Mapa-mundi desenhado por Juan de la Cosa, que acompanhou Cristóvão Colombo à América durante sua segunda viagem, em 1493.
[A Ásia] Na China. Os imperadores governavam aí desde sempre auxiliados por funcionários a que chamavam "letrados", porque estes eram recrutados através de concursos muito difíceis. Era necessário que conhecessem milhares de caracteres da escrita chinesa. Os letrados, ou mandarins, não eram exactamente uma classe nobre, dado que os exames estavam abertos a todos. Mas aproveitavam-se do seu poder para adquirir terras.
Cidade Proibida (detalhe), China
Os chineses do norte tinham sido vítimas dos ataques de Gengis Khan. Imperadores mongóis tinham reinado em Pequim. Mas esses tinham sido derrubados por uma organização secreta, os turbantes vermelhos, apoiada por camponeses e barqueiros. Um dos chefes, filho de um operário agrícola e neto de um feiticeiro, tinha alcançado vitórias sobre vitórias e acabara de tomar Pequim. Fundou uma nova família imperial, uma nova "dinastia", os Ming. A China, já nessa altura, tinha mais de 100 milhões de habitantes e tinham-se construído grandes cidades. Algumas tinham um milhão de habitantes. Uma multidão efervescente desenvolvia as suas actividades diárias numa confusão de casas baixas. Alguns bairros especializavam-se em distrações: combates de boxe, teatro, saltimbancos e salões de chá onde se conversava e se jogava xadrez.
No Japão. Nas suas ilhas vulcânicas, os japoneses pensavam que o seu imperador descendia do Sol e acreditavam que as almas dos mortos habitavam as cascatas, os rios e os vulcões, lugares sagrados. Os japoneses tinham sido influenciados pelo budismo vindo da China, mas tinham juntado a este um grande número de deuses. Nesse país de guerreiros e camponeses, as grandes famílias disputavam entre si o poder. Um chefe de clã governava em nome do imperador com o título de shogun. Os guerreiros, ou samurais, deviam-lhe obediência.
Mas os japoneses eram também artistas. Eles tinham inventado uma arte original dos jardins. Servir o chá era um cerimônia com gestos muito estudados. O teatro era muito popular. Manipuladores de marionetas ganhavam a vida de aldeia em aldeia.
No sudeste asiático. O maior reino fora o dos Kmeres, um povo que se instalara desde o Neolítico. Toda a região era um celeiro de arroz, graças a um sistema de irrigação muito aperfeiçoado. Os Kmeres tinham sido influenciados pela Índia, pelos seus sábios e pela sua religião. O templo extraordinário de Angkor Vat, com as suas cinco torres que pareciam subir até ao céu, era dedicado ao deus hindu Vishnu. Mas os Kmeres, atacados por um povo vindo do norte, os Taí, tinham acabado de o abandonar.
Na Índia. Os muçulmanos tinham conquistado quase toda a Índia, e sultões muçulmanos, por vezes cruéis, reinavam em Deli. O sul dividia-se em Estados hindus. As populações muçulmanas e hinduístas misturavam-se e havia um grande número de línguas. Mesquitas luxuosas misturavam a arte árabe com a arte hindu.
O budismo tinha desaparecido da Índia que fora o seu lugar de nascimento, mas chegara às altas montanhas do Tibete. Criaram-se um sem-número de mosteiros e os monges, os lamas, que eram muito instruídos, tinham traduzido para tibetano os textos do Buda.
Na Ásia central e ocidental. No centro da Ásia, o antigo império de Gengis Khan tinha sido dividido em diferentes khanatos e alguns desses tinham-se tornado muçulmanos. O da Horda de Ouro estendia-se do mar Cáspio ao mar Negro e até o sul da Rússia.
A Ásia ocidental e o Médio Oriente eram regiões muçulmanas. Dois novos impérios tinham sido aí criados. Um na Pérsia, entre o golfo Pérsico e o mar Cáspio; o outro, o Império Otomano, sobre as ruínas do Império Bizantino. Os otomanos, turco-mongóis convertidos ao islamismo, tinham vencido o imperador e um sultão tomara o seu lugar em Constantinopla.
Para os reinos cristãos no leste da Europa, o novo sultão, o "Grande Turco" tinha-se tornado muito perigoso. O Império Otomano ir-se-ia estender até ao Egipto e pelas costas africanas do Mediterrâneo até às proximidades de Marrocos.
Um homem adulto e uma jovem maori, Louis Auguste de Sainson
[A Oceania] Após o seu primeiro povoamento, talvez há 60 000 mil anos, um grande número de ilhas, pequenas e grandes, disseminadas pelo oceano Pacífico, tinham conhecido várias migrações. Os navegadores europeus, que as descobriram pouco a pouco, distinguiram nessa multiplicidade de ilhas, para lá das grandes ilhas do oeste, a Micronésia, a Melanésia e a Polinésia. Instaladas há já vários milhares de anos, as populações dessas ilhas diferiam de umas das outras pelo seu aspecto físico (os melanésios eram negros e os polinésios eram talvez de origem mongol). A organização social, a sua relação com os deuses e as lendas poéticas sobre a criação do mundo variavam de grupo para grupo. Um ponto comum era a ausência de cidades e mesmo de verdadeiras aldeias. As sociedades da Oceania eram sociedades sem escrita. Havia chefes mas não verdadeiros Estados. Os habitantes da Oceania eram cultivadores e grandes pescadores.
