Pōtatau
Te Wherowhero, chefe Waikato, Giles e Merrett
Os australianos, que pertenciam a
um nível um pouco superior, raça formada por uma mistura de elementos europóides
e negróides, encontravam-se no estádio paleolítico europeu do Moustier. De pele
morena, ou cor de chocolate, com o corpo coberto de pêlos, as arcadas
supraciliares enormes, a testa deprimida e fugidia, os maxilares salientes, a
boca grossa, o nariz largo, tinham um cérebro nitidamente inferior em peso e
desenvolvimento ao dos brancos.
Vestidos sumariamente, sabiam,
entretanto, construir cabanas de ramos, fazer fogo por meio da rotação rápida
de um furador numa tábua. Dispunham de armas de pedra, desde o coup-de-poing lascado do Moustier com a
lança neolítica, a azagaia e o famoso boomerang,
mas ignoravam o arco e a flecha, assim como a cerâmica, aliás. Viviam da coleta
e principalmente da caça: caracóis, ameijoas de água doce, lagartas, aves,
cangurus, lagartos, opossuns e uma espécie de avestruz, a ema. Aliás, sabiam
obrigar um canguru a correr e descobrir a pista da caça, farejando a terra.
A sua organização social era mais
elevada. A tribo tinha chefes permanentes, os anciãos; dividia-se em grupos,
com a regra imperiosa do casamento fora do grupo; possuía territórios de
percurso distinto das outras tribos; havia, portanto, um direito internacional.
As concepções religiosas eram
desenvolvidas. A crença na sobrevivência da alma era geral. Os espíritos dos
mortos podiam reencarnar-se: os primeiros europeus, seres que saíram do mar, de
pele pálida, olhos brilhantes (por causa do desenvolvimento maior do sistema
nervoso), encheram os australianos de um terror físico e foram tomados por
fantasmas. Os australianos prestavam regularmente honras fúnebres aos mortos.
Algumas tribos até comiam os cadáveres para assimilarem o seu princípio vital. Todas
possuíam o seu totem, ou antepassado comum, cujos descendentes celebravam
fraternalmente cerimônias mágicas. Alguns concebiam um deus imortal que subira
ao céu depois de ter vivido na terra e ao qual os iniciados iam juntar-se,
quando morriam. Todos conheciam a magia. Os jovens ficavam aptos a casar-se e a
exercer funções sociais mediante uma iniciação complicada que compreendia a
extração de um incisivo superior, a circuncisão, apresentação de desenhos e
narrativas míticas mantidas em segredo para as mulheres.
Os outros povos encontravam-se em
níveis nitidamente superiores. Se excetuarmos os papuas, de nariz adunco, de
ponta grossa em forma de bico e que pareciam uma raça pura, julga-se, hoje,
pelo estudo das línguas e de certos hábitos materiais, como a piroga da
balancim, que todos estes povos, apesar das suas diferenças, participavam da
mesma cultura oceânica e tinham todos a mesma origem. Seriam provindos da Malásia,
donde se teriam espalhado para leste, por todo o Pacífico e talvez até a América,
a oeste de Camboja para Ceilão, Madagáscar (Hovas), assim como pela costa leste
da África. As migrações desses povos teriam começado entre os séculos II e V
d.C., atingindo o apogeu entre 900 e 1350. Seguidamente, verificou-se o declínio
dessas populações, assim como de suas aptidões para a navegação.
MOUSNIER, Roland; LABROUSSE,
Ernest. O século XVIII: o último século
do antigo regime. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 375-376. (História
geral das civilizações, v. 11)
NOTA: O texto "Povos da Oceania: os australianos" não representa,
necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de
refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.
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