Durante o período das grandes invasões, terminada a missão da Roma imperial, começou a missão da Roma cristã, cidade onde, segundo as tradições religiosas, o apóstolo São Paulo teria lançado os fundamentos da Igreja.
A formação de vários reinos germânicos provocou em toda a Europa desordem administrativa, caos econômico e político, bem como o enfraquecimento de antigos valores culturais.
Nesse quadro agitado e confuso, apenas a Igreja cristã conseguiu assegurar certa ordem e disciplina, proteger e socorrer populações indefesas, assumindo papel político de destaque, preservando da destruição o legado cultural greco-romano. A partir desse momento, a Igreja, com sede principal em Roma, denominou-se católica, isto é, universal.
* Organização da Igreja. A partir do século II, de acordo com a expansão cada vez mais intensa da fé cristã e o contínuo aumento de congregações de fiéis, tornou-se necessário dar à Igreja uma organização uniforme, capaz de estruturá-la de forma disciplinada e hierárquica.
A paróquia constituía a menor congregação de fiéis, a ela pertencendo os moradores de pequena zona urbana ou rural. O centro da paróquia era a igreja, nome dado à basílica onde se celebrava o culto religioso. Dirigida por um padre (pároco), aí eram ministrados os sacramentos, oficiadas missas, pelo menos aos domingos - com acompanhamento de hinos - realizadas as grandes festas cristãs, Natal, Epifania ou Reis, Páscoa, Assunção, Pentecostes.
Na igreja paroquial eram também guardadas as relíquias trazidas por fiéis de suas peregrinações a lugares santos, na Palestina, a túmulos de apóstolos ou mártires.
A diocese agrupava, sob a direção de um bispo, várias paróquias, sendo sua sede um núcleo urbano de projeção. O bispo, que gozava também de grande prestígio político, providenciava a distribuição de esmolas e alimentos aos necessitados e, em caso de perigo, assumia a direção da cidade. Em cada antiga província romana um arcebispo dirigia os bispos encarregados das dioceses e os reunia, duas vezes por ano, em Concílios, onde eram tomadas decisões visando a assegurar unidade de fé e unidade de ação.
O Papa. Todos os bispos, inicialmente, eram chamados papa, isto é, pai; a partir do século V, porém, esse título passou a ser reservado unicamente ao bispo de Roma, tido - na qualidade de chefe da maior congregação cristã - como sucessor de São Pedro. A primazia do bispo de Roma custou a ser aceita, mas em fins do século VI foi reconhecida pelos bispos do Ocidente, graças sobretudo à ação enérgica, ao senso administrativo seguro e à habilidade política do papa Gregório o Grande, disciplinando a estrutura da Igreja, definindo a forma do culto, controlando a obediência dos chefes religiosos.
Através de uma estrutura cada vez mais firme e centralizada, enriquecida por grandes doações de terras, a Igreja foi assumindo papel político preeminente e consolidando gradativamente seu poder. Para tanto contribuiu também o movimento monástico, que se desenvolvera paralelamente ao movimento organizador das instituições eclesiásticas.
* Os monges e os mosteiros. O movimento monástico começou no século IV e, partindo do Oriente, expandiu-se rumo ao Ocidente. No período das invasões, muitos cristãos, homens e mulheres, procuraram refúgio e tranquilidade em uma vida rude e simples, afastada de aglomerações urbanas, e formaram comunidades isoladas, vivendo da oração, da caridade dos fiéis e do trabalho agrícola de seus membros.
Assim surgiram os primeiros conventos e mosteiros, dirigidos por um abade, nas comunidades masculinas, ou uma abadessa, nas femininas. Em 525 São Bento fundou, na Itália, o mosteiro de Monte Cassino e criou a Ordem Beneditina (de Benedictus, seu nome em latim). A fim de garantir disciplina e ordem à vida comunitária, estabeleceu normas que serviram de modelo para posteriores reformas da vida monástica e para outras ordens religiosas aparecidas mais tarde (Cistercienses, Cluniacenses, Franciscanos, Dominicanos, Carmelitas, Clarissas, Agostinianos. Segundo a regra beneditina, os monges eram obrigados ao voto de pobreza, castidade, obediência a seus superiores; e os mosteiros deviam bastar-se a si mesmos: possuir terras para cultivo e pastoreio, pomar, horta, poço e construções reunidas em torno de uma área central - claustro - a igreja ou capela, a cozinha, o refeitório, as oficinas, as celas (diminutos dormitórios individuais). Frequentemente os mosteiros davam assistência a gente de fora, mantendo um hospital e uma hospedaria para abrigo de viajantes.
O papel dos mosteiros, na Idade Média, foi muito importante dos pontos de vista religioso, econômico e cultural.
Cistercienses no
trabalho em um detalhe da vida de São Bernardo de Claraval, Jörg Breu, o Velho
Do ponto de vista religioso, o movimento monástico, em sua expansão pelo Ocidente, contribuiu para cristianizar os povos germânicos. Dos mosteiros partiram monges missionários para fundar novas comunidades religiosas em terras distantes, nelas difundindo os ensinamentos cristãos: São Patrício (Irlanda), Santo Agostinho (Inglaterra), São Bonifácio (Germânia) e muitos outros. E foi nos mosteiros que se formaram as personalidades de grandes figuras do clero, destinadas a alcançar especial projeção em sua época.
Do ponto de vista econômico, os mosteiros, através do trabalho organizado e metódico de seus membros, sobretudo na lavoura, muito contribuíram para melhorar a economia enfraquecida de várias regiões da Europa e para a formação de aldeias e lugarejos.
Do ponto de vista cultural, foram os mosteiros, durante séculos, os únicos centros conservadores da cultura antiga. Monges copistas transcreveram sobre pergaminho textos clássicos gregos e romanos, "iluminando-os", isto é, ornando-os com iluminuras. Possuindo bibliotecas próprias, os mosteiros eram também centros de ensino: neles eram educados rapazes, exercitando-se na leitura e na escrita ou preparando-se para a carreira eclesiástica; neles muitos aprendiam diversos ofícios, neles eram aperfeiçoadas técnicas agrícolas. Por longo tempo, até o florescimento da vida urbana e a fundação das primeiras universidades, os mosteiros foram a única instituição transmissora de cultura e de informações valiosas que chegaram até nós sob a forma de relatos históricos, as Crônicas e os Anais.
HOLLANDA, Sérgio Buarque de (org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974. p. 126-9.
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