Após o assassinato de Domiciano,
o Senado, com o concurso dos pretorianos, levou ao império um dos seus, o
aristocrata romano Nerva (96-98), que
empreendeu uma política democrática. Desejoso de acalmar a apreensão das legiões,
cada vez mais recrutadas no escalão das províncias, Nerva não escolheu sucessor
na sua família. Introduziu o princípio da adoção do mais digno, e a sua escolha
recaiu sobre o general Trajano
(98-117).
Dinastia antonina
NEVES, Joana. História Geral - A construção de um mundo globalizado. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 141.
Dinastia antonina
Nerva
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Trajano
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Adriano
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Antonino, o Pio
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Marco Aurélio
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Cômodo
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Com Trajano, o poder imperial foi
definitivamente arrancado de Roma. O império deixou de ser romano para
tornar-se realmente mediterrâneo. Os imperadores, a partir de então, foram
provinciais.
"Com um comando cosmopolita [...] o império estava sempre derrubando barreiras entre os povos dominados. Continuou firme a romanização das famílias importantes nas províncias. Jovens gauleses, sírios, africanos e ilírios, todos aprendiam latim e grego, usavam roupas como as dos romanos e aprendiam a considerar a Romanitas - a herança romana - algo de que deviam se orgulhar. Enquanto isso, os funcionários civis e o exército mantinham a paz respeitando os sentimentos locais, desde que os impostos entrassem regularmente." (ROBERTS, J. M. O livro de ouro da história do mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. p. 231.)
Um amante da arte romana, Sir Lawrence Alma-Tadema
"Com um comando cosmopolita [...] o império estava sempre derrubando barreiras entre os povos dominados. Continuou firme a romanização das famílias importantes nas províncias. Jovens gauleses, sírios, africanos e ilírios, todos aprendiam latim e grego, usavam roupas como as dos romanos e aprendiam a considerar a Romanitas - a herança romana - algo de que deviam se orgulhar. Enquanto isso, os funcionários civis e o exército mantinham a paz respeitando os sentimentos locais, desde que os impostos entrassem regularmente." (ROBERTS, J. M. O livro de ouro da história do mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. p. 231.)
Trajano ampliou o Senado,
introduzindo nele gregos e africanos. Mas o papel do Senado passou a ser
exclusivamente consultivo. Ratificando a adoção do herdeiro presuntivo do
imperador, dava, todavia, ao poder imperial a legitimidade indispensável à sua
estabilidade.
É verdade que essa legitimidade só
tinha valor para Roma, e não para o império. Eis por que Trajano e, depois
dele, os Antoninos, procuraram assentar o seu poder sobre a legitimidade por
direito divino, de que gozavam no Egito.
Trajano fez-se representar com os
atributos de Hércules, o deus de Gades; Adriano
(117-138) assumiu o título de “Olímpico”, reservado a Júpiter, e adotou
Sarapis, o deus egípcio, como deus oficial do império. Ao mesmo tempo, seguiu
uma política de absolutismo esclarecido, que reavivou a oposição do Senado.
Adriano visitando uma oficina de cerâmica romano-britânica, Sir. Lawrence Alma-Tadema
Antonino (138-161) e Marco
Aurélio (161-180), para evitar o conflito, voltaram aos princípios
constitucionais. Marco Aurélio quis adaptá-los à monarquia hereditária. Nomeou
herdeiro seu filho Cômodo (180-192).
Cômodo reafirmou o caráter de
direito divino da monarquia. O imperador apresentou-se como mediador entre a
divindade e os homens. Estes, sendo iguais perante o grande deus criador,
deviam ser iguais diante do absolutismo divino do imperador. Ameaçado, ao mesmo
tempo, em suas prerrogativas políticas e sociais, o Senado reagiu violentamente.
O imperador respondeu com o terror. A política de apaziguamento desapareceu na
guerra civil, que redundou no assassínio de Cômodo.
O absolutismo divino dos
Antoninos foi acompanhado, como ocorreu com o absolutismo egípcio, de uma política
de justiça e igualdade. O funcionalismo organizou-se de acordo com as regras do
direito egípcio. A hierarquia das funções substituiu a hierarquia das classes,
e o valor individual substituiu os direitos adquiridos pelo nascimento.
A organização do poder central
foi acompanhado da unificação das instituições. O imperador organizou a
jurisdição criminal em princípios uniformes para todos os habitantes do império.
Instaurou-se a apelação. Criou-se uma jurisdição contenciosa, calcada no modelo
egípcio, para garantir os direitos dos administrados em relação ao Estado. Unificou-se
e humanizou-se o processo. O direito romano foi codificado pela primeira vez
(Edito perpétuo de Adriano). A política social desenvolveu-se, demagógica em
Roma, porém mais orientada para a atenuação real da miséria nas províncias.
Reapareceram as concepções do
direito natural que o Egito conhecera no 14º século a.C. Os princípios de
autonomia dos governos das cidades foram uniformizados e generalizados. Em toda
a parte se introduziu a nomeação dos magistrados pela burguesia rica. Acima das
cidades, as assembleias provinciais faziam solicitações e controlavam a gestão
dos governadores de províncias.
O equilíbrio entre o imperador e
as diversas classes da população assegurava, ao mesmo tempo, a unidade do império,
a liberdade dos cidadãos e a proteção dos deserdados.
