Epístolas paulinas, século III
"Mas o Senhor está assentado perpetuamente, já preparou o seu tribunal para julgar. Ele mesmo julgará o mundo com a justiça; julgará os povos com retidão. O Senhor será também um alto refúgio para o oprimido, um alto refúgio em tempos de angústia. E em ti confiarão os que conhecem o teu nome; porque tu, Senhor, nunca desamparaste os que te buscam".
(Salmos, 9: 8, 9, 10)
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A palavra documento vem do latim, a língua falada pelos antigos romanos. Eles chamavam de documentum o objeto que transmitia uma informação ou que ensinava alguma coisa. Hoje, consideramos documento tudo o que é registrado pelo ser humano por escrito ou por meio de sons ou imagens. Assim, um texto, uma escultura, uma música, uma fotografia, um filme, um objeto de uso doméstico, uma ferramenta são documentos. Eles revelam os costumes, os valores e os acontecimentos da história do ser humano.
A Bíblia é um dos documentos escritos mais antigos que existe. E o mais divulgado e conhecido pela humanidade ocidental, pois é a base da religião judaica e da cristã. Mas, como todo documento histórico, precisa ser investigado. A parte mais antiga da Bíblia chama-se Velho Testamento. Nele encontramos a história da criação do mundo e da humanidade por Deus (no Gênesis), a saída dos hebreus do Egito e sua longa viagem até a Palestina (no Êxodo), a história dos reis hebreus (em Reis) e outras tantas.
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Os textos do Velho Testamento não foram escritos como um único livro e nem em uma única época. Eles são uma coletânea de textos de diversos autores que viveram e escreveram em diferentes momentos entre os séculos X e II a.C. Não se conhecem as datas exatas, pois nenhum dos livros traz o ano em que foi escrito e poucos trazem o nome de seus autores.
Durante séculos, a Bíblia não tinha o formato que hoje conhecemos, com todos os seus livros reunidos e encadernados. Seus textos eram copiados em rolos de papiro, pergaminho ou couro, cada um com um trecho do texto original. Para que coubesse todo o texto, era precisa emendar o papiro ou o pergaminho. Alguns chegavam a ficar com seis a oito metros de comprimento. Eram guardados enrolados e seu transporte devia ser muito incômodo.
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No espaço de oitocentos anos de sua criação, os textos originais do Velho Testamento sofreram perdas, alterações, acréscimos e supressões. Passaram pelas mãos de muitos autores, copistas e tradutores. Essas modificações eram feitas de acordo com o público ao qual o texto se dirigia. A Bíblia é um documento religioso e repleto de exemplos morais e de normas de conduta. Muitas vezes, para reforçar essas lições, o copista ou o tradutor retocava a linguagem original. Por exemplo, foi assim que apareceu em uma versão grega a palavra pecado, que não existia em nenhum texto hebraico.
O Velho Testamento foi escrito originalmente, em sua maior parte, em hebraico antigo e alguns poucos trechos em aramaico. Depois foi traduzido para o grego e daí para as línguas atuais. Nesse caminho de tantas traduções, será que o tradutor usou as palavras corretas? Observe estes exemplos:
"E Deus criou uma criatura terrestre".
"E Deus criou o ser humano".
"E Deus criou o homem".
As três frases trazem mensagens diferentes. Tanto os judeus quanto os católicos e os protestantes estão sempre procurando estudar a Bíblia e descobrir cada vez mais o sentido de sua mensagem.
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A Bíblia registrou relatos feitos oralmente e passados de geração para geração durante séculos. Sua linguagem está recheada de palavras da vida cotidiana, com todos os seus exageros, imprecisões e simbolismos. Assim, por exemplo, quando descreve o dilúvio, o autor afirma que ele foi "universal". Na linguagem de hoje, universal significa todo o cosmo, isto é, o nosso planeta, os astros e as galáxias. Seria difícil imaginar uma enchente nessas proporções. Então, a Bíblia mentiu? Não. Na visão dos homens daquela época, o lugar onde eles viviam era o seu universo: o restante, eles não conheciam e, portanto, não existia para eles.
As palavras da Bíblia são empregadas com sentido aproximado, muitas vezes simbólico. No dia-a-dia nós também usamos muitas metáforas e hipérboles. Por exemplo, quando você fala "todo o mundo estava na festa de fulano", ninguém vai entender literalmente que "todos os habitantes do planeta estavam na festa..." (que festa, hein!). Para nós, é claro que "todo o mundo" significa "muita gente". Agora, imagine essa linguagem lida daqui a alguns séculos. Como ela será compreendida?
Por isso, os textos bíblicos precisam ser interpretados, para serem bem compreendidos. E isso ocorre com qualquer documento escrito. É necessário analisá-lo de acordo com a linguagem da época, com o público ao qual era destinado e com a situação histórica em que ele foi produzido.
RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento: imagem e texto. São Paulo: FTD, 2002. p. 130-3.
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