Mona Lisa, Leonardo da Vinci
Texto 1. Designamos pelo nome de Renascimento a retomada de uma vida econômica, social e cultural de larga intensidade, que se verificou, de início na Itália e depois em toda a Europa, de meados do século XV ao fim do século XVI.
O grande florescimento econômico de várias cidades italianas, tais como Florença, Ferrara, Veneza, Milão, Urbino, prósperos centros de comércio agrícola e manufatureiro permitiu-lhes dar notável impulso a interesses culturais, proteger artistas, organizar ricas bibliotecas, fundar Academias, onde se reuniam estudiosos e pesquisadores.
Desempenharam papel significativo nesta época os estudos aprofundados das literaturas clássica, que desde o século XIV vinham sendo feitos pelos humanistas (de humanae litterae, como eram chamados os estudos de textos latinos e gregos). Consideravam-se esses estudos de grande importância para a formação do homem e para o bom desempenho de suas funções na sociedade. Por meio desses estudos, os quais revalorizavam, além de obras latinas, as obras gregas introduzidas na Europa por estudiosos bizantinos, após a tomada de Constantinopla pelos turcos, constatou-se que os antigos já haviam explorado os mais variados campos das realizações humanas, técnicas, científicas, artísticas e literárias. Passou-se a admirar e a querer imitar o tipo ideal do homem clássico, centro do universo, integrado na natureza, protagonista da história, o homem independente e altivo.
O homem do Renascimento deveria ser não mais submisso à vontade exclusiva de Deus, porém um homem completo sob o ponto de vista físico e espiritual, deveria interessar-se por todos os ramos do conhecimento, desde as artes até as ciências; deveria saber guerrear com bravura, ser um político astuto, um hábil diplomata, um governante de pulso e ser, antes de mais nada, responsável por si mesmo, por seus triunfos e seus malogros.
O Renascimento englobou todos os aspectos da vida, da política às artes, da literatura às técnicas, buscando em todos equilíbrio, perfeição, beleza e harmonia. A arte, sob todas as suas formas, passou a significar a mais alta expressão da personalidade humana. Os artistas desfrutavam de prestígio imenso, tanto assim que as famílias aristocráticas disputavam entre si o privilégio de protegê-los. Considerando os modelos artísticos da Antiguidade como os mais perfeitos, os artistas do Renascimento neles se inspiraram; em toda a Europa começaram a formar-se museus onde eram colecionados bustos, estátuas, mosaicos, objetos de adorno de origem clássica.
"O Renascimento Artístico teve seus expoentes em Leonardo da Vinci (pintor de A Última ceia, A Gioconda ou Mona Lisa, além de esculturas, músicas, trabalhos filosóficos e matemáticos etc.), Miguel Ângelo, que decorou a Capela Sistina, destacando-se o conjunto do Juízo Final, e esculpiu as estátuas de Moisés, Davi e Pietá, Rafael Sânzio (famoso pelas pinturas de Madonas) e Correggio (Cúpula da Igreja de ão João), na Itália. Acrescentam-se Hans Holbein (conhecido pelos retratos de Henrique VIII e de Erasmo) e Albrecht Dürer (Cristo Crucificado), pintores alemães; Rubens, pintor flamengo, e Murilo e El Greco (de origem grega), mestres da pintura espanhola." (AQUINO, Rubim Santos Leão de. [et alli]. Fazendo a História: As sociedades Americanas e a Europa na Época Moderna. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1990. p. 29-30.)
Mas o homem do Renascimento não se limitou apenas a revalorizar a Antiguidade, a imitar os modelos das civilizações grega e romana. Tendo adquirido confiança nas suas possibilidades, passou a explorar a natureza ao seu redor, a fim de melhor conhecê-la, de dominá-la e de ampliar assim a visão do mundo.
Retomando teorias astronômicas da Antiguidade (em particular a de Aristarco de Samos), o polonês Nicolau Copérnico refutou a teoria do sistema geocêntrico, que dominara por toda a Idade Média, e elaborou a teoria heliocêntrica, tendo o sol como centro do universo.
A visão científica do mundo alargou-se consideravelmente, permitindo grandes progressos nos conhecimentos humanos. A mais notável invenção técnica da época foi a imprensa. Em meados do século XV o alemão Gutenberg descobriu como reproduzir em madeira cada letra do alfabeto (caracteres móveis); ordenados em palavras, as letras eram cobertas de tinta e prensadas sobre folhas de papel, permitindo a impressão de várias cópias de um mesmo livro. O livro impresso tornou-se o fator principal para a difusão do saber, ao qual os humanistas haviam dado poderoso impulso.