Escultores na antiga Roma, Sir Lawrence Alma-Tadema
O mundo mediterrâneo jamais viveu
sob instituições tão liberais. A vida espiritual voltou a conhecer em Roma uma
dignidade magnífica. A preocupação do bem público, a livre discussão da política
imperial inspiraram a literatura. “Ordenas que sejamos livres”, diz Plínio, o
Moço, a Trajano, “e assim fazes de nós homens e cidadãos”. A elite grega
retomou, com Plutarco, o caminho de Roma, onde Dion de Prusa publicou a recusa
dos países helenizados de aceitarem ainda, no futuro, um governo que concebesse
o império como terra de exploração em benefício de Roma. Essa renovação
intelectual, entretanto, procurava antes vulgarizar do que criar. O grande
centro científico continuava a ser Alexandria, onde Ptolomeu formulava, na sua
geografia, as teorias que só seriam ultrapassadas por Copérnico, e onde Galeno
fazia a súmula da ciência médica da Antiguidade. Inspirando-se nas fontes helenísticas,
Roma levou às províncias ocidentais latinizadas a aquisição de 35 séculos de
civilização greco-oriental.
Ao passo que a política dos
imperadores visava a proteger a classe média, na qual repousavam as instituições
do império, o domínio cada vez mais tirânico do fisco exercia profunda influência
em sentido contrário. O capitalismo de Estado, instaurado pela exploração
direta dos domínios estatais pelo fisco, engendrou os mesmos males que o
capitalismo particular. Introduziu, na África, desde o 2º século, e generalizou
em todo o império, desde o fim do 3º século, o sistema dos arrendamentos a
longo prazo, e até hereditários – como no Egito – e a solidariedade de aldeia
imposta aos agricultores para o pagamento das rendas devidas ao fisco. Entravadas
pelo capitalismo de Estado, as medidas tomadas para favorecer a classe rural
foram todas inoperantes. A pequena propriedade desapareceu diante da
industrialização da agricultura. O capitalismo de Estado redundaria na
escravização da classe rural, provocando uma revolta de camponeses no Egito (2º
século) e preparando uma crise rural em todo o império.
O empobrecimento da classe rural
acentuou, no 2º século, a crise de superprodução que se seguiu ao impulso
industrial, provocado, no 1º século, pelo aparelhamento das províncias
ocidentais e pelo retorno da paz. Submergida pelo trabalho servil, a Itália
adormeceu numa decadência econômica. Roma, que se tornara a cidade mais
populosa do mundo, mas que não exercia atividade econômica alguma, perdeu a
direção da economia imperial. Deixou de governar para gozar.
A ausência, nas províncias
ocidentais, de produções capazes de suprir à decadência industrial do Egito, a
fim de alimentar o comércio do império com o Extremo Oriente tornava deficitário
esse comércio. Os seus verdadeiros beneficiários se achavam fora do império;
eram as cidades das caravanas da Ásia e o reino dos partas.
Trajano parece ter querido dar ao
império um equilíbrio econômico estável. Roma carecia de ouro. Trajano
empreendeu a conquista da Dácia (Romênia), rica em ouro. Renunciando à política
do monopólio estatal, aí inaugurou o sistema da pequena exploração mineira, que
seu sucessor Adriano introduziria em Portugal.
Para controlar as vias do
comércio com o Extremo Oriente, Trajano incorporou ao império o reino dos árabes
nabateus; para assegurar o controle do mar Vermelho e dominar as vias
terrestres empurrou as fronteiras do império até o golfo Pérsico e até o sul do
mar Cáspio.
Mas, para garantir as conquistas
de Trajano contra a cobiça do Império dos partos, Roma teria precisado
despender um grande esforço militar. Ora, ela se orientava para uma civilização
essencialmente pacífica. O exército se recrutava cada vez com maior
dificuldade. Para completar os efetivos, alistavam-se bárbaros. As legiões se
acantonavam onde eram recrutadas. Já não podiam ser enviadas para longe.
Adriano renunciou à conservação da Mesopotâmia e tornou a trazer a fronteira
para o alto Eufrates. O império cercou-se de um muro-fronteira e limitou-se a
conservar o status quo. E o desequilíbrio
do comércio com o Extremo Oriente persistiu.
No interior, as despesas das
cidades (urbanização, leis sociais, ensino) tornavam-se pesados demais para
elas. O império precisou intervir. Passou a vigiar-lhes a gestão. O imperador
Marco Aurélio colocou um curador imperial ao lado dos magistrados municipais,
que se libertaram, a partir desse momento, do controle da burguesia, que
anteriormente os elegia; cooptaram-se; arrogaram-se poderes arbitrários,
transformando-se numa espécie de nobreza que pretendeu colocar-se acima das
leis.
O estatismo introduzido por Marco
Aurélio mudou-se, sob Cômodo (180-192), em absolutismo. Reavivou-se a oposição
do Senado. A falta de reservas metálicas, num momento em que reapareciam graves
distúrbios políticos, levou Cômodo a desvalorizar maciçamente a moeda em 30%. Disso
resultou uma rápida elevação do custo de vida, que provocou a crise econômica e
a agitação social. Diante do descontentamento do exército, aumentou-se o soldo.
O encargo suplementar que o aumento representou para o tesouro ultrapassou os
benefícios da desvalorização. Foi um descalabro. Após um século de
prosperidade, o império se via bruscamente atirado a uma crise política, econômica
e fiscal, que parecia sem saída. Em 192, Cômodo, que enlouquecera, foi
assassinado. Nova guerra dinástica estourou.
NEVES, Joana. História Geral - A construção de um mundo globalizado. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 141.
NEVES, Joana. História Geral - A construção de um mundo globalizado. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 141.
PIRENNE, Jacques-Henri. Panorama da História Universal. São
Paulo: DIFEL, EDUSP, 1973. p. 116-119.
ROBERTS, J. M. O livro de ouro da história do mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. p. 231
NOTA: O texto "O Império Romano sob os Antoninos (96-192)" não representa,
necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de
refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.
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