"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 27 de março de 2017

Aspásia

Aspásia e Pérciles, José Santiago Garnelo y Alda

Nos tempos de Péricles, Aspásia foi a mulher mais famosa de Atenas.

O que também poderia ser dito de outra maneira: nos tempos de Aspásia, Péricles foi o homem mais famoso de Atenas.

Seus inimigos não perdoavam que fosse mulher e estrangeira, e para acrescentar-lhe alguns defeitos atribuíam a ela um passado inconfessável e diziam que a escola de retórica, que ela dirigia, era um criadouro de mocinhas fáceis.

Foi acusada de desprezar os deuses, ofensa que podia ser paga com a morte. Diante de um tribunal de mil a quinhentos homens, Péricles a defendeu. Aspásia foi absolvida, embora em seu discurso de três horas Péricles tenha esquecido de dizer que ela não desprezava os deuses, mas achava que os deuses nos desprezam e arruínam nossas efêmeras felicidades humanas.

Naquela época, Péricles já havia expulsado a esposa de seu leito e de sua casa e vivia com Aspásia. E por defender os direitos do filho que teve com ela, havia violado uma lei que ele mesmo havia escrito.

Para escutar Aspásia, Sócrates interrompia suas aulas. Anaxágoras citava suas opiniões:

- Que arte ou poder tinha essa mulher, para dominar os políticos mais eminentes e para inspirar os filósofos? - perguntou-se Plutarco.

GALEANO, Eduardo. Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre: L&PM, 2015. p. 50.

Nenhum comentário:

Postar um comentário