O último búfalo, Albert Bierstadt
O búfalo já é uma curiosidade em Montana e os índios black-feet roem ossos velhos e cascas de árvores.
Touro Sentado encabeça a última caçada dos sioux nas planícies do norte. Depois de muito andar, encontram uns poucos animais. Por cada um que matam, os sioux pedem perdão ao Grande Búfalo invisível, segundo quer a tradição, e lhe prometem que não desperdiçarão nenhum pelo do morto.
Pouco depois, a Estrada de Ferro do Pacífico Norte celebra o apogeu de sua via que chega de costa a costa. Essa é a quarta linha que atravessa o território norte-americano. As locomotivas de carvão, com freios pneumáticos e carros Pullman, avançam na frente dos colonos rumo às planícies que foram dos índios. Por todas as partes brotam cidades novas. Cresce e se articula o gigantesco mercado nacional.
As autoridades da Estrada de Ferro do Pacífico Norte convidam o chefe Touro Sentado para pronunciar um discurso na grande festa de inauguração. Touro Sentado chega da reserva onde os sioux sobrevivem por caridade. Sobe ao palco coberto de flores e bandeiras e se dirige ao presidente dos Estados Unidos, aos ministros e personalidades presentes e ao público em geral:
- Odeio os brancos - diz. - Vocês são ladrões e mentirosos...
O intérprete, um jovem oficial, traduz:
- Meu coração vermelho e doce vos dá as boas-vindas...
Touro Sentado interrompe o clamoroso aplauso do público:
- Vocês nos arrancaram a terra e fizeram de nós uns párias...
O público ovaciona, de pé, o emplumado guerreiro, e o intérprete transpira, gélido.
GALEANO, Eduardo. Memória do Fogo: As caras e as máscaras. Porto Alegre: L&PM, 2013. p. 501-2.
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