Se seus vizinhos imediatos na Sibéria não tivessem sido os hunos, os mais bárbaros dos mongóis, a China teria aí sem dúvida mais influência.
É certo que a confederação chinesa se mudava agora numa vintena de principados cujos conflitos exauriam a classe camponesa. Mas desde a dinastia dos Tchéus a China conhecia certo progresso intelectual. Em suas cortes feudais, recitavam-se cantos populares, as pesquisas astronômicas eram ativas, estudavam-se os eclipses, a Geometria dominava os fatos essenciais. Quando esse esforço racional se interrompera, a Filosofia se declarara protegida por uma ordem universal ligada à ordem humana e o camponês, sem se perder em especulações sobre o além, pedia a seu labor e ao respeito dos ancestrais a felicidade desta terra que ele conquistava pacientemente às searas.
Os citas não estavam pois totalmente isolados e, se seu nível técnico era ainda rudimentar, os assírios não estavam absolutamente em condições de lhes condenar a barbárie: quando o Rei Sargão II, um general vencedor, franqueou aos assírios o Oriente com que seus predecessores haviam sonhado, esses conquistadores semitas apareceram como o pior povo que já se conheceu.
Ora, desde cerca de dois mil anos, eles tinham vivido em relações constantes com a Suméria e Babilônia. Se Nínive é célebre por suas construções e seus astrólogos, quando Sargão II cria uma biblioteca, se seu palácio de Corsabad é suntoso, é porque da Babilônia e dos hititias lhes vieram os conhecimentos necessários. Eles se mostraram mesmo herdeiros inferiores: não só não realizaram em relação à ciência sumeriana nenhum progresso, como regrediram bem longe em relação à Babilônia: esta prossegue seus trabalhos astronômicos em que se descobre que o movimento dos planetas obedece a leis e se constrói um sistema divino do universo.
A despeito de tais ensinamentos, os assírios têm grandeza ou originalidade apenas na violência; se na arte são excelentes figuradores de animais é porque estes lhes exaltam a brutalidade. Os assírios apenas sabem fazer a guerra. Aperfeiçoaram os instrumentos próprios: suas cotas de malhas, seus aríetes e os capacetes serão modelos.
Quanto a seus crimes, são eles lendários - verdadeira técnica de devastação. Suas cruezas não são uma política de exceção ou um paroxismo de selvageria. São o aspecto essencial da mentalidade assíria, voltada inteiramente para o aniquilamento dos vencidos.
O saque das cidades e os impostos esmagadores eram apenas o prelúdio disso. O rei assírio daz decapitar com método: cabeças e peles humanas atapetam as muralhas de seus palácios. Milhares de prisioneiros são lançados ao fogo ou emparedados vivos, empalados, esfolados vivos. Cortam-se os punhos, os lábios, as línguas dos camponeses e deportam-se os sobreviventes por dezenas de milhas para arrancar às nacionalidades as raízes e eliminar pelo exílio em massa qualquer possibilidade de vingança. Incendeiam-se e arrasam-se as aldeias, abatem-se as árvores e, como a revolta rebente continuamente, o rei assírio ordena que se aniquile uma região.
Foram esses processos que em -722 Sargão II aplicou aos israelitas.
Anexou-lhes o país e os deportou para o Leste. Os judeus mergulharam no desespero. Evocando as ideias egípcias a respeito da salvação pelo arrependimento, os judeus imploraram a misericórdia divina. A angústia desse povo expulso da terra prometida onde não havia chegado a durar como Estado e a tradição religiosa do Egito ensinaram-lhe a concepção de um Deus de justiça e de esperança que os profetas Amós, Oséias, Miquéias e Isaías o conjuravam a adorar.
Depois de Damasco e Gaza, Sargão II acometeu o Urartu e os frígios, depois os filisteus. Foi sempre vencedor.
A desgraça de Israel veio a ser a de seus vizinhos. A morte de Sargão não interrompeu essas empresas. Da Mesopotâmia a Tiro, de Jerusalém ao lago de Van, seu filho Senaqueribe devasta o Oriente em meio às convulsões dos povos vencidos. Nenhum parece capaz de resistir a ele mediante uma política coerente, nem mesmo o Egito.
RIBARD, André. A prodigiosa história da humanidade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. V. 1. p. 80-1.
