Francisco Pizarro na ilha de Gallo, convidando seus soldados
para cruzar a linha traçada no chão, se eles desejassem continuar sua expedição
para o Peru, Juan B. Lepiani
Ao descobrir outras culturas, o homem do Renascimento hierarquizou-as: da civilização à barbárie. Nesse sentido, o humanista constitui-se a partir de uma vontade de domínio e poder sobre todos os povos do mundo.
Desenhar um mapa, construir o império, destruir outras culturas, impor a fé cristã, assinar obras de arte eram atitudes renascentistas.
A América - destruída e construída a partir do padrão europeu - transformava-se em lugar de comprovação da superioridade da cultura europeia. Era necessário construir uma igreja em cima de uma pirâmide indígena. Não podia ser ao lado.
A invenção da perspectiva na pintura é contemporânea às Grandes Navegações. Ao mesmo tempo em que o pintor estudava as possibilidades de criar a perfeição (reprodução) em seus desenhos, os cartógrafos procuravam mapear, com observância rigorosa, todo o globo terrestre. [...]
Os descobridores, ao realizarem sua obra de colonização construindo igrejas e outras edificações necessárias à conquista, e os artistas, pintando ou esculpindo na Europa, consideravam a existência de um único padrão de beleza, uma única religião verdadeira, uma cultura superior a todas as outras. Descobridores e artistas olhavam o mundo de um único ponto e a partir dele destruíam e construíam. [...]
O resultado desse grande esforço renascentista, dessa "plenitude", foi suporem possuir domínio sobre a vida e a morte das populações que consideravam bárbaras. A América conheceu a expressão mais violenta desse sonho de dominação.
Aqui, nesse Novo Mundo, grande parte da população foi morta por aqueles que necessitavam esculpir a sua cultura sobre as populações pré-colombianas. Não foram anos fáceis para a América. [...]
O colonizador, como se fosse um escultor, talhou a América na forma em que havia imaginado. Destruía pirâmides para construir igrejas, derrubava habitações para obter o desenho da praça ou o traçado desejado para as ruas, jogava pedras nos canais para que os cavalos pudessem circular melhor na cidade. Reconstruía-se tudo o que era possível para que o núcleo urbano lembrasse a Europa. [...]
Os indígenas aprendiam a pintar e a construir para que a América, cada dia mais, se apresentasse com as formas, as cores e a vida europeia. Uma multidão de artífices indígenas se esforçavam para imitar o desenho que viam em precárias reproduções trazidas pelos europeus.
Por todos esses motivos analisados, a harmonia presente nos quadros renascentistas transformava-se em desarmonia no Novo Mundo.
SILVA, Janice Theodoro da. Descobrimentos e Renascimento. São Paulo: Contexto, 1991. p. 56-58, 63-64.
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