"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 28 de julho de 2014

A vida material e social na Grécia Antiga: as trocas

Vendedor de rua oferecendo frutas e bolos empilhados em um cesto. Ca. 489-470 a.C. Pan.
Foto: Marie-Lan Nguyen

Mesmo nos momentos mais felizes do período clássico, quando essa vida rural não sofre nem com as misérias da guerra, nem com as perturbações civis, ela só fornece à economia grega uma base muito restrita. Embora a sua população seja frugal, a Grécia não a pode alimentar unicamente com suas colheitas, exceto em algumas regiões favorecidas pela natureza ou de fraca densidade humana. Normalmente, é necessário importar produtos alimentícios: a Sicília, a Itália do Sul, o Egito e as margens setentrionais do Mar Negro são seus fornecedores necessários. Mas, para pagar o que lhes compra, a Grécia está na obrigação de vender-lhes qualquer coisa. Vende-lhes azeite e vinho, únicos produtos para os quais sua agricultura proporciona excedentes disponíveis, bem como os produtos de sua indústria. [...]

[...] Vendas e compras no exterior pressupõem a existência de uma marinha, que, atingindo certa importância, não mais encontra em quantidade suficiente, na velha Grécia, os materiais indispensáveis à construção e manutenção de navios; mas essa marinha mesma é uma fonte de lucros, pois permite que os armadores exerçam um papel de intermediários e de corretores, papel que se estende a toda a bacia do Mediterrâneo. Enfim, o incremento do tráfico provoca, por sua vez, a multiplicação das operações de troca e, depois, das transferências de fundos, dando assim margem ao florescimento do comércio do dinheiro, que evolui no sentido da atividade bancária.


Um antigo navio grego. Artista desconhecido

Essa economia diversificada não predomina sobre a economia rural senão em raros pontos da Grécia, em certas cidades e certos portos localizados em posições geográficas propícias, com população mais empreendedora ou mais ameaçada pela fome, e servida, também, por circunstâncias políticas favoráveis.

[...] Na Sicília, Siracusa aumenta a superioridade de que já gozava outrora. O prestígio e as forças militares que lhe valem suas vitórias sobre Cartago permitem-lhe criar um império, que não é somente político. Destrói ou submete outras cidades ou, pelo menos, tira proveito de sua destruição por parte de terceiros. Uma imigração, ora espontânea, ora forçada, facilitada e mesmo imposta pelos tiranos, que se mostram generosos em relação ao direito de cidadania, a fim de destruir a coesão moral de seus súditos, aumenta consideravelmente sua população. Na Itália meridional, Tarento, sem pretender semelhante fortuna, acaba também por destacar-se, servida pelo declínio de suas vizinhas que se arruínam umas às outras ou que resistem menos à pressão dos itálicos. Na própria Grécia, os centros prósperos da vida econômica são menos numerosos do que outrora. Cálcis, Erétria, Egina, estão decadentes ou mortas, sufocadas pelo crescimento de Atenas. As cidades gregas da Ásia vegetam [...]. Ao contrário, Corinto continua importante, maravilhosamente situada para o comércio com a Sicília e a Itália, onde mantém relações políticas amistosas [...].

[...]


Escravos trabalhando nas minas de Laurion. Artista desconhecido. Século V a.C.

Grande importadora de produtos alimentícios e matérias-primas, Atenas exporta o vinho e o azeite dos campos da Ática, seus artigos manufaturados e, principalmente, a cerâmica, cujos cacos se encontram hoje desde as costas da Gália até a Rússia meridional. Servida por numerosa marinha mercante que suas esquadras protegem contra os inimigos e os piratas, seu porto do Pireu é, como diz Isócrates, “um mercado no meio da Grécia... onde a superabundância é tal que os objetos que não se podem encontrar em outras partes senão com esforço, e isoladamente, são aqui facilmente adquiríveis”. Enfim [...] Atenas exporta suas moedas. A prata extraída das minas do Laurion permite-lhe fazer a cunhagem em grande quantidade, com apreciável lucro, de moedas de excelente título e peso escrupuloso [...].

AYMARD, André; AUBOYER, Jeannine. O Oriente e a Grécia Antiga: o homem no Oriente Próximo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 186-188. (História Geral das Civilizações, v. 2)

NOTA: O texto "A vida material e social na Grécia Antiga: as trocas" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário