Lekythos, 550-530 a.C. Representação de duas mulheres tecendo. Artista desconhecido
Texto 1. Uma importante historiadora francesa, Michelle Perrot, estudiosa da história das mulheres, revela que, no mundo greco-romano, espaço público e cidadania eram uma exclusividade do universo masculino, no qual as mulheres sempre estiveram deslocadas, restando-lhes apenas a esfera privada. Nesta, suas funções eram bem delineadas: procriação, educação das crianças, trabalhos domésticos, manutenção do culto familiar e preservação do oikos, isto é, da casa paterna para os gregos antigos, na qual havia inclusive um espaço reservado a elas, o gineceu. Mesmo sendo esposa ou filha de um cidadão, no mundo grego essa condição não lhe garantia o direito de cidadania. Não raramente era considerada um bem de troca, como se fosse uma riqueza móvel, pertencente a um homem. Essa realidade era mais comum entre as famílias mais ricas, enquanto nas mais pobres o trabalho feminino (tecelagem, por exemplo), realizado geralmente no espaço do oikos, era essencial para garantir a sobrevivência. BERUTTI, Flávio. Caminhos do homem. Curitiba: Base Editorial, 2011. p. 72.
Texto 2. As mulheres livres [...] não tinham cidadania. Algumas evidências também sugerem que levavam uma vida bastante confinada e reclusa, mas havia diferença de costumes. A maioria dos gregos parecia pensar que as moças espartanas recebiam excessiva liberdade (e censuravam muito os calções de ginástica muito curtos com que elas se exercitavam junto com os rapazes), enquanto as mulheres das casas ricas de Atenas, por exemplo, viviam em locais separados, trancadas do resto da casa à noite. Isto pode sugerir a reclusão de um harém oriental, mas o objetivo provável era o de impedir que os homens assediassem as criadas que, grávidas ou com filhos pequenos, teriam menos utilidade como criadas, e haveria mais bocas para alimentar. Contudo, também se sabe que respeitáveis mulheres casadas provavelmente usavam véus para sair de casa, de onde não saíam sozinhas, e não deviam falar com ninguém que encontrassem. Os gregos gostavam de festas - a sua cerâmica o demonstra -, mas parece que não havia atmosfera livre de reuniões mistas de cavalheiros e damas das pinturas dos túmulos egípcios; os homens gregos nunca se encontravam com as mulheres de seus amigos. Se efetivamente encontrassem uma mulher numa festa, ela por certo seria uma cortesã profissional, intitulada de hetaira. Algumas ficaram famosas, pois seus nomes chegaram até nós e, mais do que prostitutas, eram hábeis no canto, na conversa e na dança - embora não fossem nada respeitáveis, já que os seus encantos estavam à venda.
Fora de casa, nenhuma atividade era oferecida a uma dama grega de boa família. As mulheres pobres podiam trabalhar para os outros, mas uma dama não. Nenhuma mulher podia se tornar enfermeira, atriz, escriba ou similares, porque estas profissões não existiam para as mulheres. Parece que, em geral, não se considerava que as moças merecessem ser educadas. Em casa, no entanto, tinham muito o que fazer. As mulheres gregas não apenas lavavam a roupa da família, mas as faziam, provavelmente depois de tecerem o material a partir da linha que elas mesmas fiavam. A administração da casa era complicada e consumia tempo.
Uma das razões pelas quais as mulheres de Atenas [...] tinham menos direitos legais do que os seus companheiros era que a sociedade grega [...] pensava em termos de família e não de indivíduos. A sociedade era patriarcal, as mulheres não podiam possuir propriedades, administrar negócios, e eram sempre tuteladas pelos maridos ou parentes masculinos mais próximos. Se uma filha fosse a única herdeira da propriedade do pai, o seu parente masculino mais próximo tinha direito e era encarregado de reclamá-la em casamento para assegurar que a propriedade permanecesse na família. [...] sabemos que as mulheres gregas iam ao teatro em Atenas; devem ter assistido a Antígona, Electra, Jocasta, Medéia, grandes personagens femininos da tragédia grega, e a muitos outros variados papéis femininos. Elas não os compreenderiam se fossem simples escravas de cabeça oca. Nos túmulos e vasos há figuras de esposas e mães falecidas se despedindo de suas famílias e sugerindo um afeto profundo; [...] Homero disse que "não há nada mais belo do que um homem e sua mulher vivendo juntos uma verdadeira união, compartilhando os mesmos pensamentos" e todos os gregos educados devem ter lido isto.
Quando pequenas, as crianças gregas eram educadas pelas mães, mas como os meninos deviam ir para a escola (as meninas não), eles saíam bem cedo dos cuidados maternos. A educação recebida por um menino grego de uma família de recursos dava grande ênfase à memorização [...] e à literatura, junto com a escrita, a música e a ginástica, constituíam a maior parte do currículo. O objetivo era formar um "homem completo", dar-lhe uma educação abrangente, que servisse a alguém que assumiria o seu lugar na pólis, compartilhando os seus valores e gostos, em vez de treiná-lo em habilidades específicas - algo que os gregos achavam melhor deixar para os escravos. [...] ROBERTS, J. M. O livro de ouro da história do mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. p. 195-197.
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