Sir Francis Drake, o maior corsário da história. Marcus Gheeraerts
Na região do Caribe dos séculos XVI-XVIII, o flibusteiro era
um pirata, um irmão da costa, um saqueador dos mares, produto de um
conglomerado humano cosmopolita. Voltaire, em seu ensaio “Essai sur les
moeurs”, escreve: A França só entrou nessa partilha [de Santo Domingo] com a
Espanha pela audácia [...] de um povo novo que o acaso compôs de ingleses,
bretões e, sobretudo, normandos. Eles foram denominados bucaneiros, flibusteiros.
Esses marinheiros, revoltosos e desertores, seduzidos pelo clima das Antilhas,
decidiram expulsar os bandos selvagens da parte norte de Santo Domingo, em vez
de voltar às brumas do norte. Eles passaram a comer carne assada em fogo de
lenha, cantando ao redor do fogo, e fazendo barulho à maneira dos caribenhos,
isto é, fazendo boucan (barulho). No fim da primavera, os flibusteiros do mar
das Antilhas caçavam os galeões espanhóis carregados de ouro e prata. A bordo
de navios pequenos e rápidos, armados com poucos canhões lançadores de pedras,
esperavam suas presas fumando tabaco. De surpresa, faziam a abordagem,
geralmente em pares de amigos íntimos, donde veio o nome irmãos da costa. A
arma branca era a preferida, a se acreditar na imagem do pirata com a faca
entre os dentes. O canhão era supérfluo. Em 1696, um flibusteiro confiou ao
padre Labat, um missionário francês que reuniu suas observações sobre a vida
dos bucaneiros em Voyage aux îles de l'Amérique, que sua artilharia de seis
minúsculos canhões era mais por cerimônia que por necessidade, já que eles só
empregavam as duas peças de caça quando combatiam um barco pela frente ou por
trás; seus fuzis bastavam para importunar o adversário até que seu capitão
julgasse conveniente fazer a abordagem.
A tática do pirata do mar das Antilhas se resumia a uma
única palavra: abordagem. O êxito dependia da determinação, ou melhor, da
temeridade dos homens do navio. Numerosos, eles manejavam o sabre de abordagem
e o punhal. Combatiam aos pares, porque sempre se juntavam em duplas e se
chamavam, um ao outro, de matelot [marinheiros], sendo mattenoot aquele que
compartilhava alternadamente a mesma rede que seu irmão. Vitoriosos, esses
celibatários sem família faziam a festa, embebedavam-se à vontade de rum da
Jamaica e partilhavam amigavelmente as mulheres indígenas ou pilhadas.
A pirataria é uma mitologia composta de ganhos
espetaculares, de liberdade absoluta em locais insulares e encantadores. Por
isso a perenidade da pirataria ou, melhor, das piratarias ao longo das eras,
porque cada época engendrou seus candidatos a piratas: marinheiros e
revoltosos, clandestinos e renegados, apátridas e flibusteiros, marginais e
rebeldes. O fato de o pirata travar uma guerrilha sangrenta era quase ignorado.
Embora a literatura celebre a pirataria desde a Antigüidade romana – o pirata é
um dos personagens dos romances da época imperial: erigido, muitas vezes, em
modelo, uma espécie de Robin Hood do mar, ele era mais facilmente encontrado
nos livros de aventura do que na realidade. O pirata era uma pessoa má, um
bandido, um marginal associado por razões pouco confessáveis a outros marginais
– indisciplina, deserção, motim, crime, assassinato, rapina, a avidez de ganho.
Com os outros marginais, formava uma sociedade, cuja hierarquia repousava na
força, qualidade reconhecida por todos, por ser a única fonte do butim. Ele era
astuto, feroz e carregava a inteligência do mal. Entretanto, essa sociedade,
como os bandos e o meio social, possuía regras próprias, disciplina interna,
chefe (como Olonnais, Morgan, Grammont) reconhecido por sua coragem, intrepidez
e faro. O chefe era temido por sua ferocidade, e respeitado por seu senso de
justiça, porque sabia repartir eqüitativamente as presas (Labat). Tudo isso em
teoria, naturalmente, porque são numerosos os exemplos discordantes. Foi o que
aconteceu depois do saque do Panamá. Os flibusteiros ficaram literalmente a ver
navios quando Morgan fugiu com a maior parte do butim. Sem nenhum escrúpulo ou
constrangimento, Morgan abandonou seus homens sem víveres e sem navio!
