"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Família e vida cotidiana na África Ocidental

Costumes africanos

Texto 1. Em grande parte da África Ocidental, as famílias eram formadas pelo chefe - o Homem Grande - acompanhado pelos filhos, esposa, irmãos mais novos e outros parentes que necessitassem de apoio, contendo entre dez e quarenta pessoas, que compunham as aldeias. Aos ancestrais mortos e aos homens mais velhos da comunidade era atribuída grande importância, devendo-se respeito e obediência.

Uma das formas de casamento era por meio de rapto de mulheres nas suas aldeias. Em geral, a família do futuro marido pagava à família da noiva um dote. A maior parte dos casamentos era polígamo. As mulheres casavam-se muito jovens, ainda na adolescência, e os homens um pouco mais velhos, por volta dos 30 anos. As mulheres cuidavam dos trabalhos agrícolas e, em alguns lugares, como nas savanas e nas florestas meridionais da África Ocidental, também do comércio. O trabalho mais pesado, como a abertura de caminhos nas florestas, ficava reservado aos homens. As colheitas eram feitas pelos dois.

Os povos da África Ocidental davam grande importância à geração de filhos. Um provérbio iorubá dizia que "sem filhos estás nu". Os filhos eram a garantia de uma boa velhice dos pais e, depois, quando da sua morte, eles dariam continuidade à família. MATTOS, Regiane Augusto de. História e cultura afro-brasileira. São Paulo: Contexto, 2008. p. 58.

Paisagem da cidade de Kano, Heinrich Barth


Texto 2.  Na maioria das culturas africanas, a fertilidade constituía atributo essencial para homens e mulheres. Quem não podia ter filhos era desprezado pelo grupo social. O número de filhos de uma família era proporcional ao seu prestígio na comunidade. As mulheres férteis eram disputadas e até raptadas pelos seus pretendentes. Homens ricos podiam casar com dezenas de mulheres e ter centenas de filhos. A maternidade inspirou artistas da época [...]. A disputa por esposas gerou muitos conflitos. A proteção das mães e das crianças era responsabilidade de todos.

As casas eram construídas de pedra ou de uma mistura de barro e óleo de dendê. Nos locais onde os construtores utilizaram materiais duráveis, como pedras, foi possível conhecer melhor o modo de vida dos indivíduos.

Pesquisas recentes revelam a importância política e comercial de algumas cidades como Mbansa Kongo, Benin, Grande Zimbábue, Kano e muitas outras. Nesses locais, a vida urbana foi dinâmica, lúdica (com danças, jogos e cantorias) e comercialmente ativa. Há indícios de que a vida média dos indivíduos tenha sido aproximadamente 40 anos. BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myrian Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. Da conquista da América ao século XIX. São Paulo: Moderna, 2010. p. 32.

Texto 3. A mulher negra, porém, apesar das mutilações corporais que por vezes lhe eram infligidas, gozava também de prerrogativas que são precisamente o contrário da opressão e que lhes davam um estatuto invejável em relação às mulheres de certos países da mesma época: liberdade sexual [...]; liberdade de deslocação por ocasião da maternidade ou das visitas à família; [...] regime matrilinear, que dá ao irmão a autoridade sobre os filhos; libertação econômica pela apropriação dos ganhos das suas múltiplas atividades rurais ou comerciais; [...] direitos políticos ou espirituais que lhe abrem por vezes o caminho do trono e da regência ou fazem dela sacerdotisa respeitada, em particular nos ritos de fertilidade. KI-ZERBO, Joseph. História da África negra 1. Lisboa: Europa-América, s/d. p. 225.

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