Costumes africanos
[A África] A África era um mosaico de povos diferentes uns dos outros, Como por todo o lado, os chefes disputavam territórios, o que não impedia o comércio.
Ao norte do Sara. Marrocos era um grande reino. As cidades mais importantes eram Fez e Tunis. Numerosas rotas através do Sara ligavam o Norte de África muçulmano e branco aos reinos e chefias da África negra. O trajecto Fez-Tombuctu era um dos mais usados. As rotas eram percorridas por caravanas de mercadores e pelos nómadas tuaregues. Muitos intelectuais árabes, convidados para as cortes dos reinos da África ocidental, usavam essas rotas.
No sul do Sara. O Mali, que tinha sido muito próspero, acabava de ser vencido pelos songay do Níger. Por sua vez, estes criaram um vasto império onde o islamismo coabitava com as velhas religiões.
Mais ao sul, o país do Ioruba era próspero. Em torno da cidade santa de Ifé, um mundo de artesãos - oleiros, tecelões, marceneiros e ferreiros - estava em constante actividade. Artistas admiráveis esculpiam estatuetas e máscaras em madeira negra de ébano, em bronze e marfim. A arte era igualmente admirável no vizinho reino do Benin.
A costa oriental. O leste da África mantinha há muito relações com a Índia. Um grande número de cidades mercantis prosperava nessa região. Imigrantes árabes, persas, hindus e negros viviam aí lado a lado. Essas cidades desempenhavam um papel importante no comércio de escravos.
O Monomotapa, ao sul do rio Zambeze, era um vasto império, sucessor do Zimbabué. Este mantinha um importante comércio de ouro com a Índia e com a Pérsia. As cerimónias complicadas da corte do soberano impressionaram muito os portugueses, que foram os primeiros europeus a conhecê-los nos finais do século XV.
Guerreiros azetecas. Codex Mendoza, Artista desconhecido
[A América] Na América, dois grandes Estados acabavam de ser criados.
Na América do Sul. Após mais de um século, a tribo dos incas tinha imposto a sua dominação a um conjunto de povos muito diferentes. O admirável Império dos Incas administrava cerca de 10 milhões de pessoas e estendia-se através de um território equivalente ao dobro da França actual. Os incas não conheciam a escrita nem o ferro nem a roda. Faziam cálculos com a ajuda de nós de corda, os quipu. As terras eram partilhadas em lotes iguais. Admiráveis engenheiros tinham construído uma rede de estradas com pontes suspensas sobre os vales, impondo grandes tarefas à população. Mensageiros-corredores a pé revesavam-se cada 2 a 5 quilómetros para comunicarem as ordens do Inca, filho do Deus Sol, de um lado ao outro do império. O culto solar era obrigatório.
Na América Central. Vinda da América do Norte, a tribo dos méxicas ou azetecas tenha imigrado lentamente para a América central. Eles tinham imposto as suas leis a um conjunto de tribos e de cidades. A sua capital, México ou Tenochtitlan, era uma cidade admirável com a sua rede de ruas, jardins, mercados e enormes templos. A maior parte da população era composta de "homens comuns" que deviam obediência aos sacerdotes e aos senhores. Mas um "homem comum" podia-se tornar senhor se fizesse quatro prisioneiros.
No continente do Norte. Numerosas tribos, com costumes e línguas diferentes ocupavam quase todas as terras. Estas estavam espalhadas por aldeias ou pequenas cidades. Grandes caçadores nas planícies centrais, esses homens pescavam nos Grandes Lagos e cultivavam o milho e o feijão no Sudoeste. No leste, entre os Apalaches e o Missíssipi, os chefes que controlavam a religião e o comércio, bem como os artesãos ao seu serviço, viviam em verdadeiras cidades fortificadas. No interior, grandes cabeços em terra batida, os mound, foram construídos. Sobre esses mound, templos de madeira eram consagrados ao culto dos antepassados, dos dirigentes e dos sacerdotes.
Iluminura representando um académico medieval efectuando medições sobre um manuscrito. Miniatura de Richard de Wallingford, século XIV.
[A Europa] A Europa estava inteiramente dividida em principados e reinos, e os seus dirigentes eram muitas vezes parentes. Cada um desses Estados agrupava povos de língua e hábitos diferentes. E as suas fronteiras mudavam muitas vezes, de acordo com as decisões dos príncipes depois de uma guerra ou de um casamento.
Estados e cidades da Europa. No centro da Europa, o Santo Império Romano-Germânico agrupava um grande número de principados, cidades e bispados.
A oeste, os grandes reinos estavam em vias de se formar, em torno do rei de França, do de Inglaterra e, na Espanha, em torno dos reis católicos que iriam expulsar os judeus em 1492. Portugal era um pequeno reino que tinha conquistado a sua independência.