As mulheres faziam parte do butim conforme revela Oexmelin, cirurgião dos
flibusteiros, autor de uma Histoire des aventuriers et des boucaniers
d'Amérique (1686): Quando dois bucaneiros encontram uma bela mulher, para
evitar a disputa decidem quem casará com ela lançando uma moeda. Casará aquele
que for favorecido pela sorte, mas seu camarada era recebido na casa: a isso se
chamava a matelotage... Outro costume: o sobrevivente dos dois era o herdeiro
de fato de seu companheiro. O capitão e seus homens firmavam um contrato ou
chasse-partie, no qual tudo era previsto para a duração de uma campanha: cada
homem levava seus víveres, suas armas, suas munições. O soldo de cada
mercenário saía do butim. Sem butim, sem soldo. O capitão retinha uma parte
para amortizar as despesas do navio, além do soldo do carpinteiro (100 a 150 piastras) e do
cirurgião (200 a
250 piastras), e recebia até seis vezes a parte de um marinheiro (a piastra era
uma antiga moeda de prata, de valor variável de acordo com o país e a época). O
imediato tinha direito a duas partes. O marinheiro a apenas uma. O grumete, a
meia. Os feridos e estropiados recebiam 600 piastras pelo braço direito; 500
pelo esquerdo ou a perna direita; 400 pela esquerda; 100 por um olho ou um
dedo. Ao final da campanha, cada membro da tripulação ganhava a liberdade
levando sua parte. Naquele momento, cessava a autoridade do capitão.
O pirata, seja qual for a época considerada, o teatro de
operações escolhido ou o butim alcançado, era um bandido voraz. Ele atacava
outro navio no mar, se possível ricamente carregado, que pilhava depois de
eliminar a tripulação, vencida pela abordagem e morta, porque não havia
quartel. Nessa característica, o pirata se parecia com os ladrões de estrada,
que assaltavam carruagens e diligências em terra. Em outros casos, o bucaneiro
desembarcava numa terra ocupada, transformando, então, a imagem clássica do
pirata dos mares em outra, a de bárbaro ou de barba-ruiva. No primeiro caso, trata-se
do frisão (natural da Frísia, região que hoje faz parte dos Países Baixos) que
arrasava as costas do mar do Norte e do Canal da Mancha; do bárbaro que pilhava
as costas do mar Negro e devastava o Egeu; do franco embarcado nas costas do
Ponto Euxino (antigo nome do mar Negro) para devastar as da Sicília e da
África. O barbaresco, vindo da África do Norte, arrasava os grupos nas costas
cristãs da Provença e do Languedoc (na antiga França) ou da península italiana.
O flibusteiro das Antilhas evoluiu muitas vezes para esse tipo de pirataria
quando, em vez de atacar navios, passou a atacar as ricas cidades
hispano-americanas: Vera Cruz e Campeche (no México), Panamá,
Cartagena-das-Índias (Colômbia).
Os piratas faziam o reconhecimento da costa na proximidade
de um estreito, numa rota marítima freqüentada. Tendo necessidade de uma base
logística – água potável, víveres, madeira para lenha e reparos navais,
minicanteiro de reparos ou construção –, davam preferência às ilhas. Situadas
em encruzilhadas, a ilhas permitiam vigiar as rotas marítimas. Os piratas
gostavam de ficar ao largo da Citera antiga (ilha grega do mar Egeu, entre o
Peloponeso e Creta, também conhecida como Cérigo), da Sicília, da Sardenha, das
Baleares ou da Córsega. Malta, Creta, Tinos foram ninhos de piratas. Os
Grimaldi enriqueceram como piratas a partir de seu rochedo em Mônaco. [...]
