"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Culturas do Paleolítico (de 500.000 a 10.000 anos)

Bisontes. Caverna de Altamira, Espanha

O Paleolítico (Idade da Pedra Antiga ou Lascada) estende-se de 500.000 a praticamente 10.000 anos. Acha-se subdividido em Inferior, Médio e Superior e caracteriza-se pela presença do homem predador, ou seja, o homem como "apanhador de alimentos". Este, aproveitando-se das regiões favoráveis, desenvolveu atividades de coleta sistemática de vegetais, caça aos pequenos animais selvagens etc.

[...]

Cada tipo de tecnologia, desenvolvida nos diferentes períodos, recebe a designação de indústria (indústria de seixos, da lasca, da lâmina ou esquirola e das folhas ou foliácea). É também de tradição quando se refere a uma série de indústrias (tradição nodular, bifacial etc.). Técnicas diferentes, adotadas pelo homem pré-histórico para a confecção de seus instrumentos, produziram, inicialmente, os artefatos lascados e só posteriormente os polidos (técnicas de percussão, pressão e polimento). O material trabalhado era sempre o oferecido pela natureza: seixos, sílex (pedra), osso, madeira, contas, conchas, presas de grandes animais ou algum outro material que não deixou vestígios.

[...]

Os vestígios culturais mais antigos da presença do Homo parecem ser os encontrados no Oriente e no Sul da África, junto a fontes naturais, lagos, planícies etc., em terrenos antigos, sempre associados a restos fósseis, animais e humanos.

* Paleolítico Inferior (500.000 a 150.000 anos). [...] Geograficamente, as regiões habitadas nesse período encontram-se na Ásia, África e Europa, onde foram descobertos e recolhidos os artefatos manufaturados pelos primeiros hominídeos.

a) Homo habilis e os dois espécimes Australopithecus (robustus e africanus). Talvez tenham sido os primeiros seres a adquirir cultura, manufaturando intencionalmente seus instrumentos, encontrados na África (garganta de Olduvai). Esses artefatos, considerados os mais antigos da indústria lítica conhecida, são de pedra e bem rudimentares (seixos, quartzo, sílex etc.).

b) Homo erectus, fóssil humano na sequência evolutiva entre o Australopithecus e o Homo sapiens, tanto no Oriente quanto no Ocidente, desenvolveu atividades que se assemelham: eram caçadores rudes e astutos, utilizando instrumentos manufaturados [...]. No Oriente, as cavernas foram frequentadas periodicamente [...]. Nelas havia ossos humanos e de animais de grande porte (elefantes, bisões etc.). Data daí a utilização do fogo [...]. A indústria lítica do Homo erectus [...] era composta de instrumentos cortantes, pedaços de quartzo rudemente lascados, lascas afiadas, raspadeiras, facas, tipos de machadinhas e o machado de mão com extremidade afiada. [...]

* Paleolítico Médio (de 150.000 a 40.000 anos). Caracteriza-se pela presença do Homo pré-sapiens ou sapiens [...]. A subsistência dependia ainda da caça e da coleta, mas as técnicas de fabricação de instrumentos foram-se aperfeiçoando, permitindo designar esse Homo como sapiens (inteligente). [...]

[...] Os ossos de animais, como elefantes, rinocerontes, bisões, cavalos etc., tinham os mais diferentes usos, desde eficientes furadores até taças obtidas da caixa craniana da rena. [...]

As grutas foram largamente utilizadas como habitação permanente pelo Neanderthalense, conhecido como o "homem da caverna". O uso de grutas foi facilitado pelo conhecimento do fogo [...].

* Paleolítico Superior (40.000 a 12.000 anos). [...] O homem fóssil desse período é o sapiens Cro-Magnon, considerado por muitos como sapiens sapiens. [...]

Na Europa, as culturas do Paleolítico Superior constituem tradições separadas, com características locais [...].

A indústria lítica apresenta-se bem mais aprimorada [...]. Dividem-se em:

a) instrumentos de sílex: pontas de vários estilos, cortadores, raspadores e furadores; buris, propulsores, lanças de pedras pontiagudas, atiradores;

b) instrumentos de osso: furadores e agulhas com orifícios; pontas de arpão etc.

O buril (artefato de pedra mais aguçada e mais rígida que a lâmina) torna-se de grande importância para o artista pré-histórico, que o usa para trabalhar e esculpir o osso e o marfim.

[...] O osso, mais resistente e mais fácil de ser recortado, vai ser aplicado à ponta do arpão (chifre de cervo), que se torna uma arma de grande eficiência, largamente utilizado na caça de grandes e pequenos animais.

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O arco é uma outra conquista desse período [...].

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Também um tipo de anzol primitivo foi idealizado [...].

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O Paleolítico Superior caracteriza-se também pelo surgimento de manifestações artísticas [...]. Expressaram-se através da gravura, da pintura, da escultura e da modelagem. Desenhos de animais (cabalo, mamute, cabrito montês, rena, rinoceronte, bisão, leão, vaca etc.), gravados nas paredes das cavernas, figuras femininas esculpidas, baixos-relevos, esculturas em osso, pedra e marfim aparecem sobretudo na Europa Ocidental e no Norte da África.

[...]

O estudo da arte Paleolítica traz à luz aspectos significativos da cultura desses grupos humanos e de suas reações emocionais. Além de ser a expressão da criatividade dos indivíduos, tem finalidades mágicas ou rituais, sendo também utilitária. Acredita-se que da habilidade do artista dependiam as representações magicamente eficazes na espera da caça abundante, por exemplo, ou de saudável procriação (magia da fertilidade). Desenhando, pintando ou esculpindo expressavam essas ideias e sentimentos.

MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. São Paulo: Atlas, 2010. p. 80-86.


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