Pintura que mostra o lendário almirante chinês Zheng He ou Cheng-Ho (1371-1433)
A partir do Renascimento, o controle das rotas marítimas se
torna paulatinamente uma obsessão das grandes potências europeias. O Ocidente
empurra cada vez mais para leste suas frotas e suas ambições. Ao contrário, a
navegação no sentido leste-oeste permanece pouco desenvolvida, como no caso da
China.
A China se basta a si mesma e se contenta com uma navegação “via
correio”. No entanto, os chineses inventaram a bússola e o leme, assim como
barcos com até sete mastros e medindo cento e trinta metros de comprimento (a
caravela de Cristóvão Colombo media apenas trinta metros). É com essas embarcações
que os navegadores chineses entregam grandes carregamentos de suas famosas
porcelanas azuis na Índia e no golfo Pérsico. No século XV, entre 1405 e 1433,
sob a liderança do almirante Cheng-Ho, sete expedições são organizadas para o
Oeste. Trata-se na verdade de uma espetacular demonstração de força e prestígio
destinada a exibir estrepitosamente a deslumbrante civilização do “Império do
Centro”. Em cada escala, os chineses cumulam seus anfitriões com presentes,
mediante reconhecimento cúmplice da “abundância e da generosidade do reino
central...”, mas também pagamento de um tributo destinado a marcar sua admiração
pela China. Porém, o imperador Yung, que apostou nessas grandes expedições marítimas
para estender a influência da China ao oceano Índico, é o único soberano da
dinastia Ming a montar tais empreendimentos. Seus sucessores não o seguirão
nesse caminho e se recolherão timidamente no interior de suas fronteiras,
fechando a China durante séculos às influências externas. E é Portugal que vai
agora tomar a iniciativa de escrever uma página grandiosa da legendária história
das especiarias.
PELT, Jean-Marie. Especiarias & ervas aromáticas: história,
botânica e culinária. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. p. 40-41.
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