Ressalta ainda o aperfeiçoamento no emprego de explosivos (pólvora), de há muito conhecidos e utilizados pelos chineses e pelos árabes. Permitindo a fabricação de armas de fogo mais eficientes, revolucionou as técnicas militares, os sistemas defensivos e, dando destaque à participação da infantaria nos combates, fez com que a cavalaria, tão significativa na Idade Média, perdesse sua projeção.
Ocorreram também, nesse período, grandes expedições marítimas, graças ao progresso da astronomia náutica e da cartografia, a instrumentos de navegação aperfeiçoados (bússola, astrolábio), ao aparecimento da caravela. Os descobrimentos geográficos que se seguiram possibilitaram à Europa entrar em contato com terras longínquas e trouxeram importantes consequências históricas. HOLLANDA, Sérgio Buarque de. (org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974. p. 172-3.
Texto 2. Orgulhoso de seu momento histórico - a superação das crises do final da Idade Média -, o homem do século XVI denominou sua época de Renascimento. Pretendia assim dar ideia de que o período imediatamente anterior teria sido pouco importante - uma idade "média" colocada entre duas fases áureas da humanidade. Para os renascentistas, os séculos XV e XVI assistiam ao ressurgimento da brilhante cultura greco-romana. Tal pretensão é considerada hoje exagerada, pois a Idade Média não desconhecera a cultura antiga, aliás preservada em parte graças aos medievais. Assim, não houve uma quebra de continuidade entre um período e outro. Por isso, atualmente se prefere datar o Renascimento entre 1300 e 1600.
Porém, se o homem renascentista não tinha características absolutamente novas, sem dúvida havia nele alguns elementos que o distinguiam de seus antecessores medievais: era profundamente individualista, racionalista, eclético, hedonista, enfim, humanista. O homem se autovalorizava, vendo sua existência como uma forma não apenas de louvar o Criador, mas também de louvar a si mesmo como criador.
Esse perfil, contudo, não se aplicava a toda a população europeia da época. A cultura renascentista, na verdade, foi um fenômeno de elite, um movimento urbano, tendo se manifestado desigualmente entre as várias regiões. O centro-norte italiano, a parte mais urbanizada e rica da Europa de então, foi o pólo dinâmico desse movimento cultural. Nas zonas rurais que cobriam a maior parte da Europa, predominava uma cultura tradicional popular e oral.
Nesse momento de intensificação das trocas comerciais e dos contatos possibilitados pelas peregrinações, pela diplomacia e pelas guerras, cultura erudita e cultura popular naturalmente se interpenetravam. É o que se percebe, claramente, por exemplo, nas obras do italiano Boccaccio, do francês Rabelais, do alemão Dürer e do espanhol Cervantes. FRANCO JR., Hilário; FILHO, Ruy de Oliveira Andrade. Atlas História Geral. São Paulo: Scipione, 1994. p. 30.
Madona com o diadema azul, Rafael Sânzio
O homem do Renascimento deveria ser não mais submisso à vontade exclusiva de Deus, porém um homem completo sob o ponto de vista físico e espiritual, deveria interessar-se por todos os ramos do conhecimento, desde as artes até as ciências; deveria saber guerrear com bravura, ser um político astuto, um hábil diplomata, um governante de pulso e ser, antes de mais nada, responsável por si mesmo, por seus triunfos e seus malogros.
O Renascimento englobou todos os aspectos da vida, da política às artes, da literatura às técnicas, buscando em todos equilíbrio, perfeição, beleza e harmonia. A arte, sob todas as suas formas, passou a significar a mais alta expressão da personalidade humana. Os artistas desfrutavam de prestígio imenso, tanto assim que as famílias aristocráticas disputavam entre si o privilégio de protegê-los. Considerando os modelos artísticos da Antiguidade como os mais perfeitos, os artistas do Renascimento neles se inspiraram; em toda a Europa começaram a formar-se museus onde eram colecionados bustos, estátuas, mosaicos, objetos de adorno de origem clássica.
"O Renascimento Artístico teve seus expoentes em Leonardo da Vinci (pintor de A Última ceia, A Gioconda ou Mona Lisa, além de esculturas, músicas, trabalhos filosóficos e matemáticos etc.), Miguel Ângelo, que decorou a Capela Sistina, destacando-se o conjunto do Juízo Final, e esculpiu as estátuas de Moisés, Davi e Pietá, Rafael Sânzio (famoso pelas pinturas de Madonas) e Correggio (Cúpula da Igreja de ão João), na Itália. Acrescentam-se Hans Holbein (conhecido pelos retratos de Henrique VIII e de Erasmo) e Albrecht Dürer (Cristo Crucificado), pintores alemães; Rubens, pintor flamengo, e Murilo e El Greco (de origem grega), mestres da pintura espanhola." (AQUINO, Rubim Santos Leão de. [et alli]. Fazendo a História: As sociedades Americanas e a Europa na Época Moderna. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1990. p. 29-30.)
