Aspásia e Pérciles, José Santiago Garnelo y Alda
Nos tempos de Péricles, Aspásia foi a mulher mais famosa de Atenas.
O que também poderia ser dito de outra maneira: nos tempos de Aspásia, Péricles foi o homem mais famoso de Atenas.
Seus inimigos não perdoavam que fosse mulher e estrangeira, e para acrescentar-lhe alguns defeitos atribuíam a ela um passado inconfessável e diziam que a escola de retórica, que ela dirigia, era um criadouro de mocinhas fáceis.
Foi acusada de desprezar os deuses, ofensa que podia ser paga com a morte. Diante de um tribunal de mil a quinhentos homens, Péricles a defendeu. Aspásia foi absolvida, embora em seu discurso de três horas Péricles tenha esquecido de dizer que ela não desprezava os deuses, mas achava que os deuses nos desprezam e arruínam nossas efêmeras felicidades humanas.
Naquela época, Péricles já havia expulsado a esposa de seu leito e de sua casa e vivia com Aspásia. E por defender os direitos do filho que teve com ela, havia violado uma lei que ele mesmo havia escrito.
Para escutar Aspásia, Sócrates interrompia suas aulas. Anaxágoras citava suas opiniões:
- Que arte ou poder tinha essa mulher, para dominar os políticos mais eminentes e para inspirar os filósofos? - perguntou-se Plutarco.
GALEANO, Eduardo. Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre: L&PM, 2015. p. 50.
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