É certo que a confederação chinesa se mudava agora numa vintena de principados cujos conflitos exauriam a classe camponesa. Mas desde a dinastia dos Tchéus a China conhecia certo progresso intelectual. Em suas cortes feudais, recitavam-se cantos populares, as pesquisas astronômicas eram ativas, estudavam-se os eclipses, a Geometria dominava os fatos essenciais. Quando esse esforço racional se interrompera, a Filosofia se declarara protegida por uma ordem universal ligada à ordem humana e o camponês, sem se perder em especulações sobre o além, pedia a seu labor e ao respeito dos ancestrais a felicidade desta terra que ele conquistava pacientemente às searas.
Os citas não estavam pois totalmente isolados e, se seu nível técnico era ainda rudimentar, os assírios não estavam absolutamente em condições de lhes condenar a barbárie: quando o Rei Sargão II, um general vencedor, franqueou aos assírios o Oriente com que seus predecessores haviam sonhado, esses conquistadores semitas apareceram como o pior povo que já se conheceu.
Ora, desde cerca de dois mil anos, eles tinham vivido em relações constantes com a Suméria e Babilônia. Se Nínive é célebre por suas construções e seus astrólogos, quando Sargão II cria uma biblioteca, se seu palácio de Corsabad é suntoso, é porque da Babilônia e dos hititias lhes vieram os conhecimentos necessários. Eles se mostraram mesmo herdeiros inferiores: não só não realizaram em relação à ciência sumeriana nenhum progresso, como regrediram bem longe em relação à Babilônia: esta prossegue seus trabalhos astronômicos em que se descobre que o movimento dos planetas obedece a leis e se constrói um sistema divino do universo.
A despeito de tais ensinamentos, os assírios têm grandeza ou originalidade apenas na violência; se na arte são excelentes figuradores de animais é porque estes lhes exaltam a brutalidade. Os assírios apenas sabem fazer a guerra. Aperfeiçoaram os instrumentos próprios: suas cotas de malhas, seus aríetes e os capacetes serão modelos.
Quanto a seus crimes, são eles lendários - verdadeira técnica de devastação. Suas cruezas não são uma política de exceção ou um paroxismo de selvageria. São o aspecto essencial da mentalidade assíria, voltada inteiramente para o aniquilamento dos vencidos.
O saque das cidades e os impostos esmagadores eram apenas o prelúdio disso. O rei assírio daz decapitar com método: cabeças e peles humanas atapetam as muralhas de seus palácios. Milhares de prisioneiros são lançados ao fogo ou emparedados vivos, empalados, esfolados vivos. Cortam-se os punhos, os lábios, as línguas dos camponeses e deportam-se os sobreviventes por dezenas de milhas para arrancar às nacionalidades as raízes e eliminar pelo exílio em massa qualquer possibilidade de vingança. Incendeiam-se e arrasam-se as aldeias, abatem-se as árvores e, como a revolta rebente continuamente, o rei assírio ordena que se aniquile uma região.
Foram esses processos que em -722 Sargão II aplicou aos israelitas.
Judeus sendo deportados para o exílio no Império Assírio.
Relevo do palácio de Nínive.
Museu Britânico. Foto: Osama Shukir Muhammed Amin
Anexou-lhes o país e os deportou para o Leste. Os judeus mergulharam no desespero. Evocando as ideias egípcias a respeito da salvação pelo arrependimento, os judeus imploraram a misericórdia divina. A angústia desse povo expulso da terra prometida onde não havia chegado a durar como Estado e a tradição religiosa do Egito ensinaram-lhe a concepção de um Deus de justiça e de esperança que os profetas Amós, Oséias, Miquéias e Isaías o conjuravam a adorar.
Depois de Damasco e Gaza, Sargão II acometeu o Urartu e os frígios, depois os filisteus. Foi sempre vencedor.
A desgraça de Israel veio a ser a de seus vizinhos. A morte de Sargão não interrompeu essas empresas. Da Mesopotâmia a Tiro, de Jerusalém ao lago de Van, seu filho Senaqueribe devasta o Oriente em meio às convulsões dos povos vencidos. Nenhum parece capaz de resistir a ele mediante uma política coerente, nem mesmo o Egito.
RIBARD, André. A prodigiosa história da humanidade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. V. 1. p. 80-1.
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