Um dos nus do teto da Capela Sistina (detalhe), Michelangelo
Mas o homem do Renascimento não se limitou apenas a revalorizar a Antiguidade, a imitar os modelos das civilizações grega e romana. Tendo adquirido confiança nas suas possibilidades, passou a explorar a natureza ao seu redor, a fim de melhor conhecê-la, de dominá-la e de ampliar assim a visão do mundo.
Retomando teorias astronômicas da Antiguidade (em particular a de Aristarco de Samos), o polonês Nicolau Copérnico refutou a teoria do sistema geocêntrico, que dominara por toda a Idade Média, e elaborou a teoria heliocêntrica, tendo o sol como centro do universo.
A visão científica do mundo alargou-se consideravelmente, permitindo grandes progressos nos conhecimentos humanos. A mais notável invenção técnica da época foi a imprensa. Em meados do século XV o alemão Gutenberg descobriu como reproduzir em madeira cada letra do alfabeto (caracteres móveis); ordenados em palavras, as letras eram cobertas de tinta e prensadas sobre folhas de papel, permitindo a impressão de várias cópias de um mesmo livro. O livro impresso tornou-se o fator principal para a difusão do saber, ao qual os humanistas haviam dado poderoso impulso.
Oficina de imprensa em fins do século XV
Ressalta ainda o aperfeiçoamento no emprego de explosivos (pólvora), de há muito conhecidos e utilizados pelos chineses e pelos árabes. Permitindo a fabricação de armas de fogo mais eficientes, revolucionou as técnicas militares, os sistemas defensivos e, dando destaque à participação da infantaria nos combates, fez com que a cavalaria, tão significativa na Idade Média, perdesse sua projeção.
Ocorreram também, nesse período, grandes expedições marítimas, graças ao progresso da astronomia náutica e da cartografia, a instrumentos de navegação aperfeiçoados (bússola, astrolábio), ao aparecimento da caravela. Os descobrimentos geográficos que se seguiram possibilitaram à Europa entrar em contato com terras longínquas e trouxeram importantes consequências históricas. HOLLANDA, Sérgio Buarque de. (org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974. p. 172-3.
Texto 2. Orgulhoso de seu momento histórico - a superação das crises do final da Idade Média -, o homem do século XVI denominou sua época de Renascimento. Pretendia assim dar ideia de que o período imediatamente anterior teria sido pouco importante - uma idade "média" colocada entre duas fases áureas da humanidade. Para os renascentistas, os séculos XV e XVI assistiam ao ressurgimento da brilhante cultura greco-romana. Tal pretensão é considerada hoje exagerada, pois a Idade Média não desconhecera a cultura antiga, aliás preservada em parte graças aos medievais. Assim, não houve uma quebra de continuidade entre um período e outro. Por isso, atualmente se prefere datar o Renascimento entre 1300 e 1600.
Porém, se o homem renascentista não tinha características absolutamente novas, sem dúvida havia nele alguns elementos que o distinguiam de seus antecessores medievais: era profundamente individualista, racionalista, eclético, hedonista, enfim, humanista. O homem se autovalorizava, vendo sua existência como uma forma não apenas de louvar o Criador, mas também de louvar a si mesmo como criador.
Esse perfil, contudo, não se aplicava a toda a população europeia da época. A cultura renascentista, na verdade, foi um fenômeno de elite, um movimento urbano, tendo se manifestado desigualmente entre as várias regiões. O centro-norte italiano, a parte mais urbanizada e rica da Europa de então, foi o pólo dinâmico desse movimento cultural. Nas zonas rurais que cobriam a maior parte da Europa, predominava uma cultura tradicional popular e oral.
Nesse momento de intensificação das trocas comerciais e dos contatos possibilitados pelas peregrinações, pela diplomacia e pelas guerras, cultura erudita e cultura popular naturalmente se interpenetravam. É o que se percebe, claramente, por exemplo, nas obras do italiano Boccaccio, do francês Rabelais, do alemão Dürer e do espanhol Cervantes. FRANCO JR., Hilário; FILHO, Ruy de Oliveira Andrade. Atlas História Geral. São Paulo: Scipione, 1994. p. 30.
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