Em La Tortue, a principal base pirata nas Antilhas durante o
século XVIII, os bucaneiros esperavam o navio mercante que passava, isolado ou
em comboio, com guarda ou desprotegido, e se lançavam sobre a presa com um
navio veloz: hemolia, dos gregos; lemboi, dos bucaneiros da Ilíria (região
balcânica próxima ao Adriático), bergatins (escuna de velas quadradas de dois
mastros) dos barbarescos, flibots (pequena embarcação com dois mastros, com
fundo chato) dos flibusteiros. Na ponta do mastro, um crânio e duas tíbias
embranquecidas pelo sol se destacavam sobre um pavilhão negro ondulando ao
vento. Todos os navios-piratas se pareciam: lastro leve e velocidade aumentada
pelos cascos untados com sebo para diminuir a resistência da água. Pequenas,
rápidas, fáceis de manobrar, repletas de homens e munidas de pouca artilharia,
essas embarcações precisavam correr os mares para alcançar suas presas,
ultrapassá-las e forçá-las a parar. Uma vez pilhado o adversário, era preciso
repartir depressa o butim e procurar refúgio em águas inacessíveis para os
grandes navios oficiais, no meio de recifes, de rochedos e em locais de grande
profundidade.
O pirata era, sobretudo, aquele que perseguia e atacava
qualquer navio no mar, sem nenhuma consideração por pavilhão. Para o
flibusteiro, não existiam amigos ou aliados. Assim pensava o velho Abraham
Duquesne (1570–1635), pirata normando que capturava navios mercantes bretões
sob pretexto de serem estrangeiros. Richelieu teve a maior dificuldade de se
fazer obedecer por esse mundo tão matizado do mar, tão distante das leis e das
regras de terra.
O pirata era um perigo para todos aqueles que cruzavam seu
caminho – foram responsáveis pelo nascimento do seguro marítimo –, mas era
também um perigo para a civilização, porque se colocava fora da norma. Sem
pertencer a um Estado ou a uma estrutura, o pirata era, enfim, o único homem
livre das sociedades pré-revolucionárias. Políticos de todos os tempos
combateram esses marginais armados, perigosos para os marinheiros, perigosos
para os Estados, perigosos para as trocas, para os comércios longínquos e para
o grande negócio marítimo. Corinto moveu guerra aos piratas. Pompéia também,
assim como Luís XIV, mais tarde, no Mediterrâneo, porque no Atlântico, o Très
Chrétien se aliou aos flibusteiros para atacar o rico entreposto espanhol de Cartagena-das-Índias
em 1697. Os Estados tiveram, enfim, uma atitude excessivamente ambígua para com
os piratas: em época de paz, quiseram erradicar a pirataria e comerciar
livremente, assegurando a liberdade dos mares; mas, se viesse a guerra,
procuravam seduzir os excelentes soldados que mantinham tal ou qual base de
apoio (Santo Domingo ou a Ilha de la Tortue). Essas bases eram, então, cedidas
aos piratas e, com isso, a pirataria está na origem de numerosas colônias
inglesas e francesas na região do Caribe.
Uma das principais causas do desenvolvimento das frotas de
guerra permanentes dos Estados, quaisquer que fossem, foi a eliminação da
pirataria. Tucídides fala de expedições atenienses contra ninhos de bucaneiros.
Plutarco evoca a luta contra os dolopes (antigos habitantes da Tessália) que se
tornaram corsários por falta de recursos agrícolas. Otaviano lutou ferozmente
contra os ilirianos em 35 da nossa era. Rodes chegou a criar um tipo de
embarcação especial para dar combate aos piratas, a trihemolia, mais rápida que
a trirreme (galera grega com três fileiras de remadores sobrepostos), e Luis
XIV mandou construir galeotas (pequena galé movida a remos e a vela) com bombas
específicas, em 1678, para bombardear Argel e Trípoli. A hansa (associação
comercial da Idade Média) jamais se cansou de tentar libertar o mar Báltico e o
mar do Norte de toda pirataria desde 1168.
