"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Do Império Celta ao Império Assírio IV

A evolução precipitou-se da direção de Atenas por volta de -820. Os proprietários de bens de raiz, depois de terem reduzido a realeza a funções religiosas, substituíram-na por um arconte escolhido por toda a vida dentre eles. O velho palácio micenense da Acrópole real não sobreviveu à monarquia: foi desde então um lugar sagrado onde as famílias nobres conservaram suas residências e fixaram seu governo. A seus pés desenvolveu-se uma cidade de artesãos: o quarteirão dos oleiros, que modelavam uma bela cerâmica de desenhos geométricos, tornou-se uma cidade laboriosa a que chegavam os mercadores da Grécia e da Ásia.

A evolução social teve por sua vez outros efeitos. O regime aristocrático avivava as lutas de partidos. Os vencidos dos conflitos anteriores não tinham outro recurso senão a expatriação, e como o direito de velhice igualmente expulsava os moços da terra familiar, a emigração recomeçou com intensidade, acelerada pela atração da viagem, tão viva entre os gregos.

As cidades gregas da Ásia Menor continuaram assim a ser abastecidas de homens empreendedores; depressa foram belas capitais.

Os dórios batalhavam ainda para submeter a Grécia continental e já seus vizinhos asiáticos, com Mileto, Éfeso, Focéia e tantos outros, estavam em plena criação - cidades industriosas que enxameavam suas oficinas nas ilhas do mármore, Naxos e Paros, nos centros metalúrgicos das Cíclades, ricas em ferro, Samos e Creta, povoavam o Oriente Próximo de seus bronzes e baixos-relevos, e imprimiam em tudo o espírito de aventura e de heroísmo que em Esmirna os poemas homéricos celebravam - por isso, bem cedo sua epopéia foi cara aos corações dos gregos.

Héracles e Atena. Vaso ático. Python e Douris.

Formava-se assim entre essas cidades, tomadas da mesma necessidade de vida, uma solidariedade intelectual cujas zonas de influência eram marcadas pelos progressos da língua grega. As costas da Ásia Menor eram a ardente forja onde, de dialetos diversos, se moldava uma língua homogênea.

Como Creta, os gregos da Ásia trocavam a guerra pelo laço dos intercâmbios entre os homens e o fascínio de uma civilização.

RIBARD, André. A prodigiosa história da humanidade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. V. 1. p. 75-6.

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