[...]
Para os poucos grupos indígenas que não praticavam a agricultura, a coleta era
o único meio de obter alimento vegetal. Não há propriamente exemplos de índios
sem agricultura no Brasil recente; houve o abandono da agricultura por alguns
deles, antes do contato como os brancos, por um certo período, para mais
facilmente escapar a ataques ou por julgá-la dispensável diante do que o meio
então oferecia; foi o caso dos guajás do Maranhão, dos xoclengues de Santa
Catarina e de parte dos paracanãs do Pará. Nas atividades de coleta também se
pode incluir a procura de animais minúsculos, como gafanhotos, certas larvas,
determinadas espécies de formigas e de produtos de origem animal, como o mel,
ovos de tartaruga etc.
Grupo de camacãs na floresta, Maximilian zu Wied-Neuwied
As
atividades coletoras variam com as regiões e segundo as tradições alimentares
de cada sociedade. Os xoclengues, por exemplo, por viverem no sul do Brasil,
podem dar uma grande importância à coleta do pinhão, mas não têm em seu
território os frutos do buriti, a cuja procura se aplicam os timbiras do Brasil
Central.
A
coleta não inclui apenas elementos comestíveis, mas também matéria-prima para
elaboração de produtos diversos: plantas que tenham qualidades medicinais ou
mágicas, canas para a fabricação de flechas, fibras para fazer cordas, timbó
para entorpecer peixes, cal para pintar o corpo, cera e resinas que sirvam de
adesivos, em suma, uma infinidade de elementos.
Tribo indígena, Johann Moritz Rugendas
No
passado, a coleta era uma das atividades que os timbiras praticavam quando
saíam de suas aldeias em longas expedições após terem plantado suas roças.
Essas expedições duravam até o momento em que o milho das roças estava pronto
para ser colhido. Até pouco depois de seu contato com os brancos, em meados do
século XX, os xavantes passavam a maior parte do ano a fazer expedições que
duravam de seis semanas até três ou quatro meses, freqüentando os locais, nas
épocas adequadas, onde podiam coletar itens vegetais que constituíam
matéria-prima para seus artefatos. E os matis, de sudoeste do Amazonas, após o
contato, valem-se das embarcações motorizadas da Funai, para mais facilmente se
transportarem até os locais onde há os vegetais necessários à confecção do
curare.
MELATTI,
Julio Cezar. Índios do Brasil. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2014. p. 99-100.
Nenhum comentário:
Postar um comentário