A pirataria não foi, pois, um tema de romance. Foi um caso
militar, que exigiu despesas dos Estados para combatê-la. Ela exigia uma
resposta: navios, guerras, leis. Todos os litorais, todas as ilhas, foram
obrigados a fazer pesados sacrifícios financeiros para construir fortins e
torres (na Córsega), para pagar torregiani (os guardas de torres) e organizar
milícias. É verdade que a pirataria foi um reflexo da fraqueza dos Estados, mas
também pôde se tornar – fato menos conhecido – pirataria de Estado. Foi
assentada na pirataria que a Inglaterra dos Tudor fundou seu poderio, a partir
do século XVI, atacando os ricos galeões espanhóis nas costas americanas. Foi
atacando navios franceses, em plena paz, que os ingleses asseguraram a vitória
na Guerra dos Sete Anos (1756-1763), privando a armada francesa dos marinheiros
capturados em mais de 250 navios mercantes desde 1755. Entre 1740 e 1744,
franceses e ingleses já haviam começado as hostilidades. Antes da guerra,
portanto, que foi declarada apenas em 15 de março de 1744. Feito prisioneiro
nessas condições, em 11 de novembro de 1755, no golfo da Gasconha, o visconde
Joubert de Bouville, bisneto de Demarets e da irmã de Colbert, recusou-se a ser libertado
pelos ingleses na qualidade de prisioneiro de guerra, e preferiu pagar seu
resgate!
A pirataria é um tema difícil, tratado muitas vezes como
mera epopéia caribenha. O pirata viril e bronzeado, de camisa rasgada, olho de
vidro e perna de pau, com o sabre de abordagem na mão, de pé diante dos cofres
de ouro e pedrarias, é quase inteiramente uma imagem de Epinal.
A pirataria não tem idade de ouro, nem idade simplesmente: é
um fenômeno inscrito nos tempos. Se os habitantes da Etólia, na Grécia antiga,
fizeram dela um instrumento de política exterior, chegando a firmar tratados de
garantias contra suas próprias ações mediante indenizações com suas futuras
presas, a pirataria existe ainda hoje. Está presente nos mares da China, e a
espoliação fraudulenta de companhias de seguro continua sendo praticada sob o
nome de “barataria”, um tipo de pirataria, pois a carga é roubada, o navio
destruído, rebatizado ou escamoteado, e o prêmio do seguro recebido!
Todo aquele que acumulasse muitas capturas e butins
tornava-se herói rapidamente aos olhos de seus camaradas; aos olhos das pessoas
honestas, um terror. Desses heróis aterrorizantes, as fontes medievais
conservaram os nomes, ou melhor, as façanhas: Henri le Pêcheur, conde de Malta
em 1218; Benedetto Zaccaria, pirata, comerciante e, depois, almirante genovês;
Roger de Lauria, pirata aragonês que saqueou o litoral do Languedoc à Sicília
no século XIII; Roger de Flor, templário catalão, almirante da Sicília, que
devastou o Egeu no século XIV.
A época moderna, dos séculos XVI a XVIII atlânticos, não
teve, porém, o monopólio da pirataria. O pirata das plagas caribenhas do
período elisabetano ou colbertiano não era um homem novo: era herdeiro de uma
multidão de aventureiros, produto dos invasores de antanho, porque toda invasão
(normanda, saxônia ou sarracena) já fora uma empresa de pirataria. Como
ocorrera antes, a época moderna procurou se defender do pirata, fosse armando
com canhões seus navios mercantes, fosse escoltando-os com navios de guerra.
Por conta dos piratas, o direito internacional foi endurecido, e todo capitão
que conseguisse capturar corsários no mar tinha o direito de enforcá-los no
ato, na verga mais alta do navio apresado. Mas quando as nações se tornaram
piratas, como a Inglaterra de Elizabeth I, os sucessos obtidos sobre os galeões
espanhóis pelos Drakes e Raleighs foram tais que já não se podia limitar a
pirataria à noção de empresa privada.
A pirataria de Estado caracterizou a Inglaterra dos Tudor,
que associava capitais públicos a capitais privados para apresar sua parte dos
metais preciosos na rota transatlântica do império espanhol.
Entre 1560 e 1620, da morte de Maria Tudor (1558) à de
Elisabeth (1603), essa pirataria conheceu um de seus períodos de glória e de
lucro. Nos anos 1550-1570, franceses e, sobretudo, ingleses se atiraram sobre o
comércio espanhol, prejudicando suas rotas e limitando seus lucros, mas a
porcentagem de perdas resultantes disso não foi comparável às causadas pelas
tempestades. O impacto foi mais psicológico do que econômico, ainda que Dürer
tenha se demorado em Anvers apreciando os tesouros saqueados por franceses de
um navio espanhol que transportava uma parte dos tesouros do imperador asteca
Montezuma.