A Itália estava um pouco à parte e bastante dividida. Cidades como Génova, Florença e Veneza eram poderosas e independentes. Os portos do norte da Itália comerciavam com os países a leste do Mediterrâneo.
As cruzadas tinham favorecido esse comércio, e Veneza tinha obtido um verdadeiro império no Mediterrâneo.
Em Roma, o papa era o chefe dos Estados da Igreja. No sul, os espanhóis e os franceses disputavam o reino de Nápoles e a Sicília.
A Córsega era uma colônia de Génova, o porto italiano.
A leste da Europa, os reinos da Hungria e da Sérvia e o Império Búlgaro eram ameaçados pelos otomanos, depois de o terem sido, durante muito tempo, pelos bizantinos.
A Polônia e a Lituânia formavam um grande reino. Um principado estava em vias de se formar em torno de Moscovo: a Moscóvia.
Os ciganos, nómadas pacíficos percorriam a Europa. Após o final do século XV, tinham aparecido, vindos do leste, nómadas de um tipo desconhecido. Deslocavam-se em grandes famílias, em clãs. Esses viajantes percorriam todos os países da Europa. Em França, nessa época, chamavam-lhes "boêmios" ou ainda "egípcios" porque eles próprios acreditavam, o que era falso, que vinham do Egipto. Pensa-se hoje que eram originários do norte da Índia.
Eram cristãos. Mas toda a gente os achava estranhos, misteriosos. A princípio foram bem acolhidos e protegidos pelas cortes principescas. Nos tempos das guerras religiosas, houve homens que foram mesmo recrutados pelos vários exércitos. Mas, a partir do século XVII, os governos, o de Luís XIV em particular, começaram a persegui-los.
Uma Europa cristã. Há já vários séculos que a maior parte da Europa era uma "cristandade". Em princípio, excepto os judeus nos locais onde estes eram aceites, toda a gente era cristã - católica ou ortodoxa. A religião cristã unia as pessoas.
Os papas, durante muito tempo, estiveram em disputa com o imperador germânico. Mais tarde, no século XIV, instalaram-se em Avinhão (que pertencia ao conde da Provença, rei de Nápoles). E durante um momento houve mesmo dois papas, um em Roma e o outro em Avinhão, o que perturbou muito os católicos.
Livros em latim para os letrados. Durante muito tempo, as únicas pessoas verdadeiramente instruídas eram os padres ou monges. Após as reformas de Carlos Magno, em certos mosteiros especializados, monges copistas tinham escrito e ilustrado belíssimos manuscritos. Fabricavam assim todos os livros de que se podia dispor. Nos séculos XII e XIII, criaram-se universidades em toda a Europa.
As mais antigas eras as de Bolonha na Itália, de Oxford na Inglaterra e a de Paris. As mais recentes eram as de Viena na Áustria, a de Praga na Boémia e a de Cracóvia na Polónia. Os estudos eram mais ou menos os mesmos por todo o lado. O ensino fazia-se em latim, na língua da Igreja, bem como todos os seus escritos mais especializados. Estudantes e mestres circulavam livremente de uma universidade para outra, sem terem que usar passaportes nem cartões de identidade que, aliás, não existiam!
As universidades contribuíam para o progresso e aperfeiçoamento dos conhecimentos; estudava-se aí, entre outras coisas, os textos transmitidos pelos pensadores árabes e judeus.
"Livros em pedra" para o povo. De século em século, arquictetos, artesãos, pedreiros e escultores tinham edificado grandes mosteiros para a glória de Deus e soberbas igrejas do mesmo estilo em toda a Europa católica.
Nos séculos XI e XII, as igrejas de estilo românico eram baixas, sólidas e simples, ornamentadas muitas vezes de frescos ricamente coloridos. Entre os séculos XII e XV, os arquictetos construíram altas catedrais iluminadas por vitrais.
Esse novo estilo apareceu primeiramente nos arredores de Paris e foi em seguida chamado "gótico". As pessoas simples que não sabiam ler constituíam a grande maioria. Por cima das portas das igrejas, esculturas impressionantes, verdadeiros "livros de pedra", transmitiam-lhes o ensinamento cristão. Estas esculturas representavam muitas vezes o "Juízo Final", quando Cristo viria uma vez mais à Terra para separar os bons e os maus. Os bons eram acolhidos no Paraíso enquanto os maus iriam penar e sofrer suplícios horríveis para o Inferno. Tal era então a crença dos cristãos.
Uma Europa muçulmana. Os muçulmanos estiveram presentes na Espanha durante 700 anos. Seriam, em breve, definitivamente expulsos. Mas, no outro extremo da Europa, outros muçulmanos, os otomanos, instalavam-se em Constantinopla, no lugar do imperador bizantino. Estes dominavam os gregos, os sérvios e os búlgaros. Os sultões otomanos iriam permanecer mais de 400 anos no poder. Um certo número de eslavos cristãos converteu-se ao islamismo.
CITRON, Suzanne. A história dos homens. Lisboa: Terramar, 1999. p. 159-171.
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