu origem aos inhames africanos.
As transformações ambientais (ressecamento do Saara) e civilizacionais (na bacia do Nilo) geraram um movimento migratório que levou sucessivas gerações de pastores cuxitas e não-saarianos a avançar pela margem sul da faixa de Sahel no sentido leste-oeste, possivelmente iniciado por volta do ano 2750 a.C.. Os cuxitas, que pertenciam ao grupo hamita, estabeleceram-se no Lago Tchad e nas savanas a oeste deste, enquanto os nilo-saarianos se assentaram no curso médio do Rio Níger. A sudoeste deles, na zona de floresta, estavam os negros, futuros bantus. Então, a revolução neolítica, trazida pelos novos vizinhos, ingressou em sua região, fazendo com que o processo anterior de conversão dos agricultores em pastores começasse a ser revertido. O cultivo do sorgo permitiu aos povos negros crescerem numericamente e se expandirem por toda a região ocidental ao sul do Saara.
No século II a.C. eles criaram a cultura Nok (na atual Nigéria), onde começaram a fabricar utensílios e armas de ferro, difundindo a prática aos seus territórios. Logo se desenvolveu um conjunto de centros políticos e, no início da era cristã, quando os romanos estabeleceram sua hegemonia no Mediterrâneo, os bantus iniciaram uma intensa migração rumo ao leste, através da floresta equatorial, atingindo o Lago Vitória. A floresta era habitada pelos pigmeus e o leste e o sul da África pelos khoisan, povos nativos e bastante primitivos que viviam da caça e do pastoreio. Esses povos, que ainda se encontravam na Idade da Pedra, não tinham condições de enfrentar os bantus, e os pigmeus se retiravam para o interior das densas florestas do Congo, enquanto os khoisans refluíram cada vez mais para o sul.
Aldeia Khoisan, Samuel Daniell
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Apesar de reduzidos numericamente, eles se adaptaram a ambientes inóspitos e sobreviveram. No ano 200 d.C., os bantus chegaram ao Oceano Índico e ocuparam a região dos lagos por completo. No ano 500 eles retomaram a migração para o sul (sempre empurrando os khoisans), colonizando o oeste de Madagascar, enquando um grupo de malaio-indonésios aportava no leste da ilha, após uma travessia marítima "cega".
VISENTINI, Paulo Fagundes et alli. História da África e dos africanos. Petrópolis: Vozes, 2013. p. 31-32.
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