Como essa pirataria parecia mais lucrativa do que na
realidade, as grandes potências não pararam de engajar esses guerreiros dos
mares para transforma-los em corsários. Foi o caso dos marinheiros de Dieppe,
de La Rochelle, de Saint Malo, mas também de Argel, de Túnis, de Trípoli, de
Salé, pilares de regências magrebinas. São comuns as objeções, injustas, aos
marinheiros, e a sua classificação arbitrária em três categorias: os piratas,
os corsários, os oficiais de marinha. Nada é mais falso: o pirata era
certamente um bandido, mas tão logo o rei reconhecia suas competências, o
admitia ao seu serviço, concedia-lhe autorização para perseguir o inimigo –
eis, então, o nosso pirata transformado em corsário. Se o antigo bandido usando
o mesmo sabre de abordagem obtivesse êxito em sua nova carreira de corsário,
era promovido a capitão dos navios do rei, como Abraham Duquesne, o Velho,
pirata temível, corsário talentoso e, depois, respeitável oficial de Luis XIII!
Ao longo da vida, Ducasse, nascido huguenote, pôde ser o chefe dos flibusteiros
de La Tortue, tenente-general das armadas navais e o velho calvinista que
morreu condecorado com o Tosão de Ouro pelo Rei Católico! Ducasse é o exemplo
típico do flibusteiro oficial-general. Graças ao dinheiro cobiçado, apresado e
confiscado na região do Caribe, ele pôde dar um dote de 400 mil libras a sua
filha única, e fazer dela a duquesa de La Rochefoucauld! Esplêndida promoção
conseguida com o aporte fornecido pelos 1.600 flibusteiros de Santo Domingo,
apanhados de passagem pelo barão de Pointis, em 1697, em sua excursão para
saquear Cartagena-das-Índias. Os flibusteiros participaram da campanha
navegando ao lado da frota do rei. Ali, além de nove milhões em prata ou em
barra, o que foi tomado em pedrarias e prataria é inconcebível, escreveu
Saint-Simon. Cartagena-das-Índias era o entreposto mais rico de toda a América
Latina.
Os piratas formavam uma sociedade cosmopolita. Vindos da
Holanda, da Zelândia, da Frísia, de Flessingue, de Dunkerque, de Honfleur, de
Saint-Malo, do País Basco, da Provença ou da Bretanha, se associaram por toda
parte em barbarescos, tratantes do mar, flibusteiros da região antilhana,
irmãos da costa, piratas de Formosa sob as ordens do rei Koxinga, estabelecido
na ilha em 1661. Piratas, eram também contrabandistas, porque era preciso
escoar as cargas capturadas, no mais das vezes bens comestíveis, madeira,
conservas salgadas, peixe seco – mais do que pérolas, esmeraldas e rubis. É
fato que no meio do triângulo das Bermudas, as “ilhas do tesouro” fascinavam,
as minas de cobre de Cartier foram tomadas por minas de ouro, a mica por
diamantes, e a Louisiana de Law (John Law foi o criador da Companhia Francesa
das Índias) prometia rochedos de diamantes, mas a realidade foi bem outra. A
pirataria se transformou, muitas vezes, num comércio na ponta da lança (isto é,
em contrabando) que se fazia com as colônias ibéricas da América do Sul e
Central. Daí a sedentarização dos piratas, o que contribuiu para o povoamento
das Antilhas.
As nações civilizadas acabaram sendo mais ladras que os
piratas. Em 1697, os flibusteiros tiveram uma grande discussão com Pointis
exigindo seu quinhão, cuja maior parte pretendiam contrabandear. Percebendo que
o barão, oficial-general de Luís XIV, zombava deles, retornaram a Cartagena,
pilharam-na de novo, e fizeram um rico butim, encontrando muita prata, diz
ainda Saint-Simon.
A pirataria desapareceu da região do Caribe ao fim da
Regência, devido à onipresença da armada real. Os flibusteiros abandonaram esse
ofício que se tornara perigoso demais, para investir, graças a seus butins, nas
vastas propriedades dedicadas à grande plantação açucareira.
Michel Vergé-Franceschi é professor de História Moderna da
Universidade de Savóia e publicou grande número de obras, entre as quais
Histoire de Toulon, PortRoyal. Ele dirigiu o Dictionnaire d'Histoire Maritime e
é laureado pela Academia Francesa e pela Academia da Marinha. In: Revista História Viva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário