Os colonos gregos haviam passado dos estabelecimentos agrícolas à fundação das cidades marítimas onde escoavam para entre os bárbaros os produtos da indústria helênica.
O templo de Apolo em Cumes era já célebre. Na Itália, essa irradiação era ainda mais fácil porquanto a emigração asiática lhes mostrava o caminho.
Dançarinos e músicos etruscos.
Pintura mural na Tumba dos Leopardos. Tarquínia.
Os etruscos haviam fixado seus acampamentos perto das aldeias da Úmbria. Depois a aristocracia etrusca reduzira os camponeses úmbrios à servidão e os fazia desbravar no interior as terras incultas. Pelo vale do Tibre os etruscos internavam-se na Itália, fundando cidades sob o emblema de seu poder, a dupla acha num feixe de madeira. O povoamento ainda insuficiente não permitia a essa confederação urbana organizar todo o país. Mas graças a suas origens, ela dispunha de uma forte indústria do cobre e do bronze, de arquitetos e engenheiros que souberam criar uma rede de caminhos e drenar o solo por meio de galerias curvas subterrâneas. As oficinas de cerâmica mantinham relações com os negociantes de Corinto. Os ritos religiosos dos etruscos evocavam a astrologia do Eufrates, cujos segredos, como a observação do fígado dos animais, eram apanágio de sua aristocracia.
Ideias e técnicas da Ásia iam portanto integrar a Itália na história mediterrânica. Pastores latinos se haviam estabelecido com seus rebanhos sobre uma colina escarpada das bordas do Tibre, o Palatino, e populações vizinhas se haviam juntado a eles: desde sua fundação, em -753, Roma esteve em contato com os etruscos e os gregos, numa região francamente civilizada; recebeu dos mercadores de Cumes e dos artesãos etruscos indústrias e alfabetos, misturando com uma religião e uma língua de origem ariana costumes da Ásia. Esta forneceu assim à Itália suas primeiras artes, suas culturas - a vinha e a oliveira - e transformou a paisagem da península dando-lhe um rosto mediterrânico cujos traços o espírito grego animará. Em -735, Corinto funda Siracusa. Os colonos gregos se talham domínios nas admiráveis terras de trigo da Sicília.
A Europa, essa terra melhor dotada de costas do globo, tornava-se definitivamente marítima e oriental enriquecendo-se com o Mediterrâneo.
O Oriente também corria o risco de se fechar aos fenícios: com a peste, a guerra se fazia até mais dura do que nunca. Os exércitos assírios, após invadirem a Palestina e a Galiléia, ameaçavam os árabes que os cumulavam de presentes. De um momento para outro, Tiro e Sídon podiam ser cortadas de suas caravanas.
Somente a concentração dos citas nas fronteiras do norte retardava a pressão assíria. Os citas eram os mais bem organizados dos criadores nômades que, da Sibéria meridional ao Mar Negro, percorriam as estepes do Turquestão ocidental e da Rússia do sul, com seus cavalos, seus bois e seus carros.
Haviam submetido tribos arianas, os cimérios. O emprego dos estribos tornava-os prestigiosos cavaleiros, ébrios muitas vezes de carnagem e de sua bebida de leite de jumenta fermentado. A ourivesaria de seu arreamento era de um realismo brutal e essa arte se estendia largamente pela estepe até a Sibéria central, entre os ferreiros de bronze, e Minusinsk, no Altai.
Na Ucrânia, os citas se haviam tornado lavradores: os escravos lavraram terra, e vasavam-se os olhos daqueles que se empregavam em trazer o leite. Abastecendo os gregos de peixe salgado, de trigo, de metais preciosos e de âmbar do Báltico, seus chefes participavam do movimento comercial que atingia o Cáucaso por mar e por terra.
Por mar, as expedições helênicas haviam feito entrar na história essas regiões fabulosas, ricas em ouro, aonde, dizia-se, haviam outrora chegado os Argonautas, e a arte geométrica dos gregos já experimentara ali, em suas cores e seus ritmos, o gosto oriental. Por terra, os citas mantinham relações com o Irã, a Mesopotâmia e as tribos mongóis, relações mais violentas, muitas vezes, do que de simples negócio, mas que lhes levavam rudimentos de civilização.
RIBARD, André. A prodigiosa história da humanidade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. V. 1. p. 78-80.
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