Afresco micênico representando uma deusa ou
sacerdotisa.
C. 1250-1180 a .C.
Artista desconhecido
Embora guerreira e forte, a civilização micênica defrontou-se com uma que era mais guerreira e mais forte: outros gregos, os Dórios, como se pensou por muito tempo, ou outros invasores, ou revoltas internas, ou, o que não é contraditório com as explicações anteriores, uma catástrofe natural provocam, por volta de 1 200, a destruição de todos os palácios, o abandono da maioria dos sítios habitados, o desaparecimento definitivo de uma sociedade e de sua escrita. Mas pode uma civilização desaparecer, legando aos seus sucessores apenas vestígios de ordem material?
Essa recolhera e mantivera grande parte da herança cretense. Nem tudo se desvaneceu na tormenta das novas invasões. A língua grega adotou certas palavras que não são indo-europeias nem semíticas; provém de um idioma talvez mais antigo do que o cretense; em todo caso, foram utilizadas por cretenses e micênicos. A religião grega não perdeu a divinização do princípio da fecundidade, a prática dos jogos esportivos. E os Aqueus asseguraram a transmissão de tudo isso.
Eles próprios não se limitavam ao papel de intermediários. Não lhes podemos atribuir tudo o que mais tarde se tornou helênico: pois devemos levar em conta os demais elementos constitutivos do futuro povo grego. Mas a lembrança de sua guerra contra Troia, de suas incursões pelo Mediterrâneo de suas riquezas, de suas armas e de seus enfeites, alimentou os poemas homéricos. Alguns chegaram mesmo a pensar que tais poemas, no tocante à métrica e estilística, sofrem a influência direta de precedentes micênicos; isso já é um avanço por demais ousado. Limitemo-nos, numa escala mais ampla, a uma observação. Os cretenses haviam aberto a rota transversal do Mediterrâneo oriental; mas isso redundava em proveito do Egeu e suas ilhas. Os micênios conservaram essa rota, mas em proveito da Grécia continental. Os gregos serão assaz numerosos, hábeis e ativos para permanecer etnicamente e, depois, se tornar economicamente, os senhores dessa rota: durante muito tempo ela apenas existirá em virtude deles e em seu favor, como nas eras dos reis de Micenas e Tirinto.
AYMARD, André; AUBOYER, Jeannine. O Oriente e a Grécia Antiga: o homem no Oriente Próximo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 52-3. (História geral das civilizações, v. 2)
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