"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sábado, 11 de outubro de 2014

Povos da Oceania: os polinésios

Um retrato de Heeni Hirini (também conhecido como Ana Rupene) e a criança, Gottfried Lindauer

[...] Ramo secundário dos europóides, com elementos mongolóides e negróides, eram de estatura elevada, com facies europeu, nariz fino, cabeleira lisa, tez morena, com a vista e o ouvido mais aguçados do que os europeus mas com olfato e gosto diferentes.

Navegadores incomparáveis, eram capazes de percorrer, sem escala, 2.500 quilômetros. Sabiam calcular a posição utilizando cabaças nas quais praticavam orifícios. Nas Samoas e no arquipélago Tonga, as pirogas duplas, com 30 metros de comprimento, chegavam a levar 140 remadores. Cada ilha possuía uma frota. Cook contou 220 unidades em Taiti, cuja população, segundo cálculos, atingia 200.000 habitantes.

Um retrato do Sr. Paramena, Gottfried Lindauer.

Os utensílios de que dispunham pertenciam à idade da pedra polida mas os seus objetos, principalmente os dos Maoris da Noza Zelândia, imitavam, segundo parece, os de metal. Seus antepassados haviam conhecido, ao que se julga, o metal e a cerâmica. Em todo o caso, estas artes haviam sido esquecidas, na Polinésia, quando os europeus chegaram, e é certo que os seus utensílios já haviam sido melhores, antes do século XVIII.

Seu vestuário era de Phormium tenax (linho) na Nova Zelândia. Entretanto, nas ilhas quentes haviam abandonado o tear de seus antepassados pelo trabalho com cascas de árvores, de que faziam saias enfeitadas com galões e triângulos. Usavam plumas brilhantes, folhas lanceoladas e finas tatuagens.

Um retrato da Sra. Paramena, Gottfried Landauer

Suas casas tinham como base plataformas de pedra, cobertas de esteiras. Nas Ilhas Marquesas atingiam um comprimento entre 20 a 100 metros, e tinham mosquiteiros e travesseiros de bambu. Os maoris possuíam fortes que podiam conter vários milhares de pessoas, com fossos, parapeito, paliçadas e plataformas mais elevadas para os defensores.

Estes povos encontravam-se no estágio da grande família de várias centenas de pessoas análogas à gens romana e aos genos gregos. A sociedade estava dividida em classes hierarquizadas, reis, nobres, homens livres e escravos. O rei, hereditário em linha masculina, por ordem de primogenitura, era uma encarnação da divindade e, por conseqüência, sagrada. Os nobres possuíam feudos e dominavam as assembléias deliberativas. Dispunham de toda a terra. Suas ossadas eram depositadas nos lugares sagrados e só eles tinham direito à sobrevivência. Escolhiam chefes locais que decidiam, com poder absoluto, sobre todas as empresas comuns e que eram substituídos se demonstravam indecisão ou má capacidade de julgamento. Os homens, teoricamente livres, eram, de fato, passíveis, segundo a vontade dos senhores, de talhas e corvéias.

Um retrato de Kewene Te Haho, Gottfried Landauer

A sua religião parecia conter elementos bramânicos, talvez persas ou babilônicos. Os maoris, por exemplo, acreditavam num Deus supremo, eterno, onipotente, justo, que habitava no duodécimo céu. Mas era tão sagrado que a maioria dos maoris morria sem saber que esta parte da sua religião existia. Tinham depois, todos, um panteão de grandes deuses do céu e de deuses locais, das florestas, das colheitas, da guerra, do mar, do mal, com toda uma mitologia explicativa do universo. Adoravam, além disso, uma multidão de espíritos espalhados por toda a natureza e os espíritos dos antepassados. A classe sacerdotal, recrutada entre os nobres, conservava as narrativas míticas e presidia às cerimônias, que compreendiam sacrifícios humanos. A Ilha Caiatia era a sede de sacrifícios comuns a toda a Polinésia. Empregava-se a magia. A religião provocara o aparecimento de uma poesia de grande beleza e de uma escultura de valor que muitas vezes visava apenas proporcionar prazer.

Um retrato de Taraia Ngakuti Te Tumuhia, Gottfried Lindauer

Havia continuamente guerras entre estes povos. As aldeias e as plantações eram incendiadas; comiam-se os vencidos, sendo o coração reservado aos chefes.

[...]

Nos séculos seguintes, em contato com os europeus, os oceaninos declinaram muito.

MOUSNIER, Roland; LABROUSSE, Ernest. O século XVIII: o último século do antigo regime. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 377-379. (História geral das civilizações, v. 11)

NOTA: O texto "Povos da Oceania: os polinésios" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

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