"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Colonialismo na Austrália e na Nova Zelândia

Os primeiros contatos europeus com a Austrália aconteceram no século XVII quando exploradores holandeses mapearam o litoral ocidental e setentrional do continente. Em 1642, Abel Tasman avistou a Tasmânia e seguiu parte da costa da Nova Zelândia. M 1769 e 1770, o navegador britânico James Cook mapeou o litoral da Nova Zelândia e desembarcou no leste da Austrália, reivindicando-a para a Grã-Bretanha. O povoamento europeu começou em 1788 quando o governo britânico fundou ali uma colônia penal. Cerca de 750 condenados e 200 soldados desembarcaram na baía Botany antes de serem transferidos para Port Jackson (a moderna Sydney). Nos 80 anos seguintes, mais 160 mil condenados foram enviados para colônias penais criadas no litoral leste, sul e oeste da Austrália.

Uma vista da Baía dos Assassinos. Desenho feito pelo artista Abel Tasman por ocasião de uma escaramuça entre os exploradores holandeses e o povo maori. Esta é a primeira impressão dos europeus do povo maori. Isaack Gilsemans

- Primeiros colonos. A princípio, os colonos viveram da pesca e da caça de baleias e focas, além de suprimentos enviados pela Inglaterra. Aos poucos, soldados desmobilizados e presos libertados começaram a cultivar pequenas roças. A terra em torno de Sydney não era boa para a agricultura, mas na década de 1820 desenvolveu-se uma rota para o interior que revelou vastas planícies adequadas para a pecuária. Os colonos livres recorreram à criação de ovinos e logo a exportação de lã para a Grã-Bretanha se tornou uma parte fundamental da economia da Austrália.

A necessidade de mais pastos provocou conflitos com os habitantes aborígenes locais. Quando estes tentaram resistir à ocupação das suas terras e recursos hídricos, os colonos realizaram ataques de vingança e houve massacres ocasionais, por causa disso e da exposição a doenças europeias como a varíola, a população aborígene declinou drasticamente. Em 1900, a população era cerca da metade do total de 1788.

Massacre de Boyd, 1809. Louis Auguste Sainson


- A febre do ouro. A partir da década de 1830, o governo britânico começou a estimular a imigração de colonos livres para Austrália. A população livre cresceu rapidamente depois de 1851 com a descoberta de ouro em vários locais. A população aumentou de 405 mil habitantes em 1850 para quatro milhões em 1900. A febre do ouro contaminou as colônias e acorreram garimpeiros às minas de Bathurst, Ballarat, Bendigo e Kalgoorlie na tentativa de fazer fortuna. Milhares de mineiros chineses e asiáticos foram enviados sob contrato de servidão. Os chineses foram alvo de um racismo feroz que provocou leis de imigração mais estritas.

A extração de ouro transformou a economia e a sociedade da Austrália. Também teve impacto sobre o seu desenvolvimento político. Cada garimpeiro precisava comprar uma licença antes de sair em busca de ouro. Os mineiros de Ballarat opuseram-se ferozmente à taxa de licenciamento e criaram um movimento de reformas que também exigia o direito de voto. Os protestos levaram a um massacre em 1854. No ano seguinte, a taxa de licenciamento foi abolida e os mineiros receberam o direito de votar.

A explosão da estela de Boyd. Louis John Steel

- Autogoverno. Com o aumento da população, também cresceu a reivindicação de independência. Em 1850, o governo britânico concedeu em princípio esse direito, e, em 1856, Nova Gales do Sul, Vitória e Tasmânia passaram a se autogovernar, seguidas por Austrália Meridional (1857), Queensland (fundada em 1859) e Austrália Ocidental (1870). Todos os Estados optaram por governos representativos com sufrágio masculino universal. Então, em 1894, as mulheres da Austrália Meridional estiveram entre as primeiras da história a conquistar o direito de voto. Em 1901, criou-se a Comunidade da Austrália para promover o comércio entre os estados e facilitar uma política de defesa comum.

Reunião de colonos e maoris na Baía de Hawke, Nova Zelândia. M. Jackson

- Exploração. O navegador e cartógrafo Mattew Flinders foi o primeiro a circunavegar a Austrália em 1802 e 1803, mas as condições inóspitas impediram durante várias décadas a exploração do interior do continente. Edward Eyre atravessou a Austrália Meridional de leste a oeste entre 1839 e 1841, e Ludwig Leichardt percorreu o noroeste da baía de Moreton até Port Essington em 1844 e 1845. Burke e Wills foram os primeiros a atravessar o continente inteiro, indo de sul a norte em 1860 e 1861. John Stuart encontrou o centro geográfico do continente em 1860, durante a sua travessia. Na década de 1870, novas expedições se concentraram na Austrália Ocidental e abriram para o pastoreio as regiões de Pilbara e Kimberley. As comunicações transcontinentais foram auxiliadas pela criação de uma rede de telégrafo em 1871 e o término da construção da ferrovia Transaustraliana em 1917.

Um grupo de jovens maoris pendurados em cordas presas do topo de um poste. Um grupo de adultos e crianças sentadas assistem. George French, Angas, Giles, Joseph Jenner e Merret

- Nova Zelândia. Os primeiros povoadores europeus foram caçadores de focas de Nova Gales do Sul que, em 1792, desembarcaram na Baía das Ilhas. Em troca de terra, eles deram aos indígenas maoris mosquetes que, a partir de 1818, levaram às “Guerras dos Mosquetes” entre grupos maoris rivais. Baleeiros e caçadores de focas australianos também fundaram povoados na Ilha do Sul. A guerra entre colonos e tribos maoris se tornou comum. A desobediência às leis obrigou o governo britânico a intervir. Em 1840, representantes britânicos e líderes maoris assinaram o Tratado de Waitangi, segundo o qual aos maoris cediam o controle da terra em troca de direito de propriedade, cidadania e proteção. Mal-entendidos quanto aos termos do tratado levaram a novos choques e a uma guerra de 1859 a 1863. A resistência maori persistiu até 1872, e a paz formal foi assinada em 1881. A descoberta de ouro em Otago, em 1861, estimulou a imigração na Nova Zelândia e o ouro logo substituiu a lã como principal produto de exportação. Em 1907, a Nova Zelândia tornou-se um domínio com governo próprio dentro do Império Britânico. 

WOOLF, Alex. Uma Nova História do Mundo. São Paulo: M.Books do Brasil, 2014. p. 236-237.

NOTA: O texto "Colonialismo na Austrália e na Nova Zelândia" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

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