"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Do Império Celta ao Império Assírio VIII

Em certo momento, os medos tentam aliar-se aos citas e levantar contra a Assíria uma espécie de coalizão ariana; os clãs iranianos não estão unificados e sua aristocracia está em guerra permanente; sua unidade religiosa é fraca, embora todos eles sacrifiquem nas alturas em grandes fogos a seu deus Masda. Seus magos, confraria análoga às dos druidas ou dos brâmanes, não formam um grupamento organizado; além disso, a rivalidade dos medos, instalados ao norte do Irã, e dos persas, fixados ao sul, estraçalha as tribos. Os assírios não terão dificuldade em submetê-los.

Entretanto, um dos chefes medos, Déjoces, teve a habilidade de aceitar a derrota para trabalhar no sentido de estabelecê-los num Estado que seria vassalo da Assíria enquanto os medos não tomassem consciência de sua unidade.

Déjoces, escolhido por sua correção, foi eleito rei. Reuniu as tribos em torno de uma cidade que construiu: Ecbátana, protegendo por trás de sete muralhas concêntricas de ameias coloridas um palácio real de arquitetura militar. Então, lentamente, malgrado a servidão, os medos se revelaram, frente à Assíria, uma nação.

Senaqueribe, após uma insurreição, destruíra a Babilônia a ferro e água e, dessa Babilônia devastada a que chamamos Caldéia, leva suas conquistas à Arábia, até as fronteiras do Egito. Senaqueribe pode bem passar por um rei faustoso, o rei que o protocolo assírio não permite se veja em pessoa. Nínive pode resplender por seus palácios e sem templos de largos afrescos, por suas salas de marfim, de sândalo, de mármore e basalto - mas a guerra é que fez tal riqueza. A guerra é o único tema dessa arte e aí tudo é emprestado pelos países vencidos. O fausto assírio não deve nada a seu trabalho - tudo ao crime e à pilhagem.

Assurbanípal durante uma caçada. Relevo no palácio de Nínive.

Em -666, é sobre o Egito que se lança o exército assírio. Seu rei Assurbanípal, mais educado que seus antecessores, mais indulgente mesmo, não fez senão saquear o Egito; Tebas foi por ele arruinada para sempre.

Assurbanípal reinava sobre o maior império que até então existira, império continental que, apesar de algumas breves improvisações marítimas, não conheceria nada do mar.

Nesse tempo, seus horizontes recuaram bastante.

RIBARD, André. A prodigiosa história da humanidade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. V. 1. p. 82.

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