Vendedor de rua oferecendo frutas e bolos empilhados em um cesto. Ca. 489-470 a.C. Pan.
Foto: Marie-Lan Nguyen
Mesmo nos momentos mais felizes do período clássico, quando essa vida rural não sofre nem com as misérias da guerra, nem com as perturbações civis, ela só fornece à economia grega uma base muito restrita. Embora a sua população seja frugal, a Grécia não a pode alimentar unicamente com suas colheitas, exceto em algumas regiões favorecidas pela natureza ou de fraca densidade humana. Normalmente, é necessário importar produtos alimentícios: a Sicília, a Itália do Sul, o Egito e as margens setentrionais do Mar Negro são seus fornecedores necessários. Mas, para pagar o que lhes compra, a Grécia está na obrigação de vender-lhes qualquer coisa. Vende-lhes azeite e vinho, únicos produtos para os quais sua agricultura proporciona excedentes disponíveis, bem como os produtos de sua indústria. [...]
[...] Vendas e
compras no exterior pressupõem a existência de uma marinha, que, atingindo
certa importância, não mais encontra em quantidade suficiente, na velha Grécia,
os materiais indispensáveis à construção e manutenção de navios; mas essa
marinha mesma é uma fonte de lucros, pois permite que os armadores exerçam um
papel de intermediários e de corretores, papel que se estende a toda a bacia do
Mediterrâneo. Enfim, o incremento do tráfico provoca, por sua vez, a
multiplicação das operações de troca e, depois, das transferências de fundos,
dando assim margem ao florescimento do comércio do dinheiro, que evolui no
sentido da atividade bancária.
Um antigo navio grego. Artista desconhecido
Essa economia
diversificada não predomina sobre a economia rural senão em raros pontos da Grécia,
em certas cidades e certos portos localizados em posições geográficas propícias,
com população mais empreendedora ou mais ameaçada pela fome, e servida, também,
por circunstâncias políticas favoráveis.
[...] Na
Sicília, Siracusa aumenta a superioridade de que já gozava outrora. O prestígio
e as forças militares que lhe valem suas vitórias sobre Cartago permitem-lhe
criar um império, que não é somente político. Destrói ou submete outras cidades
ou, pelo menos, tira proveito de sua destruição por parte de terceiros. Uma
imigração, ora espontânea, ora forçada, facilitada e mesmo imposta pelos
tiranos, que se mostram generosos em relação ao direito de cidadania, a fim de
destruir a coesão moral de seus súditos, aumenta consideravelmente sua população.
Na Itália meridional, Tarento, sem pretender semelhante fortuna, acaba também
por destacar-se, servida pelo declínio de suas vizinhas que se arruínam umas às
outras ou que resistem menos à pressão dos itálicos. Na própria Grécia, os
centros prósperos da vida econômica são menos numerosos do que outrora. Cálcis,
Erétria, Egina, estão decadentes ou mortas, sufocadas pelo crescimento de
Atenas. As cidades gregas da Ásia vegetam [...]. Ao contrário, Corinto continua
importante, maravilhosamente situada para o comércio com a Sicília e a Itália,
onde mantém relações políticas amistosas [...].
Grande
importadora de produtos alimentícios e matérias-primas, Atenas exporta o vinho
e o azeite dos campos da Ática, seus artigos manufaturados e, principalmente, a
cerâmica, cujos cacos se encontram hoje desde as costas da Gália até a Rússia
meridional. Servida por numerosa marinha mercante que suas esquadras protegem
contra os inimigos e os piratas, seu porto do Pireu é, como diz Isócrates, “um
mercado no meio da Grécia... onde a superabundância é tal que os objetos que não
se podem encontrar em outras partes senão com esforço, e isoladamente, são aqui
facilmente adquiríveis”. Enfim [...] Atenas exporta suas moedas. A prata extraída
das minas do Laurion permite-lhe fazer a cunhagem em grande quantidade, com
apreciável lucro, de moedas de excelente título e peso escrupuloso [...].
AYMARD, André; AUBOYER, Jeannine.
O Oriente e a Grécia Antiga: o homem no
Oriente Próximo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 186-188.
(História Geral das Civilizações, v. 2)
NOTA: O texto "A vida material e social na Grécia Antiga: as trocas" não representa,
necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de
refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.
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